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quarta-feira, 2 de julho de 2014

LIÇÃO 1 - COM SUBSIDIOS - A FÉ QUE SE MOSTRA PELAS OBRAS


Lições Bíblicas CPAD     -    Jovens e Adultos
 3º Trimestre de 2014
 Título: Fé e Obras — Ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica

Comentarista: Eliezer de Lira e Silva

Lição 1: Tiago — A fé que se mostra pelas obras
Data: 6 de Julho de 2014

TEXTO ÁUREO
 “Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2.17).

VERDADE PRÁTICA
 A nossa fé tem de produzir frutos verdadeiros de amor, do contrário, ela se apresenta falsa.

LEITURA DIÁRIA
 Segunda - Hb 10.24  As boas obras devem ser estimuladas
 Terça - 1Tm 6.17-19  As boas obras e as riquezas do mundo
 Quarta - Tg 2.14-17  É possível haver fé sem as obras?
 Quinta - Ef 2.8,9  Não somos salvos pelas boas obras
 Sexta - Ef 2.10  Salvos praticam boas obras
 Sábado - Rm 12.9,10  Amor cordial e fraterno

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Tiago 2.14-26.

14 - Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo?
15 - E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano,
16 - e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?
17 - Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.
18 - Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
19 - Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também os demônios o creem e estremecem.
20 - Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?
21 - Porventura Abraão, o nosso pai, não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?
22 - Bem vês que a fé cooperou com as suas obras e que, pelas obras, a fé foi aperfeiçoada,
23 - e cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.
24 - Vedes, então, que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé.
25 - E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários e os despediu por outro caminho?
26 - Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.

INTERAÇÃO
 “Fé e obras: Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica” é o tema deste trimestre! Portanto, estudaremos a Epístola de Tiago. O comentarista é o pastor Eliezer de Lira e Silva, conferencista de Escolas Bíblicas e diretor do projeto missionário Ide Ensinai em Moçambique, África.
Ao ler a Epístola Universal de Tiago chegamos à conclusão de que o Evangelho não admite uma vida cristã acompanhada de um discurso desassociado da prática. A nossa fé deve ser confirmada através das obras. Caro professor, de maneira profunda, estude esta epístola, pois, temos um grande desafio: convencer os nossos alunos de que vale a pena levar estes ensinamentos até as últimas consequências.

OBJETIVOS

Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Descrever as questões de autoria, local, data e destinatário da epístola.
Entender o propósito da epístola.
Destacar a atualidade da epístola.

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
 Prezado professor, para iniciar o estudo da Carta de Tiago sugerimos que reproduza o esquema abaixo na lousa, ou em cópias, conforme as suas possibilidades. O esquema é um esboço da epístola a ser estudada. Ele vai auxiliar na análise panorâmica da carta. Neste esquema ainda constam informações como: a estrutura da epístola, autoria, tema, data e uma consideração preliminar. Tenha uma boa aula!

ESBOÇO DA CARTA DE TIAGO
 Considerações Preliminares: Tiago é classificada como “epístola universal” porque foi originalmente escrita para uma comunidade maior que uma igreja local. A saudação: “Às doze tribos que andam dispersas” (1.1), juntamente com outras referências (2.19,21), indicam que a epístola foi escrita inicialmente a cristãos judeus que viviam fora da Palestina. É possível que os destinatários fossem os primeiros convertidos em Jerusalém, que, após a morte de Estêvão, foram dispersos pela perseguição (At 8.1) até a Fenícia, Chipre, Antioquia da Síria e além (At 11.19).

COMENTÁRIO
 INTRODUÇÃO
 Palavra Chave
Fé: Confiança absoluta em alguém. A primeira das três virtudes teologais: fé, esperança e amor.
 Neste trimestre, estudaremos a mensagem de Deus entregue aos santos irmãos do primeiro século por intermédio de Tiago, o irmão do Senhor. Assim pode ser resumida a Epístola universal de Tiago: uma carta de conselhos práticos para uma vida bem-sucedida e de acordo com a Palavra de Deus. A espiritualidade superficial, a ausência de integridade, a carência de perseverança e a insuficiência da compaixão para com o próximo são características que permeiam o caminho de muitos crentes dos dias modernos. O estudo dessa epístola é relevante para os nossos dias, pois contempla a oportunidade de aperfeiçoarmos o nosso relacionamento com Deus e com o próximo, levando-nos a compreender que a fé sem as obras é morta (Tg 2.17).

I. AUTORIA, LOCAL, DATA E DESTINATÁRIOS (Tg 1.1)
 1. Autoria. Em primeiro lugar, é preciso destacar o fato de que há, em o Novo Testamento, a menção de quatro pessoas com o nome de Tiago: Tiago, pai de Judas, não o Iscariotes, (Lc 6.16); Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João (Mt 4.21; 10.2; Mc 1.19, 10.35; Lc 5.10; 6.14; At. 1.13; 12.2); Tiago, filho de Alfeu, um dos doze discípulos (Mt 10.3; Mc 3.18; 15.40; Lc 6.15; At 1.13) e, finalmente, Tiago, o autor da epístola, que era filho de José e Maria e meio-irmão do nosso Senhor (Mt 1.18,20). Após firmar os passos na fé e testemunhar a ressurreição do Filho de Deus, o irmão do Senhor liderou a Igreja em Jerusalém (At 15.13-21) e, mais tarde, foi considerado apóstolo (Gl 1.19). Pela riqueza doutrinária da carta, o autor não poderia ser outro Tiago, senão, o irmão do Senhor e líder da Igreja em Jerusalém.

2. Local e data. Embora a maioria dos biblistas veja a Palestina, e mais especificamente Jerusalém, como local mais indicado de produção da epístola, tal informação é desconhecida. Sobre a data, tratando-se do período antigo da era cristã, sempre será aproximada. Por essa razão, a Bíblia de Estudo Pentecostal data a produção da carta de Tiago entre os anos 45 a 49 d.C., aproximadamente.
3. Destinatário. “Às doze tribos que andam dispersas” (Tg 1.1). Há muito a estrutura política de Israel perdera a configuração de divisão em tribos. Assim, em o Novo Testamento, a expressão “doze tribos” é um recurso linguístico que faz alusão, de forma figurativa, à nação inteira de Israel (Mt 19.28; At 26.7; Ap 21.12). Todavia, ao usar a fórmula “doze tribos”, na verdade, Tiago refere-se aos cristãos dispersos na Palestina e variadas igrejas estabelecidas em outras regiões, isto é, todo o povo de Deus espalhado pelo mundo.

SINOPSE DO TÓPICO (I)
 O autor da epístola é Tiago, o meio-irmão de Jesus. A carta foi escrita provavelmente em Jerusalém, entre os anos 45 e 49 d.C. e dirigida aos cristãos dispersos da Palestina bem como as igrejas de outras regiões.

II. O PROPÓSITO DA EPÍSTOLA DE TIAGO
 1. Orientar. Em um tempo marcado pela falsa espiritualidade e egoísmo, as orientações de Tiago são relevantes e pertinentes. Isso porque a Escritura nos revela o serviço a Deus como a prática concreta de atitudes e comunhão: guardar-se do sistema mundano (engano, falsidade, egoísmo, etc.) e amar o próximo. Assim, através de orientações práticas, Tiago almeja fortalecer e consolar os cristãos, exortando-os acerca da profundidade da verdadeira, pura e imaculada religião para com Deus a qual é: a) visitar os órfãos e as viúvas nas tribulações; b) não fazer acepção de pessoas e c) guardar-se da corrupção do mundo (Tg 1.27).

2. Consolar. Numa cultura onde não se dobrar a César, honrando-o como divindade, significava rebelião à autoridade maior, os crentes antigos foram impiedosamente perseguidos, humilhados e mortos. Entretanto, a despeito de perder emprego, pais, filhos e sofrer martírios em praças públicas, eles se mantiveram fiéis ao Senhor. Por isso, a epístola é, ainda hoje, um bálsamo para as igrejas e crentes perseguidos espalhados pelo mundo (Tg 1.17,18; 5.7-11).

3. Fortalecer. Além das perseguições cruéis, os crentes eram explorados pelos ricos e defraudados e afligidos pelos patrões (Tg 5.4). Apesar de a Palavra de Deus condenar com veemência essa prática mundana, infelizmente, ela ainda é muito atual (Ml 3.5; Mc 10.19; 1Ts 4.6). A Epístola de Tiago não foge à tradição profética de condenar tais abusos, pois, além de expor o juízo divino contra os exploradores, o meio-irmão do Senhor exorta os santos a não desanimarem na fé, pois há um Deus que contempla as más atitudes do injusto e certamente cobrará muito caro por isso. A queda de quem explora o trabalhador não tardará (Tg 5.1-3).

SINOPSE DO TÓPICO (II)
 O propósito geral da epístola de Tiago era orientar, consolar e fortalecer a Igreja de Cristo que estava sendo perseguida.

III. ATUALIDADE DA EPÍSTOLA
 1. Num tempo de superficialidade espiritual. Outro propósito da epístola é levar o leitor a um relacionamento mais íntimo com Deus e com o próximo. A carta traz diversas citações do Sermão do Monte como prova de que o autor está em plena concordância com o ensino de Jesus Cristo. Tiago chama a atenção para a verdade de que se as orientações de Jesus não forem praticadas, o leitor estará fora da boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Portanto, a Igreja do Senhor não pode abandonar os conselhos divinos para desenvolver uma espiritualidade sadia e profunda.

2. Num tempo de confusão entre “salvação pela fé” ou “salvação pelas obras”. O leitor desavisado pode pensar que a Epístola de Tiago contradiz o apóstolo Paulo quanto à doutrina da salvação mediante a fé. Nos tempos apostólicos, falsos mestres torceram a doutrina da salvação pela graça proclamada pelo apóstolo dos gentios (2Pe 3.14-16 cf. Rm 5.20—6.4). Entretanto, a Epístola de Tiago evidencia que não se pode fazer separação entre a fé e as obras. Apesar de as obras não garantirem a salvação, a sua manifestação dá testemunho da experiência salvífica do crente (Ef 2.10; cf. Tg 2.24).

3. Uma fé posta em prática. Muitos dizem ser discípulos de Cristo, mas estão distantes das virtudes bíblicas. Estes não evidenciam sua fé por intermédio de suas atitudes. Os pseudodiscípulos visam os seus interesses particulares e não a glória de Deus. Precisamos urgentemente priorizar o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6.33). Tiago nos ensina, assim como João Batista (Lc 3.8-14), que precisamos produzir frutos dignos de arrependimento.

SINOPSE DO TÓPICO (III)
 Num tempo de superficialidade espiritual e de confusão entre “salvação pela fé” e “salvação pelas obras”, a epístola de Tiago é uma mensagem atual sobre a fé posta em prática.

CONCLUSÃO
 Como em toda a Escritura Sagrada, a Epístola de Tiago é um farol acesso e permanentemente atual. Ela nos alerta contra a mediocridade da vida supostamente cristã e nos exorta a fazer das Escrituras o nosso pão diário. Jesus Cristo sempre foi zeloso pelo bem estar do seu rebanho (Jo 10.10). Em todas as épocas Ele é o bom pastor que cuida das suas ovelhas (Jo 10.11). É do interesse do Mestre que os discípulos vivam em harmonia e amor mútuo, afim de não trazerem escândalo aos de dentro e, muito menos, aos de fora (1Co 10.32). E não nos esqueçamos: A religião pura e imaculada é a fé que se mostra através de nossas práticas e obras.

VOCABULÁRIO

Compatriota: Que se origina da mesma terra.
Dispersa: Espalhada, separada. Imaculada: Pura, sem qualquer mancha.
Pseudodiscípulos: Falsos discípulos.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1 ed., RJ: CPAD, 2007.
STAMPS, Donald C (Ed.). Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo Testamento. RJ: CPAD, 1995.
STRONSTAD, Roger; ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2 ed., RJ: CPAD, 2004.


 AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO

Subsídio Bibliológico
 “Deve ser observado que existem resultados mais abençoados e reais quando um indivíduo realmente confia no Senhor Jesus Cristo. Há não apenas uma mudança de posição diante de Deus (justificação), mas há o início da obra redentora e santificadora de Deus. Embora a transformação da vida não seja a base da salvação, ela é a evidência da salvação. E sem tal evidência (em maior ou menor grau) deve ser levantada uma questão quanto à autenticidade da fé do indivíduo. [...]
As boas obras de um cristão são o resultado e a evidência da autenticidade da sua fé. É o entendimento deste fato que resolverá o problema de alguns quanto a uma alegada discrepância entre Paulo e Tiago. Paulo certamente relaciona as boas obras com a fé (Ef 2.8-10). Fica claro que Tiago está falando da justificação diante dos homens (Tg 2.18 — ‘mostra-me’, ‘te mostrarei’; v.22 - ‘bem vês’; v.24 - ‘vedes’; v.26), e que a fé é provada pelas obras (v.22)” (PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard, F. Dicionário Bíblico Wycliffe. RJ: CPAD, 2009, pp.779,80).

SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
 Tiago — Fé que se mostra pelas obras
 O tema deste trimestre é “Fé e Obras: Ensino de Tiago para uma vida cristã autêntica”. Por isso, ao professor não poderá faltar algumas obras literárias para o bom desenvolvimento do trabalho educativo, como, por exemplo, várias versões da Bíblia (pelo menos quatro); um bom Dicionário Bíblico; um Dicionário Teológico e um Comentário Bíblico.
Por que usarmos diferentes versões bíblicas para interpretar cuidadosamente as Escrituras? Ora, apesar de boas e fieis ao original do texto bíblico, algumas versões apresentam, por exemplo, problemas de linguagem arcaica, que não se adequa à contemporaneidade da língua portuguesa (cf. Caridade / Amor — 1 Co 13). Quando comparamos as várias versões da epístola de Tiago, podemos compreender os textos de razoável dificuldade interpretativa. Por isso é que sugerimos ao menos quatro das muitas versões disponíveis em língua portuguesa: a ARC (Almeida Revista Corrigida); a ARA (Almeida Revista Atualizada); a NVI (Nova Versão Internacional); e outra (poder ser até mesmo uma tradução católica da Bíblia, como TEB — Tradução Ecumênica da Bíblia — ou a Bíblia de Jerusalém).
O Dicionário Bíblico lhe auxiliará para a compreensão de algum termo das Escrituras. Por exemplo, a carta de Tiago cita a palavra “obra”. Mas a que Tiago se refere ao usar o termo “obra”? Às Obras da Lei ou à “Ação de Misericórdia”? Os artigos de um bom Dicionário Bíblico (sugerimos o Dicionário Bíblico Wycliffe, editado pela CPAD) desenvolvem a exaustão os termos bíblicos dessa natureza.
Para compreendermos a linguagem teológica de uma palavra contextualizada à doutrinas bíblicas, o Dicionário Teológico muito lhe ajudará (sugerimos o Dicionário Teológico, editado pela CPAD). Dominarmos os conceitos doutrinários de Salvação, Lei, Graça etc., e os seus desdobramentos, é de grande relevância para quem estuda a Epístola de Tiago. Ademais, não podemos confundir os conceitos teológicos que, ao mesmo tempo, aparecem na carta de Tiago e nas de Paulo.
Por último, um bom Comentário da Epístola de Tiago (sugerimos O Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, editado pela CPAD) para remontarmos o contexto histórico, social, cultural, econômico e exegese da epístola. Mas, antes de tudo, sugiro-lhe ler as treze lições do trimestre em uma única leitura. Este processo lhe ajudará a desenvolver o panorama do assunto de maneira mais eficaz. Faço votos de que você e a sua classe cresçam no estudo desta belíssima carta que é a Epístola de Tiago!


SUBSIDIOS

PRIMEIRA PARTE
INFORMAÇÕES SOBRE A EPÍSTOLA DE TIAGO
A Epístola de Tiago é um dos mais antigos escritos do Novo Testamento e um dos mais importantes textos bíblicos sobre a verdadeira vida de piedade. Simplesmente, nenhum outro texto do Novo Testamento é mais direto e enfático sobre a relação entre a fé e as obras na vida do verdadeiro cristão.

Os dois propósitos dessa carta apostólica estão explicitados já em seu primeiro capítulo:
1) Encorajar os cristãos judeus dispersos pelo Império Romano devido à perseguição (Tg 1.1) a encararem positivamente as várias provações pelas quais passavam por causa da sua fé (Tg 1.2), de maneira a serem edificados e fortalecidos na fé em meio a essas provações (Tg 1.3,4);
2) Ensinar qual é a verdadeira religião (Tg 1.27), no que consiste a verdadeira vida de piedade, isto é, qual o resultado prático da verdadeira fé em Jesus (Tg 1.22-26). A síntese de tudo é: “...a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2.17).
Outra característica marcante da Epístola de Tiago é a sua relação íntima com os ensinos de Jesus expressos nos Evangelhos. Não que as outras epístolas também não tenham essa relação, mas esses ensinos do Mestre geralmente aparecem nas epístolas de Paulo, Pedro, João e Judas aplicados ao tratamento de problemas específicos que surgiram no caminhar da Igreja no primeiro século da Era Cristã, enquanto na Epístola de Tiago ainda encontramos uma proximidade dos ensinos do bispo de Jerusalém com as aplicações mais imediatas dos ensinos de Jesus. Talvez isso aconteça porque essa epístola foi escrita provavelmente durante a primeira geração de cristãos da Igreja Primitiva. Nessa época, ainda estava vivo um grande número daqueles que haviam conhecido Jesus pessoalmente e, por isso, algumas necessidades apologéticas, que tomariam boa parte dos escritos apostólicos nos anos seguintes, ainda não haviam surgido.

O Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento (CPAD) traz um excelente paralelo entre os ensinos de Tiago e as palavras de Jesus, o que denotam a imensa familiaridade que o meio-irmão de Cristo tinha com os ensinos de seu Senhor. Se não, vejamos.
1) Tiago fala de júbilo na perseguição (Tg 1.2; Mt 5.11,12; Lc 6.22,23);
2) do propósito de ser perfeito e maduro (Tg 1.4; Mt 5.48);
3) pedir e receber de Deus (Tg 1.5; Mt 7.7; Lc 11.19);
4) de pedir com fé e sem duvidar (Tg 1.6; Mt 21.21,22; Mc 11.22-24);
5) da mudança do orgulho à humildade (Tg 1.9,10; 4.6,10; Mt 23.12; Lc 14.11; 18.14);
6) da metáfora do sol escaldante, que faz com que as plantas definhem (Tg 1.11; Mt 13.6; Mc 4.7);
7) de Deus como provedor dos dons (Tg 1.17; Mt 7.11; Lc 11.13);
8) da necessidade de não só ouvir, mas também praticar a Palavra de Deus (Tg 1.22; 2.14,17; Mt 7.21-27; Lc 6.46-49);
9) da compaixão pelos necessitados e aflitos (Tg 1.27; 2.15; Mt 25.34-36);
10) de os pobres herdarão o Reino de Deus (Tg 2.5; Mt 5.3; Lc 6.20);
11) de amar o próximo com a si mesmo (Tg 2.8; Mt 22.39; Lc 12.31);
12) de não infringir o menor mandamento sequer (Tg 2.10; Mt 5.19);
13) do julgamento daqueles que não demonstram misericórdia (Tg 2.13; Mt 18.23-34; 25.41-46);
14) de tornar-se amigo de Deus pela obediência (Tg 2.23; Jo 15.13-15);
15) dos mestres sendo julgados com maior severidade (Tg 3.1; Mc 9.38,40; Lc 20.45,47); de sermos julgados pelo que dizemos (Tg 3.2; Mt 12.37);
16) que o que corrompe é aquilo que sai de nossas bocas (Tg 3.6; Mt 15.11,18; Mc 7.15,20; Lc 6.45);
17) que a mesma fonte não pode produzir o bem e o mal (Tg 3.11,12; Mt 7.16-18; Lc 6.43,44);
18) que os pacificadores serão abençoados (Tg 3.18; Mt 5.9);
19) de um povo espiritualmente adúltero (Tg 4.4; Mt 12.39; Mc 8.38);
20) da amizade com o mundo significado inimizade com Deus e vice-versa (Tg 4.4; Jo 15.18- 21);
21) do riso transformado em pranto (Tg 4.6; Lc 6.25);
22) sobre julgarmos os semelhantes (Tg 4.11,12; 5.9; Mt 7.1,2);
23) que Deus pode tanto salvar como destruir (Tg4.12; Mt 10.28);
24) da tolice de planejar o futuro de modo independente de Deus (Tg 4.13,14; Lc 12.18-20);
25) da punição para aqueles que conhecem a vontade de Deus e se recusam a cumpri-la (Tg 4.17; Lc 12.47);
26) de um Ai sobre os ricos injustos (Tg 5.1; Lc 6.24);
27) da riqueza removida pela traça e pela ferrugem (Tg 5.2,3; Mt 6.19,20);
28) da autoindulgência sem qualquer preocupação pelos pobres (Tg 5.5; Lc 16.19,20,25);
29) que o retorno do Juiz está às portas (Tg 5.9; Mt 24.33; Mc 13.39);
30) sobre a perseguição aos profetas (Tg 5.10; Mt 5.10-12);
31) de não fazer juramentos (Tg 5.12; Mt 5.33-37); e de recuperar os irmãos e as irmãs que haviam se perdido (Tg 5.19-20; Mt 18.15).

Esta epístola também é especial porque Tiago foi o primeiro líder da Igreja Primitiva. Sua liderança transparece em passagens como Atos 12.17, quando Pedro, após sair milagrosamente da prisão, pede para que sua libertação seja anunciada “a Tiago e aos irmãos”; em Atos 15, quando ele ocupa uma posição de liderança no primeiro concílio da Igreja, resumindo a questão em debate (w. 13-18), dando a sentença sobre a questão (w. 19-21) e tendo o seu conselho fielmente seguido por todos (w.22-31); e em Atos 21.18, quando Paulo, ao chegar a Jerusalém após a sua terceira viagem missionária, foi encontrar-se com “Tiago e todos os presbíteros” (v. 18). Portanto, estudar a Epístola de Tiago é ter o privilégio de sentar-se aos pés de um dos maiores nomes da Igreja Primitiva, com alguém que conviveu pessoalmente com Jesus desde a sua infância e, depois de um período inicial de resistência, teve conversas particulares com o Cristo ressuscitado (1 Co 15.7) as quais mudaram a sua vida para sempre.

Tiago foi tão especial em seus dias que conta o historiador judeu Flávio Josefo, seu contemporâneo, em trecho desaparecido de sua obra Antiguidades Judaicas, que após a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C., muitos judeus creditaram a destruição da cidade a um castigo de Deus pelo martírio do santo Tiago, chamado de “O Justo”. Pais da Igreja como Orígenes (185-254 d.C.), Eusébio de Cesareia (260-339 d.C.) e Jerônimo (347-420 d.C.) comentam essa passagem de Josefo, conhecida ainda na época deles.2 Segundo eles, dizia Josefo expressamente: “Essas coisas [a destruição de Jerusalém] aconteceram com os judeus em represália pelo que fizeram a Tiago, o Justo, que era irmão de Jesus, conhecido como o Cristo, pois embora ele fosse o mais justo dos homens, os judeus o mataram”.3 Josefo cita o martírio de Tiago e a revolta pela injustiça ocorrida contra ele em um trecho às. Antiguidades Judaicas que permanece ainda entre nós. Diz ele, inclusive, que Albino, então governador da Judeia, atendendo a protestos de muitos judeus deus, depôs o sumo sacerdote Anano, da seita dos saduceus, pela injustiça cometida contra Tiago, que fora assassinado por apedrejamento a mando de Anano.

Por todas essas razões, a Epístola de Tiago é uma preciosidade, sobretudo pelos seus ensinos preciosos acerca da vida cristã prática, a respeito da essência do verdadeiro cristianismo. Estudemos, pois, os escritos de Tiago, o Justo, e aprendamos um pouco mais sobre a verdadeira vida de piedade.

Tiago — Fé que se mostra pelas obras.
Introdução
A Carta de Tiago é a primeira do grupo de epistolas consideradas como escritos gerais. Tais epístolas recebem essa designação por não serem endereçadas especificamente a qualquer grupo que possa ser identificado de imediato. Outra denominação dada a este grupo de escritos é “escritos católicos”, por serem cartas gerais. Essa designação nada tem a ver com o nome da Igreja Católica Apostólica Romana.

Autor
Comecemos nosso breve estudo pela questão da autoria desta Carta. O nome Tiago não era incomum nos dias de Jesus, e no Novo Testamento ocorrem ao menos quatro citações a pessoas que tinham esse nome:
• Tiago, pai de Judas (Lc 6.16);
• Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João;
• Tiago, filho de Alfeu. Há estudiosos que o identificam como Tiago, o pequeno, filho de Maria (Mc 15.40).

Tiago, irmão do Senhor. Esta tem sido a teoria mais corrente em relação à autoria desta Carta. Paulo o destaca como apóstolo (G1 1.19), um homem que era considerado um dos pilares da igreja.
A carta de Tiago já recebeu diversas propostas de datação. Esta tem sido determinada por alguns especialistas como tendo sido escrita em 45 ou 62 d.C. Os argumentos orbitam da seguinte forma para se deduzir que foi escrita em um desses períodos.

Conforme Josefo, o martírio de Tiago ocorreu em 62 d.C, portanto, ele teve de escrever antes desse período sua carta. A epistola nao raz mençao sobre a controvérsia de judeus e cristãos entre os anos 50 e 60. Como relata o livro de Atos, Tiago foi o chamado “moderador” do Concílio de Jerusalém, evento que provavelmente teria sido realizado o ano 50 d.C. e que discutiu a chegada de gentios no seio da igreja cristã. E há estudiosos que entendem que como a Carta de Tiago não cita o apóstolo Paulo, é provável que Tiago escreveu sua Carta antes de Paulo ter sido considerado um obreiro de destaque.

Destinatários
O autor da carta indica que seus destinatários são as “12 tribos que estão dispersas”. Como os judeus foram os primeiros convertidos à fé cristã, principalmente porque o evangelho de Jesus foi primeiramente pregado a eles, e a Igreja Primitiva teve sua origem em Jerusalém, não é difícil entender que esse escrito teria sido inicialmente para eles, mas isso não exclui a possibilidade de os gentios estarem sendo posteriormente incluídos nos sermões dessa epístola.
Essa referência é claramente simbólica, se considerarmos que a estrutura tribal de Israel havia cessado de ser um conjunto literal de doze tribos desde pelo menos a conquista da Assíria do Reino do Norte em 722 a. C. A questão que se apresenta, então, é: até que ponto Tiago estende aos seus leitores os elementos metafóricos de sua designação?
A interpretação mais “literal” da saudação é que cópias dessa carta foram enviadas aos judeus (às “doze tribos”) que estavam vivendo fora da Palestina (“dispersos entre os gregos”; cf Jo 7.35). No entanto, levando em conta que a carta obviamente não representa um tratado evangelístico destinado a converter os judeus ao cristianismo, esse entendimento pode ser rapidamente excluído.
Os destinatários são apresentados como já possuindo a fé em Jesus Cristo (2.1) e, sendo assim, a linguagem a respeito das “doze tribos” é geralmente aceita como simbolizando a crença de que cristãos são agora o povo de Deus, e formam o novo Israel ou Israel espiritual.
Partindo dessa orientação, podemos entender que os destinatários não eram apenas judeus, mas igualmente gentios que se tinham chegado à fé em Jesus Cristo e agora fariam parte da igreja cristã.

Local
Jerusalém tem sido considerada o local da confecção desta carta, apesar de ela mesma não trazer qualquer indicação de que tenha sido escrita lá. A base para essa teoria está mais vinculada à tradição da igreja. Pelo fato de essa carta ter circulado primeiramente na Palestina, como registram alguns pais da igreja como Orígenes, acredita-se que Jerusalém foi de fato a localidade de origem dessa epístola.

Propósitos
Já foi dito que a “...epístola de Tiago é a menos doutrinária e mais prática de todos os livros do Novo Testamento”.7 É um verdadeiro manual de conduta cristã, o que não diminui em nada o seu valor diante dos textos considerados mais teológicos. Isso deve deter nossa atenção de forma peculiar. Não raro, somos confrontados não por nosso pensamento teológico, mas pela nossa prática cotidiana. É triste ouvir um comentário acerca de uma pessoa que detém um conhecimento teológico apurado mas cujas práticas não condizem com a teologia que ela ensina ou pesquisa. Pensamento teológico correto é desejável, mas a prática correta dos preceitos bíblicos é mais importante. Um pensamento teológico estéril será manifesto em uma vida estéril de boas obras.

A atualidade da Carta de Tiago
Obras e salvação.
Esse assunto dividiu em diversos momentos o pensamento teológico cristão. Lutero chamou a Carta de Tiago de Carta de Palha, e questionou sua validade no Cânon por entender que Tiago dá mais ênfase às obras do que à salvação pela fé. O reformador — que viveu em uma cultura em que as obras eram tidas pela igreja romana como uma forma de se chegar ao céu, sem a necessidade da fé em Jesus Cristo — tinha em mente o apreço ao que o apóstolo Paulo falava sobre a salvação pela fé. Entretanto, precisamos saber que Paulo e Tiago tratam desses dois temas para públicos diferentes e situações diferentes. Em Paulo, as obras não justificam as pessoas, pois elas são insuficientes para a salvação. Parada, pois os sinais dela estão cada dia mais visíveis. Entretanto, há pessoas que mesmo na congregação estão como adormecidas em relação ao retorno do Senhor, esquecendo-se desse evento prometido nas Escrituras. Vivem como se Jesus demorasse a voltar, e há aqueles que duvidam que um dia o Senhor Jesus retorne. Entre a indiferença e a incredulidade, devemos ter esperança. Tiago usa o exemplo de um agricultor, que semeia e espera a chuva a seu tempo, e com paciência vê o fruto do seu trabalho. O retorno do Senhor é certo, e devemos estar prontos para que subamos com Ele.

A Carta de Tiago é uma obra para os nossos dias. Se observarmos as ênfases que o escritor dá em seus breves sermões, perceberemos que a Igreja do século XXI se encaixa devidamente como leitora e destinatária, da mesma forma que a igreja do século I.

A Carta de Tiago é um verdadeiro manual de conduta cristã, o que não diminui em nada o seu valor diante dos textos considerados mais teológicos. Isso deve deter nossa atenção de forma peculiar. Não raro, somos confrontados não por nosso pensamento teológico, mas pela nossa prática cotidiana.

A oração.
Tiago completa sua obra falando sobre oração. Ele argumenta que a oração de um justo pode muito em seus efeitos, e nos insta que estejamos no altar do Senhor, buscando-o. Ele fala sobre a oração da fé, pela cura de um enfermo e pelo perdão dos pecados. O maior exemplo que Tiago oferece é o do profeta Elias, um homem que pouco difere de nós, mas que orou e viu o resultado de sua oração na ausência de chuvas em Israel. Tido por herói, Elias foi um exemplo de homem dedicado á oração e à comunhão com Deus, e esse mesmo exemplo pode ser seguido pelos crentes em nossos dias. Claro que não vamos orar pedindo que não chova em nosso país, mas precisamos ter em mente que nossas orações são ouvidas por Deus, e que apesar de nossa pequenez, temos um Deus que tem prazer em nos ouvir.

A Teologia na Carta de Tiago
Já foi dito que a Carta de Tiago não é teológica. Na verdade, a teologia de Tiago é muito mais voltada à pática do que à contemplação. A preocupação dele é demonstrada nas muitas recomendações a que a fé cristã seja manifesta por meio de atitudes.

Sobre esse tema, Buist M. Fanning comenta que:
A epístola de Tiago é conhecida e amada por suas exortações penetrantes a respeito da vida prática cristã. Geralmente não é lembrada por sua teologia. Na verdade, um comentarista proeminente afirma que a epístola de Tiago “não tem teologia”. De fato, Tiago não enfatiza temas teológicos como fazem outros escritores bíblicos. Por exemplo, a epístola não faz menção explícita à encarnação, à cruz nem à ressurreição de Jesus. Talvez não haja menção ao Espírito Santo (debate-se Tg 4.5), muito pouca menção à nova vida em Cristo e à doutrina clara da igreja e muito pouca ao plano da salvação de Deus operado na história.

O que Tiago fornece é exortação evidente, e deve-se esperar isso à luz do propósito indicado por ele em sua epístola para escrevê-la. Ele não escreve com a finalidade de corrigir problemas doutrinários, mas para incentivar os cristãos a agir de acordo como que acreditam, a serem “cumpridores da palavra e não somente ouvintes” (1.22). Embora Tiago enfatize a vida prática cristã, ele revela seus fundamentos teológicos e contribui com percepções distintas para a teologia cristã.


Este é o panorama da Epístola de Tiago. Nos próximos capítulos abordaremos outros assuntos dessa carta tão atual e necessária para a igreja cristã.

SEGUNDA PARTE
Tiago 2.14 FÉ E OBRAS.
Os versículos 14-26 tratam do problema, sempre presente na igreja, daqueles que professam ter fé salvífica no Senhor Jesus Cristo, mas que, ao mesmo tempo, não  demonstram pelas obras nenhuma evidência de devoção sincera a Ele e à sua Palavra.
(1) A fé salvífica é sempre uma fé viva que não se limita à mera confissão de Cristo como Salvador, mas  que também nos leva a obedecê-lo como Senhor. Portanto, a obediência é um aspecto fundamental da fé. Somente quem obedece pode de fato crer, e somente aqueles que crêem podem de fato  obedecer ao Senhor (ver v. 24 ; Rm 1.5).
(2) Notem que não há nenhuma contradição entre Paulo e Tiago no tocante à questão da  fé salvífica. No sentido geral, Paulo enfatiza a fé como o meio pelo qual aceitamos a Cristo como Salvador (Rm 3.22). Tiago enfatiza o fato de que a verdadeira fé deve ser uma fé ativa, duradoura e  que molde nossa própria existência.

Tiago 2.17,26 A FÉ SEM AS OBRAS É MORTA.
(1) A verdadeira fé salvífica é tão vital que não poderá deixar de se expressar por ações, e pela devoção a Jesus Cristo. As obras sem a fé são obras mortas. A fé sem obras é fé morta. A fé verdadeira sempre se manifesta em obediência para com Deus e atos compassivos para com os necessitados (ver v. 22; Rm 1.5).
(2) Tiago objetiva seus ensinos contra os que na igreja professavam fé em Cristo e na expiação pelo seu sangue, crendo que isso por si só bastava para a salvação. Eles também achavam que não era essencial no relacionamento com Cristo obedecer-lhe como Senhor. Tiago diz que semelhante fé é morta e que não resultará em salvação, nem em qualquer outra coisa boa (vv. 14-16,20-24). O único tipo de fé que salva é "a fé que opera por caridade" (Gl 5.6).
(3) Não devemos, por outro lado, pensar que mantemos uma fé viva, exclusivamente por nossos próprios esforços. A graça de Deus, o Espírito Santo que em nós habita e a intercessão sacerdotal de Cristo (ver Hb 7.25) operam em nossa vida, capacitando-nos a obedecer a Deus pela fé, do começo ao fim (cf. Rm 1.17). Se deixarmos de ser receptivos à graça de Deus e à direção do Espírito Santo, nossa fé sucumbirá.

Tiago 2.21 ABRAÃO... FOI JUSTIFICADO PELAS OBRAS.
As obras pelas quais Abraão foi justificado não eram "obras da lei" (Rm 3.28), mas da fé e do amor. Sua disposição de sacrificar Isaque foi uma expressão da sua fé em Deus e da sua dedicação a Ele (ver Gn 15.6 nota; 22.1). Tiago usa o exemplo de Abraão para refutar a crença de que pode haver fé sem dedicação e amor a Deus. O apóstolo Paulo usa o exemplo da fé de Abraão para anular o conceito errôneo de que a salvação depende do mérito das nossas próprias obras e não da graça de Deus (Rm 4.3; Gl 3.6).

Tiago 2.22 A FÉ COOPEROU COM AS SUAS OBRAS.
Tiago não está dizendo que a fé e as obras nos salvam. Isso seria separar a fé das obras. Tiago argumenta, pelo contrário, sobre a fé em ação.  Isto é, a fé e as obras nunca poderão estar separadas uma vez que as obras procedem naturalmente da fé (ver Gl 5.6).

2.24 O HOMEM É JUSTIFICADO PELAS OBRAS.
O termo grego ergon, aqui traduzido por obras, é empregado por Tiago com sentido diferente daquele que Paulo usou em Rm 3.28.
(1) Para Tiago, "obras" se refere às nossas obrigações para com Deus e o homem, as quais são ordenadas nas Escrituras, e provêm de uma fé sincera, de um coração puro, da graça de Deus e do desejo de agradar a Cristo.
(2) Para Paulo, "obras" se refere ao desejo humano de obter mérito e salvação pela obediência à lei mediante nosso próprio esforço, e não através do arrependimento e da fé em Cristo.
(3) Note que tanto Paulo como Tiago declaram enfaticamente que a verdadeira fé salvífica produzirá infalivelmente obras de amor (1.27; 2.8; Gl 5.6; 1 Co 13; cf. Jo 14.15).


TERCEIRA PARTE.
A- Quando a Fé Não é Fé, 2.14-17.

1. Confissão Inútil (2.14)
Como em 2.1, Tiago suaviza sua exortação ao identificar-se com seus leitores. Ele escreve aos meus irmãos (v. 14). A fé que Tiago rejeita não é reconhecida por ele como fé verdadeira. Ela é uma confissão ou declaração, mas não uma realidade. Que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá- lo? Phillips apresenta o sentido correto da segunda pergunta: “Porventura esse tipo de fé poderia salvar a alma de alguém?”.

2. Uma Parábola (2.15-17)
Os versículos 15-16 têm sido descritos como uma “pequena parábola” com a aplicação dada no versículo 17. João usa um argumento similar: “Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (1 Jo 3.17, ARA). A intolerância de Tiago com a fé sem prática aparece de forma aguda na seguinte paráfrase: “Se vocês tiverem um amigo que está necessitado de alimento e vestuário, e lhe disserem: ‘Bem, adeus, e que Deus o abençoe; aqueça-se e coma bem’, e depois não lhe derem roupas ou alimentos, que bem faz isso?” (A Bíblia Viva). Clarke comenta: “Ao falar isso para eles, sem lhes dar nada, o proveito deles será igual à sua fé professada. Sem essas obras, que são os frutos genuínos da verdadeira fé, qual será o seu proveito no dia em que Deus virá sentar e julgar a sua alma?”

Essa fé é morta (v. 17) — interiormente morta, bem como exteriormente inoperante. Ela não é apenas infrutífera, mas não tem uma vitalidade própria capaz de produzir frutos de justiça. Essa fé é morta em si mesma, ou seja, não há obras que a acompanham.
A menção específica de irmã (v. 15) é entendida por Ross como uma evidência contra a teoria defendida por alguns, de que temos em Tiago um documento pré-cristão de origem judaica. Ele escreve: “Trmãs’ devem receber um tratamento igualitário em relação aos irmãos na Igreja dEle, onde não há homem nem mulher (G1 3.28)”.
Nus (gumnoi) deve ser entendido como mal-vestido (cf. Mt 25.36).

B -Uma Objeção Respondida, 2.18-19.
Nesse ponto, Tiago introduz a visão de um oponente imaginário que rejeita a idéia de que a fé possa existir sem obras. Mas dirá alguém (v. 18) implica que um argumento bem conhecido está sendo apresentado. Tiago não argumenta a favor da proeminência das obras sobre a fé; ele apenas insiste em que a fé cristã não é válida se não for acompanhada de obras de justiça. O apóstolo diz: “Eu reivindico fé bem como obras!”. Para aquele que diz que fé e obras podem existir independentemente Tiago apenas pode responder: “Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras” (NVI).
No versículo 19, Tiago cita corretamente a crença num Deus único e verdadeiro como o princípio central da fé mantido pelo seu oponente. Algumas versões colocam a primeira parte do versículo 19 em forma de pergunta (como ocorre na ARC): Tu crês que há um só Deus?. Tiago responde: Fazes bem (v. 19). Até aqui, tudo bem — mas isso não é suficiente: também os demônios (daimonia) crêem e estremecem. Apenas fé — no sentido de reconhecer Deus sem responder a Ele em ação obediente — é uma religião que mesmo os demônios professam (cf. Mt 8.29; Mc 1.24). Mas essa fé não é uma fé salvadora; eles apenas estremecem (“tremem”, NVI). “A fé que eles têm é mostrada pelo seu terror, uma emoção de interesse próprio, mas isso não os salva”. João Wesley comenta acerca daqueles que têm uma fé tão limitada: “Isso prova somente que vocês têm a mesma fé dos demônios [...] eles [...] tremem com a expectativa terrível do tormento eterno. Essa fé certamente não pode justificá-los nem salvá-los”.

C - Provas da História Hebraica, 2.20-26.
Tiago agora volta-se para as provas que deveriam ter o maior peso para os seus leitores — evidências das Escrituras, que eles aceitavam como autorizadas. Nos dois exemplos, as pessoas do Antigo Testamento foram levadas a agir de acordo com a sua fé em Deus, em vez de meros sentimentos de bondade humana natural.

1. Introduzindo a Evidência (2.20).
A expressão: queres tu saber? (v. 20, lit., você gostaria de saber?), introduz esse novo rumo na argumentação. A pergunta parece inferir uma relutância que beira a perversidade no homem questionado. O sentido correto seria: “Você realmente quer uma prova irrefutável?”. Ó homem vão significa “insensato” (NVI) ou “de cabeça vazia”. Trench diz que esse tipo de homem “é alguém em quem a sabedoria superior não encontrou espaço, mas que está inchado com uma vaidade vã do seu próprio discernimento”. Tiago repete aqui sua premissa básica de que a fé sem as obras é morta (“inútil”, NVI; lit., sem obras, inativa). Essa fé sem vida não produz nada de importante.

2. O Argumento de Abraão (2.21-24).
O versículo 21 fala de Abraão como sendo justificado pelas obras. Isso parece estar em contradição direta com Paulo, que escreveu: “Creu Abraão [tinha fé] em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Rm 4.3; cf. G1 3.6). Tanto Tiago quanto Paulo recorrem à verdade em Gênesis 15.6 para suportar seus argumentos. A reconciliação pode ser encontrada nos eventos específicos na vida de Abraão à qual Paulo e Tiago se referem; também no sentido em que usaram o termo justificado (v. 21).
Paulo refere-se à fé do patriarca Abraão no tempo em que Deus prometeu dar-lhe um filho (Gn 15.1-6). A sua fé era uma fé que aceitava a promessa de Deus sem ter provas concretas. Tiago, por outro lado, referiu-se à fé do patriarca quando ofereceu sobre o altar o seu filho (Gn 22.1-19). “Tiago não está falando da imputação original de justiça a Abraão em virtude da sua fé, mas da prova infalível [...] de que a fé que resultou nessa imputação era uma fé real. Ela se expressava em uma obediência tão completa a Deus que 30 anos mais tarde Abraão estava pronto, em submissão à vontade divina, para oferecer o seu filho Isaque. O termo justificado nesse versículo significa na verdade ‘revelado para ser justificado’”.
A interação inseparável entre a fé cristã e a ação é deixada clara em uma tradução mais recente do versículo 22: “Você pode ver que tanto a fé como as obras estavam atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras” (NVI). Se aceitarmos a evidência de Tiago, devemos aceitar sua conclusão: “Vocês vêem, portanto, que um homem é salvo pelo que ele faz, tanto como pelo que ele crê” (v. 24, A Bíblia Viva).
A expressão Abraão, o nosso pai (v. 21) é, às vezes, usada para apoiar o argumento de que os receptores dessa epístola eram judeus ou pelo menos de origem judaica. Mas o conceito de Abraão como o “pai dos fiéis” — gentios e judeus — era um conceito cristão do primeiro século (cf. Rm 4.16; G1 3.7-9).
Em apoio à realidade da justiça de Abraão, Tiago ressalta que ele foi chamado o amigo de Deus (v. 23). Em 2 Crônicas 20.7, Abraão é chamado de “amigo [de Deus], para sempre”; e em Isaías 41.8, Deus chama Israel de “semente de Abraão, meu amigo”. Essa expressão “amigo de Deus” parece significar “que Deus não escondeu de Abraão o que propôs fazer (veja Gn 17.17). Abraão foi privilegiado em ver alguma coisa do grande plano que Deus estava realizando na história. Ele exultou em ver o dia do Messias (veja Jo 8.56)”.

3. A evidência de Raabe (2.25).
Tiago escolheu Raabe, a meretriz (v. 25) para seguir o exemplo de Abraão, o fiel, em sua exposição de provas do Antigo Testamento, de que a fé não funciona sem obras. Nesse caso, recebe o apoio do autor aos Hebreus (cf. Hb 11.17-19, 31). Tiago parece enfatizar que o princípio que ele tem defendido é universal e que não há espaço para exceções. Ele cita Raabe, que era “gentia, mulher e prostituta”. Em Hebreus, o autor ressalta que a ação de Raabe era “por fé”. Tiago não nega isso, mas insiste que ela foi justificada pelas obras, no sentido de que suas ações eram uma prova da sua fé. “Ela cria em Deus e evidenciou a sua fé pelo transtorno que enfrentou ao receber os espiões e auxiliá-los a escapar, arriscando a sua própria vida. Certamente, essa não era uma fé comum!”

4. O Resumo Conclusivo (2.26).
Semelhantemente a um advogado diante do júri ou um debatedor diante de um auditório, Tiago apresenta um resumo do argumento que desenvolveu nos versículos 14 a 25. “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto,, assim também a fé está morta sem obediência” (v. 26, Weymouth). Quando corpo e espírito estão separados, ocorre decadência e morte. Similarmente, quando a fé e suas “obras de obediência” (NT Ampl.) estão separados, a fé morre. Moffatt observa a relação próxima entre a verdade aqui declarada e o princípio que Tiago estabelece em 4.17: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado”.

Subsidios elaborado pelo Evangelista; Natalino dos Anjos
Professor da E.B.D. e pesquisador
Dirigente na Congregação do Bairro Novo Horizonte(A.D Missão).
Campo de Guiratinga - Mato Grosso
Pastor Presidente; Pr. Edseu Vieira

Fonte de pesquisa;
Livro Fé e Obras - Ensinos de Tiago para uma vida cristã autentica(Alexandre Coelho e Silas Daniel)
Comentário Bíblico BEACON Novo Testamento
Bíblia de Estudo Pentecostal.


















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