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quarta-feira, 30 de julho de 2014

O CUIDADO AO FALAR E A RELIGIÃO PURA - LIÇÃO 05 COM SUBSIDIOS

Lições Bíblicas CPAD   -   Jovens e Adultos
3º Trimestre de 2014
 Título: Fé e Obras — Ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica
Comentarista: Eliezer de Lira e Silva

Lição 5: O cuidado ao falar e a Religião pura
                           Data: 03 de Agosto de 2014

TEXTO ÁUREO
 “[...] Mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1.19).

VERDADE PRÁTICA
 As nossas palavras podem, ou não, evidenciar a sabedoria de Deus.

LEITURA DIÁRIA
 Segunda - Êx 19.5 Ouçamos a voz do Senhor
 Terça - Ec 3.7 Tempo de falar e de calar
 Quarta - Ef 4.26,29 A ira é uma porta para o pecado
 Quinta - 1Pe 1.23-25 Gerados em amor pelo poder da Palavra
 Sexta - Sl 68.5 Deus é Pai dos órfãos e juiz das viúvas
 Sábado - Ef 1.3-6 Santos e irrepreensíveis em amor

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
 Tiago 1.19-27.
 19 - Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.
20 - Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus.
21 - Pelo que, rejeitando toda a imundícia e acúmulo de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar a vossa alma.
22 - E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos.
23 - Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural;
24 - Porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu de como era.
25 - Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.
26 - Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã.
27 - A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.

INTERAÇÃO
 Ouvir não é uma atitude fácil. Demanda tempo, paciência, perseverança e concentração. O ato de ouvir é uma obra doadora. Quem ouve uma pessoa, doa o seu tempo e a sua atenção. A princípio, quem ouve pode aparentar uma atitude passiva, mas na verdade esta pessoa realiza uma intensa atividade de pensar e de raciocinar. E tratando-se da Palavra de Deus, a atividade intensa de alimentar a própria alma. Então, quando o crente abrir a sua boca para falar, falará de maneira sábia e poderosa. Portanto, as Escrituras nos aconselham a ouvir mais e a falar menos; para quando articularmos as palavras, o fazermos com autoridade e coerência.

OBJETIVOS
 Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Aprender sobre estar “pronto para ouvir” e “tardio para falar”.
Compreender a importância de ser praticante, e não só ouvinte.
Saber qual é a religião pura e verdadeira.

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
 Prezado professor, para concluir a lição desta semana, reproduza a seguinte pergunta na lousa: “O que é religião?”. Peça aos alunos para responderem à pergunta. Ouça-os com atenção. Em seguida, de acordo com o auxílio da palavra-chave, defina para a classe o termo “religião”. Logo depois, leia com os alunos Tiago 1.27 e explique o valor da verdadeira religião de acordo com o ensinamento de Tiago, o meio-irmão do Senhor. Conclua a lição afirmando que a verdadeira religião em Deus não consiste em ritual e regra humana, mas em vida de amor a Deus e ao nosso próximo. Boa aula!

COMENTÁRIO
 INTRODUÇÃO
 Palavra Chave
Religião: Geralmente caracteriza-se pela crença na existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e obediência.
 Na lição dessa semana vamos estudar a maneira adequada de o crente usar um instrumento maravilhoso, mas ao mesmo tempo, potencialmente perigoso: a fala. Este assunto está interligado à temática da verdadeira religião que agrada a Deus. O fenômeno da fala é uma das fontes de expressão do pensamento humano, como também é responsável pelo processo de comunicação e de formação da identidade cultural de uma sociedade. As pessoas querem falar às outras aquilo que pensam. O crente, todavia, tem o compromisso de não apenas falar o que pensa, mas agir como propõe o Evangelho.

I. PRONTO PARA OUVIR E TARDIO PARA FALAR (Tg 1.19,20)
 1. Pronto para ouvir. Para alguns crentes, a pessoa sábia é a que sempre tem algo a falar. Ouvir é um empreendimento trabalhoso e, por isso, ignorado por muitos. Diferentemente, as Escrituras admoestam-nos a ser prontos para ouvir. No versículo 19, Tiago introduz o seu ensino sobre o “ouvir” e o “falar” destacando a expressão sabei isto. Com essa expressão, ele demonstra a sua preocupação pastoral com os seus leitores. Outro termo no versículo 19 chama-nos a atenção: pronto. No grego, a palavra significa “rápido”, “ligeiro” e “veloz”. Ali, o escritor sacro incentiva-nos a estar disponíveis a ouvir. É uma atitude que depende de uma disposição e também da decisão em ouvir o outro. A exemplo do profeta Samuel, que desde a sua infância foi ensinado a ouvir a voz divina (1Sm 3.10; 16.6-13), o povo de Deus deve persistir em escutar os desígnios do Pai, pois nesses últimos dias tem Ele falado através do seu Filho, o Verbo Vivo de Deus (Hb 1.1; cf. Jo 1.1).

2. Tardio para falar. Quem ouve com atenção adquire a rara capacidade de opinar acerca de qualquer assunto. É justamente por isso que a Carta de Tiago exorta-nos a ser tardios para falar (v.19). Uma palavra dita sem pensar, fora de tempo, e sem conhecimento dos fatos, pode provocar verdadeiras tragédias. Quem nunca se arrependeu de ter falado antes de pensar? Diante de Faraó, o imperador do Egito Antigo, o patriarca José aproveitou sabiamente um momento ímpar em sua vida. Antes de responder às perguntas sobre os sonhos do monarca, José as ouviu e refletiu sobre elas. Em seguida, orientado pelo Senhor, respondeu sabiamente Faraó (Gn 41.16). Temos de aprender a refletir sobre o que vamos dizer e falar no tempo certo. Pese bem as palavras, e ore como o rei Davi: “Põe, ó SENHOR, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141.3).

3. Controle a sua ira. Uma terceira admoestação encontrada no versículo 19 da carta de Tiago expressa o seguinte: tardio para se irar. A ira é um profundo sentimento de ódio e rancor contra a outra pessoa. Uma vez descontrolada, ela não produz a justiça de Deus, mas uma justiça segundo o critério da pessoa que sofreu o dano: a vingança. A Palavra de Deus não proíbe o crente de ficar indignado contra a injustiça (Is 58.1,7; Lc 19.45). Contudo, ao mesmo tempo, a Bíblia estabelece limites para o nosso temperamento não se achar irrefletido, descontrolado, deixando-nos impulsivamente irados (Ef 4.26; Pv 17.27). O cristão, templo do Espírito Santo, tem de levar a sua mente cativa a Cristo (2Co 10.5) e manifestar o fruto do Santo Espírito: o domínio próprio (Gl 5.22 — ARA). Fuja da aparência do mal. Tenha autocontrole.

SINOPSE DO TÓPICO (I)
 À luz da Palavra de Deus aprendemos que o crente deve ser tardio para falar e pronto para ouvir. Por isso, a ira é um sentimento que deve ser controlado pelo crente.

II. PRATICANTE E NÃO APENAS OUVINTE DA PALAVRA (Tg 1.21-25)
 1. Enxertai-vos da Palavra (v.21). A Palavra de Deus é o guia maior do crente. E para que a Palavra atinja efetivamente o coração do servo de Deus, este precisa acolhê-la com pureza e sinceridade. Isto é, firmar uma posição radical rejeitando toda a imundícia e a malícia mundana (v.19); recebendo o Evangelho com mansidão e sobriedade. Leia os Evangelhos! Persiga em conhecer a mensagem divina de Cristo Jesus, mas, igualmente, abra o coração para ouvir a voz do Senhor.

2. Praticai a Palavra (vv.22-24). O escritor sacro não tem interesse em que o leitor da epístola apenas acolha a Palavra no coração, antes deseja que o crente a pratique (v.22). Não pode haver incoerência entre o que se “diz” e o que se “faz” para quem é discípulo de Jesus. Se amar a Deus e ao próximo são os maiores dos mandamentos, então, devemos porfiar em vivê-los. Quem acolhe a Palavra rejeita tudo o que é imundo, maligno, perverso, injusto, dissimulado, insincero. Não apenas isso, mas igualmente abre a porta do coração para “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama” (Fp 4.8). Do contrário, seremos identificados com o homem que contempla a própria imagem no espelho e depois se retira esquecendo-se completamente dela. Há pessoas que olham para o Evangelho e ouvem, mas sem memória e perseverança, não dão nenhuma resposta ou sequência ao chamado de Jesus Cristo (vv.23,24). Deus nos livre desse engodo!

3. Persevere ouvindo e agindo (v.25). Tiago conclui este ponto da epístola da seguinte maneira: Quem é cuidadoso para com a lei, nela persevera; não apenas ouvindo-a negligentemente, mas praticando-a zelosamente. Felicidade plena em tudo é a promessa para quem ousa viver o Evangelho cônscio das implicações espirituais e das consequências materiais. Alguém, um dia, disse que os evangélicos são poderosos no discurso, mas fracos na prática do mesmo discurso. Falamos, mas não vivemos! Precisamos analisar nossa vida em amor e sinceridade. Entremos na presença de Deus com o rosto descoberto, coração rasgado e alma despida. No tempo em que vivemos não dá para passar despercebidos na dissimulação, ou seja, fingindo ser algo que na verdade não somos.

SINOPSE DO TÓPICO (II)
 O crente deve encher-se da Palavra, praticar a Palavra e perseverar na Palavra.

III. A RELIGIÃO PURA E VERDADEIRA (Tg 1.26,27)
 1. A falsa religiosidade. Apesar de algumas pessoas se considerarem religiosas por frequentarem um templo, as Escrituras revelam o significado da verdadeira religião. Ela reprova todo o ativismo religioso feito em “nome de Deus”, mas em detrimento do próximo. Aqui, a língua do crente tem um papel importante. Tiago diz que é possível enganar o próprio coração quando deixamos de refrear a nossa língua. Ora, o coração é a sede dos desejos, dos sentimentos e das vontades. E a boca só fala daquilo que o coração está cheio (Mt 12.34). É incompatível com o Evangelho, viver a graça de Deus sem mergulhar no Reino dEle. Quem não se entrega inteiramente ao Senhor pratica uma religião vã e falsa. Não podemos ser como a pessoa capaz de fazer uma belíssima oração por um faminto, e depois despedi-lo sem lhe dar um único grão de arroz.

2. A verdadeira religião (v.27). A religião pura, santa e imaculada, de acordo com o autor sacro, é suprir a necessidade do próximo: “Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações”. O problema hoje é que a nossa atenção, quase sempre, está voltada para o prazer pessoal. Temos os olhos fechados para os necessitados que na maioria das vezes cultuam a Deus, assentados, ao nosso lado. Lembremo-nos da vida de Jesus Cristo! Ele não apenas olhou para os marginalizados, mas foi até eles e os acolheu em amor (Mt 25.35-45). A religião que agrada a Deus é aquela cujos discípulos professam e bendizem o seu nome, visitando e acolhendo os necessitados nas aflições.

3. Guardando-se da corrupção (v.27). Além de recomendar a obrigatoriedade de visitarmos os órfãos e as viúvas, a Epístola de Tiago menciona outro aspecto da verdadeira religião: guardar-se da corrupção do mundo. A religião falsa está mergulhada no egoísmo, na corrupção e nos interesses maléficos do sistema pecaminoso. A igreja deve manter-se longe da corrupção. Estamos no mundo, mas não fazemos parte do seu sistema! O Evangelho nada tem com os seus valores e preceitos. Portanto, não flerte com o modo corrupto de viver do mundo (Tg 4.4). Amemos e desejemos o Evangelho de todo o nosso coração.

SINOPSE DO TÓPICO (III)
 A verdadeira religião está em olharmos para o necessitado, irmos até ele e acolhê-lo.

CONCLUSÃO
 Nessa semana aprendemos sobre o cuidado que devemos ter com o ouvir e o falar. Estudamos também acerca da religião pura e imaculada que alegra a Deus: visitar os órfãos e as viúvas nas tribulações e guardarmo-nos da corrupção do mundo. Que os nossos ouvidos estejam prontos para ouvir, a nossa língua para falar sabiamente e a nossa vida para praticar tudo quanto aprendemos do Evangelho. Embora estejamos em um mundo turbulento, devemos exalar o bom perfume de Cristo por onde formos (2Co 2.15).

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
 RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição, RJ: CPAD, 2007.
STRONSTAD, Roger; ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2ª Edição, RJ: CPAD, 2004.


AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I
 Subsídio Histórico-Cultural
 “Se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu de como era (1.23,24). O verbo traduzido como ‘contempla’ é katanoounti, que indica ‘um escrutínio atento’. Esta pequena alegoria descreve uma pessoa que encontra um espelho e olha intensamente para si mesma.
A alegoria depende de uma questão simples. Por que as pessoas olham-se no espelho? Embora alguns possam simplesmente desejar admirar-se, na maioria dos casos nós olhamos no espelho para guiar nossos atos. Como devo pentear o meu cabelo? Meu rosto está sujo? E nós agimos com base no que vemos. Mas o que acontece se olharmos com atenção, e nos afastarmos, simplesmente esquecendo a sujeira em nosso rosto, ou aquela mecha que fica em pé de maneira tão selvagem? Então o espelho terá provado ser totalmente irrelevante e nosso exame completamente sem significado. Da mesma maneira, Tiago argumenta que olhar para a Palavra de Deus e não agir de acordo com o que vemos ali significa que o que encontramos nas Escrituras não tem significado para nós. Não é a pessoa que conhece o que diz a Bíblia que é abençoada, mas sim a pessoa que faz o que a Bíblia diz.” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição, RJ: CPAD, 2007, p.514).

AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO II
 Subsídio Teológico
 “A Religião Pura e Imaculada (1.26,27). Fazendo eco com seu conselho anterior de ser ‘tardio no falar’ (1.19), e antecipando discussões mais detalhadas do discurso humano que aparecerão posteriormente (3.2-12; 4.11-16), Tiago revela, nesse ponto, que um dos sinais para se saber se o comportamento religioso de alguém é ou não agradável a Deus, é a capacidade de ‘manter a língua sob rédeas curtas’.
Nesse conselho ele inclui a proibição contra discursos vulgares ou mal intencionados, porém os dois exemplos de discurso impróprio, colocados imediatamente após essa declaração, ilustram outras ofensas da linguagem humana que devem ser refreadas pelos cristãos.
Os crentes devem estar seguros de que suas palavras e suas ações sejam consistentes umas com as outras. Tiago ilustra esse problema, ao lembrar a seus leitores que já ofenderam a honra das pessoas que estão a seu lado, e que também acreditam que Deus está especialmente preocupado com o uso de uma linguagem que mostre favoritismo dentro da comunidade da fé, o que destrói a unidade da vontade de Deus (2.1-5).
O discurso humano tanto pode ser usado como sinal dos cuidados de uma piedade religiosa como serve até de pretexto para a falta da prática daqueles atos que Deus poderia desejar (2.15,16). Assim, os crentes deveriam falar apenas daquilo que estão desejosos de colocar em prática: devem ‘praticar o que pregam’, e não cair em ‘vazios religiosos’. Uma pessoa que não controla sua língua, seu modo de falar, engana a si próprio, e sua religião não serve para nada (v.26).
[...] Aos olhos de Deus, uma religião pura e imaculada tem tanto a ver com o que fazemos como com o que deixamos de fazer. Em parte por ter suas raízes nos movimentos de renovação da santidade, em parte por causa de sua rejeição ao ‘movimento do evangelho social’ do início do século vinte, os pentecostais foram rápidos em realçar a santidade das pessoas e lentos ao se pronunciar a respeito da responsabilidade social. Tiago nos lembra que isso não é uma questão de ‘fazer isto ou aquilo’ mas de fazer ‘tanto isto como aquilo’” (STRONSTAD, Roger; ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 4ª Edição, RJ: CPAD, 2004, pp.1669,70).

SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
 O cuidado ao falar e a Religião pura
 Há na atualidade pouca disposição em se ouvir, estudar, entender, compreender para expor um assunto. Não! Muitos querem falar sobre tudo. Ainda não se tem a maturidade intelectual e querem sair por aí questionando e opinando sobre todos os temas.
Ouvir é uma arte. Quando se ouve alguém, quer através da comunicação verbal, escrita ou oral, quer através da comunicação não verbal, admiti-se a possibilidade de aprender para conhecer. Como ensinar se não aprendemos? Espera-se de quem fala sobre um assunto o mínimo do conhecimento necessário a respeito do tema proposto.
Professor, você deve ter lido livros sobre como melhorar uma Escola Dominical. As dicas são muitas: Marketing, café da manhã entre professores, café da manhã trimestral; passeio no parque etc. Mas uma questão fundamental quase nunca focada é o bom planejamento da aula do professor. Ou seja, se o professor não tiver conteúdo de nada adiantarão fazer cafés, passeios e marketing para desenvolver a ED. Mas para se ter conteúdo é preciso estar disposto a ouvir. Este é o ensino central desta seção bíblica de Tiago.
Nas seções anteriores (1.2-18) o assunto central era a necessidade de pedirmos a sabedoria do alto. Na seção atual o escritor disseca mais sobre como devemos usar esta sabedoria na comunidade cristã ou fora dela. Os crentes deveriam se apresentar coerentes com o Evangelho. Na concepção do meio-irmão do Senhor é impossível que o discípulo de Cristo tenha um comportamento dobre. De que adianta falar “Deus Pai Todo-Poderoso” e não viver segundo a vontade de Deus Pai? Não é o discurso que determina quem somos, mas a nossa ação.
Vivemos uma geração do discurso vazio: “Tudo posso!”, “Sou mais que vencedor”, “É só vitória!”. Mas estas palavras não passam de discursos pobres, desprovidos de uma consciência oriunda do Evangelho. As pessoas não saberão o tipo de fé ou sabedoria que tem pelo seu discurso, mas pelas suas ações. Se elas falam na hora certa; do modo certo; se em tudo o que fazem aparece o respeito, a ternura, o amor. Virtudes estas intensamente comunicadas ao homem pelo Evangelho. Primeiro ouçamos com atenção! Depois falemos!


SUBSIDIOS
Elaboração: Escriba Digital

Palavra Chave
Religião: Neste livro são crenças e práticas relacionadas à convicção de que há algo ou alguém superior ao ser humano individual, uma devoção a tudo que é considerado sagrado, que unem seus seguidores numa mesma comunidade moral, chamada Igreja.

INTRODUÇÃO
 Muitos cristãos precisam parar de se enganar. A ênfase desta lição é sobre o engano próprio. “Enganando-se a si mesmo” (Tg 1.22 — NVI); “engana-se a si mesmo” (Tg 1.26). Se um cristão peca porque Satanás o engana, é uma coisa. Mas se o cristão engana a si mesmo, a questão é muito mais séria.
Muita gente engana a si mesma convencendo-se de que tem a salvação, quando, na verdade, pode ser que não tenha (Ver Mt 7.22,23). No entanto, há cristãos autênticos que enganam a si mesmos com respeito à sua vida com Deus. Pensam que são espirituais, quando, na verdade, não o são. Uma das características da pessoa madura é a capacidade de olhar para si mesma com honestidade, conhecer a si mesma e reconhecer suas necessidades.
A realidade espiritual é resultante de um relacionamento correto com Deus por meio de Sua Palavra. A Palavra de Deus é verdade (Jo 17.17), e se nos relacionamos corretamente com a verdade de Deus, não é possível ser desonestos nem hipócritas. Nestes versículos, Tiago afirma que temos três responsabilidades para com a Palavra de Deus e, se cumprirmos as três, teremos uma vida cristã bem melhor, e não apenas uma religião aparente.

I. PRONTO PARA OUVIR E TARDIO PARA FALAR (Tg 1.19,20)
 1. Pronto para ouvir. A comunicação é a chave para um relacionamento saudável. Dependendo da maneira como nos comunicamos, podemos dar vida ou matar um relacionamento. No século da comunicação virtual, estamos cada vez mais próximos das máquinas e mais distantes das pessoas. O verdadeiro crente deve saber se controlar tanto verbal quanto emocionalmente. Deve saber lidar com a palavra e também com a ira. Analisaremos o conselho de Tiago.
Em primeiro lugar, ele deve ser pronto para ouvir (1.19a). O termo “pronto”, no grego, é táxys, de onde vem nossa palavra táxi (rápido). O táxi é um carro de serviço. Ele deve estar sempre disponível. Seu objetivo é atender o cliente, sempre. Se vamos usar um táxi, é porque temos pressa. Não podemos esperar.
Assim ocorre também com a comunicação. Devemos ter rapidez para ouvir. Zenão, o pensador antigo, dizia: “Temos dois ouvidos, mas apenas uma boca; assim podemos escutar mais e falar menos”. Temos de considerar ainda que nossos ouvidos são externos, mas nossa língua está amuralhada de dentes. E preciso que estejamos prontos para ouvir a voz de Deus, a voz da consciência, a voz de nosso próximo. Hoje estamos perdendo o interesse em ouvir, e o resultado disso é a família em desarmonia, é a sociedade fragmentada. Se nós estivéssemos prontos para ouvir, com a mesma disposição que estamos prontos a falar, certamente haveria menos ira e mais encontros abençoadores e saudáveis entre nós.
Ouvir é uma arte difícil de se dominar, pois significa ter um forte interesse pela pessoa que está falando. Ouvir é a arte de fechar a boca e abrir os ouvidos e o coração. Ouvir é amar o próximo como a si mesmo: suas preocupações e problemas são importantes o suficiente para serem ouvidos.
“O que guarda a sua boca conserva a sua alma, mas o que muito abre os seus lábios tem perturbação” (Pv 13.3). “Tens visto um homem precipitado nas suas palavras? Maior esperança há dum tolo do que dele” (Pv 29.20). “Não te apresses no teu espírito a irar-te, porque a ira abriga-se no seio dos tolos” (Ec 7.9). A pessoa verdadeiramente sábia e piedosa nas Escrituras não é a que sempre tem algo a dizer, mas é a pessoa que ouve os outros, que considera tudo em espírito de oração e só então fala em termos moderados.
Precisamos também ouvir o que a palavra de Deus tem a nos dizer, caso contrário o Eterno não opera em nossa vida a menos que possamos dar ouvidos a Sua Palavra. Jesus não disse apenas “Considerem atentamente o que vocês estão ouvindo” (Mc 4.24 — NVI), mas também “Vede pois como ouvis” (Lc 8.18). Muitas pessoas encontram-se na triste situação em que “vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem” (Mt 13.13).

2. Tardio para falar. Em segundo lugar, ele deve ser tardio para falar (1.19b). Para ouvir eles deveriam ser rápidos e dispostos, mas para falar deveriam ser tardios. Precisamos estar atentos sobre o que falamos, como falamos, quando falamos, com quem falamos e por que falamos. John MacArhur Jr. comenta sobre essa questão do muito falar: “É estimado que, em média, as pessoas falam 18.000 palavras em um dia, o suficiente para preencher 54 páginas de um livro. Em um ano, esse montante será suficiente para preencher 66 volumes de 800 páginas!... Assim, em média, as pessoas passam um quinto de seu tempo de vida falando”.
A palavra “tardio”, no grego, é brádys. Essa palavra dá a ideia de uma pessoa que tem dificuldades intelectuais para compreender logo de início o que lhe foi dito; e necessita, portanto, de tempo para reflexão. O que Tiago quer dizer é que devemos refletir primeiro, e não falar de imediato. É preciso saber a hora de falar e também o que falar. O que temos a dizer é verdadeiro? E oportuno? Edifica? Transmite graça aos que ouvem?
Geralmente falamos antes de pensar, de ouvir, de orar, de medir as consequências. Devemos ter muito cuidado com isso, pois: “A morte e a vida estão no poder da língua...” (Pv 18.21). As palavras podem dar vida ou matar.
Há um provérbio inglês que diz: “Tu és senhor da palavra não dita; a palavra dita é teu senhor”. Por isso, Davi orava a Deus e pedia: “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca: guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141.3). Sócrates dizia que precisamos sempre passar nossas palavras por três peneiras: é verdade?; é com a pessoa certa?; é oportuno?

3. Controle a sua ira. Em terceiro lugar, ele deve ser tardio para irar-se (1.19). Novamente encontramos o termo brádys. Tiago está dizendo que a ira deve ser tratada com reflexos lentos. A maior demonstração de força está no autodomínio, e não no domínio sobre os outros. “Melhor é o longânimo do que o valente, e o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade” (Pv 16.32). Em geral, a ira humana é desgovernada, destruidora e pecaminosa. É obra da carne, e não opera a justiça de Deus.
Há dois perigos com respeito à ira: primeiro, a explosão da ira, ou seja, o temperamento indisciplinado. Segundo, a implosão da ira, ou seja, o temperamento encavernado. Uns atacam e quebram tudo à sua volta quando estão irados. Outros guardam a ira e levam-na para o seu interior. Mas essa fera enjaulada destrói tudo por dentro: a saúde, a paz e a comunicação com Deus e com o próximo.
Precisamos aprender a lidar com nossos sentimentos. Um indivíduo temperamental provoca grandes transtornos na família, no trabalho, na igreja e na sociedade. Muitas pessoas tentam encobrir seus pecados dizendo que são sinceras, que não levam desaforo para casa e que, depois de explodirem, tudo volta à normalidade. O problema é que, na explosão da ira, elas jogam estilhaços para todos os lados. Alguém que não tem domínio próprio fere e machuca quem está ao seu redor. Por outro lado, o congelamento da ira é um mal terrível. Há muitos que ficam como um vulcão em efervescência. Estão em aparente calma, mas as lavas incandescentes lhes queimam por dentro. A mágoa produz grandes transtornos. Onde ela prevalece, reina a doença, e Satanás acaba levando vantagem (2Co 2.11).

II. PRATICANTE E NÃO APENAS OUVINTE DA PALAVRA (Tg 1.21-25)
 1. Enxertai-vos da Palavra (v.21). Nestes últimos tempos, o Senhor tem derramado Sua Palavra em profusão. Você tem recebido muito. Mas é o momento de se perguntar: “Como tenho recebido tudo isso?”. O que o Senhor lhe dá é sempre precioso, uma semente boa que tem em si toda a capacidade de gerar frutos. Que tipo de terreno tem sido seu coração? O próprio Jesus se preocupa com isso. Então, apresenta a Parábola do Semeador (ver Mt 13.4-9).
É o momento de se perguntar: “Que tipo de terreno tenho sido?”. Existe aquele terreno que acolhe a Palavra, mas não a retém, não a guarda, recebe a Palavra apenas festivamente (com leviandade), mas não a acolhe, não tem profundidade. Então, o que acontece? Lá está o demônio, girando em torno dele, querendo arrancar-lhe a semente da Palavra. O demônio age sempre assim, não quer que a Palavra caia em seu coração e produza frutos em sua vida. Como ave faminta, procura sempre arrebatar a semente quando ela começa a frutificar.
Há outro tipo de terreno: o solo pedregoso. A Palavra caiu e você a acolheu com alegria, mas não a deixou que fincasse raízes. O próprio Jesus explica essa inconstância: sobrevindo uma dificuldade, um problema, uma tribulação ou perseguição por causa dela [Palavra], logo você a deixa. E como temos agido assim! Parece que não temos força nenhuma, nem qualquer coragem, somos cristãos sem fibra, sem têmpera, pensando que Deus Pai deve nos tratar como “filhinhos de papai”, retirando todas as dificuldades e os problemas do nosso caminho. Diante da primeira tribulação, somos já terreno pedregoso, onde a Palavra não pode fincar raízes.
Outro tipo de terreno é aquele cheio de espinhos. Você ouviu bem a Palavra, com alegria, recebeu, acolheu, mas os cuidados do mundo e a sedução das riquezas a sufocam e a tornam infrutuosa. Infelizmente, isso tem acontecido com muita gente! Recebem a Palavra, passam pela conversão, são batizados no Espírito Santo, os dons afloram... mas os cuidados deste mundo, os trabalhos, os afazeres, as riquezas, o conforto, o comodismo, os compromissos sociais e tantas outras coisas vão sufocando a graça recebida e tudo vai embora.
Muitos cristãos começaram bem, caminharam por um bom tempo, mas não abriram mão da vida que viviam, do caminho que estavam trilhando. Quiseram ser cristãos, mas ao mesmo tempo, viver a vida antiga. Então, tudo que receberam se esvaziou. Os compromissos sociais, as reuniões, as festas, o conforto, a necessidade de ter mais dinheiro, a necessidade de seguir a moda, tudo isso foi sufocando a Palavra, a graça, o Espírito Santo com Seus dons e frutos... e tudo se foi. Será que você não tem sido esse terreno?
Por fim, Jesus fala da semente caída num terreno bom. Ele nem fala de um terreno especial, mas de um terreno bom em que a semente caiu e frutificou. Um terreno que acolheu a Palavra e produziu frutos. É preciso que sejamos assim!
Você tem recebido muito, graças a Deus! O Senhor está investindo em você. Não desperdice a graça tão abundante que tem sido derramada em sua vida.

2. Praticai a Palavra (vv.22-24). “E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos” — essa exortação diz respeito ao cidadão que se autocongratula pelo elevado conhecimento que tem das Escrituras e pelo domínio das tradições apostólicas concernentes a Jesus. Não é que tal pessoa tenha falhado, deixando de aprender o ensino apostólico. Esse irmão pode ser erudito nas Escrituras, um “escriba” especializado nas palavras de Jesus. Todavia, representa os que são somente ouvintes. Pouco importa a tremenda extensão do conhecimento escriturístico do crente e quão espantosa sua memória: se isso é tudo que há, não passa de auto-engano.
“Sede cumpridores da palavra” — este é o ponto crucial. O que vale é o que o crente faz, não o que ele sabe. O verdadeiro conhecimento serve de prelúdio à ação; no fim, o que conta é a obediência à palavra.
Tendo declarado sua tese no versículo anterior, Tiago agora ilustra a posição dos somente ouvintes com uma metáfora tirada da vida diária. Eles são como a pessoa que pela manhã examina seu rosto ao espelho. Cuidou da barba, o cabelo está bem penteado, ou a maquiagem foi bem aplicada. Nesse momento, contemplar-se a si próprio no espelho é ocupação que lhe toma tempo. Contudo, terminadas as abluções e os cuidados matinais, cessa toda atenção à aparência física; a pessoa esquece-se de imediato de como era. Com frequência a pessoa trabalha o dia inteiro na base de uma auto-imagem que nem sempre condiz com a realidade. Se no caso do conhecimento das Escrituras ocorrer o mesmo, a erudição escriturística, ou a teologia da pessoa tem exatamente o mesmo valor para sua vida, que o valor daquele exame facial matutino.

3. Persevere ouvindo e agindo (v.25). Já imaginou se Deus mandasse um anjo para se sentar do nosso lado durante alguns dias só para anotar tudo aquilo que fazemos? Se ele viesse para observar as atitudes, os pensamentos, as reações que temos nos nossos relacionamos e em nossa fala? Aí, imagine que a partir de tudo que o anjo tivesse ouvido, ele começasse a escrever um manual de descrição bíblica da nossa vida e anotar a partir da nossa conduta e ação tudo aquilo que estivesse casando com a Palavra de Deus. Quantos versículos ou princípios bíblicos comporiam nosso manual de descrição bíblica?
Na prática, creio que a exortação de Tiago expresse algo assim: que perseveremos ouvindo e agindo de tal forma que nossa vida reflita em todos seus aspectos a própria Palavra. Mas para que isso aconteça, precisamos ser praticantes da palavra. Literalmente, o texto diz que devemos “atentar bem” para Palavra. Ouvir, sem praticar, para Tiago e para nosso Senhor, não passa de loucura e autoengano. A palavra implantada que tem poder para salvar é imprescindível, mas tem de ser praticada com perseverança.
Muito diferente é o indivíduo que “atenta bem para a lei perfeita da liberdade”. Duas palavras contrastam a seriedade com que ele atenta para a Palavra: 1) “atenta bem”(Gr. parakupsas — a palavra que comunica a maneira como João olhou para o sepulcro de onde Jesus ressurgira pouco antes, em João 20.5); 2) persevera (Gr. parameinas) que sugere que, além de se preocupar com o ensino da Palavra, ele continua praticando a Palavra.
Não estamos tentando afirmar com isso que colocar em prática tudo aquilo que ouvimos de Deus é fácil. Quando Jesus chamou o apóstolo Paulo para ser seu discípulo, ele disse que mostraria para este o quanto lhe importava sofrer pelo seu nome (At 9.16). Em algumas ocasiões até mesmo os discípulos foram desafiados na sua forma de pensar, para que entendessem que o chamado que Deus tinha para eles era um chamado para perseverar, porque haveria muitas dificuldades pela longa jornada que teriam pela frente ao seu lado.
Também não podemos esperar vida fácil. Quando a Palavra nos diz que devemos confessar nossos pecados uns aos outros, em nenhum lugar afirma-se que isso seria fácil. Ou que devemos suportar as falhas uns dos outros. Ou perdoar constantemente alguém. Nada disso acontece naturalmente. Mas se torna mais fácil à medida que perseveramos em colocar essas verdades em prática.

III. A RELIGIÃO PURA E VERDADEIRA (Tg 1.26,27)
 1. A falsa religiosidade. A palavra traduzida religião é threskeia e seu significado não é tanto religião como a expressão religiosa externa mediante ritual, liturgia e cerimônias. O que Tiago está dizendo é isto: “O mais belo ritual e a mais excelente liturgia que podem oferecer a Deus é o serviço aos pobres e a pureza pessoal”. Para Tiago, o verdadeiro culto não reside em elaboradas vestimentas, prazerosa liturgia, música majestosa e cerimônias cumpridas à perfeição, mas sim consiste no serviço prático à humanidade e na pureza da própria vida pessoal.
Tiago está confirmando que os aspectos externos de atividades religiosas não são aceitáveis para Deus a menos que estejam acompanhados de uma vida santa e um serviço de amor. Ritos e rituais nunca foram um substituto adequado para serviço e sacrifício. A adoração coletiva dentro da igreja não pode ocupar o lugar de obras individuais fora da igreja. A profissão pessoal de fé deve estar associada à expressão pública da fé pessoal.
Tiago alerta para o perigo de um temperamento doente e explosivo e de uma língua solta (1.19,26). Jesus disse que a pessoa que nutre raiva, cujo sentimento desemboca em ofensa ao próximo, é passível do fogo do inferno (Mt 5.22). Jesus disse: “Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado” (Mt 12.36,37). Tiago compara a língua com um cavalo fogoso sem freios, com um navio sem leme que pode espatifar-se nas rochas, com uma fagulha que incendeia uma floresta, com uma fonte contaminada, com uma árvore que produz frutos venenosos, com um mundo de iniquidade ou com uma fera indomável. Jesus disse que é a língua que revela o coração (Mt 12.34-35). Uma língua controlada significa um corpo controlado (3.1), mas uma língua desgovernada provoca grandes tragédias. A maledicência é o pecado que Deus mais abomina (Pv 6.19). A palavra irrefletida, a conversa torpe, a mentira leviana, as acusações maldosas, as orquestrações urdidas na calada da noite para destruir a dignidade das pessoas são provas incontestáveis do grande poder destruidor da língua, assunto este que trataremos na lição 8.

2. A verdadeira religião (v.27). Uma vez que os órfãos e viúvas não tinham assistência na sociedade antiga, eram exemplos típicos daqueles que precisavam de ajuda. Além da caridade amplificada, a manutenção da pureza pessoal é outro meio pelo qual a verdadeira religião se expressa. O cuidado dos necessitados não é o conteúdo do cristianismo, mas sua expressão. A preocupação prática da religião de uma pessoa é o cuidado pelos outros. A religião é a prática da fé. É a fé em ação. Seremos julgados com base nesse aspecto prático da religião (Mt 25.34-46). Quando nos olhamos no espelho da Palavra, nós vemos a Deus, a nós mesmos e, também, o nosso próximo (Is 6.3-8). Palavras não substituem obras (2.14-18; 1Jo 3.11-18).
Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições não é apenas cortesia pietista. O serviço aos pobres e enfermos, o anunciar o evangelho aos perdidos, não deve ser deixado para comissões ou para a caridade organizada. Não é um desencargo de consciência. Trata-se de socorro, de envolvimento, de empatia, de compaixão manifestada na ajuda concreta e no suprimento das necessidades reais daqueles que carecem e sofrem.
Além de pregarmos o Evangelho, também devemos ajudar os necessitados e assim poderemos dizer que vivemos um cristianismo prático por completo. Diante disso, o melhor exemplo para nós é Dorcas, uma mulher que nos mostra que ter fé em Cristo é sinônimo de ajudar o próximo. Ela entregou-se a Jesus por completo e além de se sentir abençoada com sua decisão, também se permitiu ser uma bênção para os necessitados (Ver Atos 9.36-42).

3. Guardando-se da corrupção (v.27). A religião verdadeira não é um simples ritual, não é misticismo ou encenação, mas é ter uma vida separada para Deus. É guardar-se incontaminado do mundo, ou seja, do sistema de valores pervertidos, corruptos, sujos, imorais e inconsequentes. Esses desbastam os valores de Deus, corroem os absolutos da Palavra e instauram o relativismo, o conformismo, o imediatismo e o hedonismo que levam ao comprometimento com o pecado.
Ser religioso autêntico é inconformar-se com os conformismos do mundo, para conformar-se com os inconformismos de Deus. A religião que agrada ao Senhor é rechaçar o mal ainda que mascarado de bem. O mundo é atraente. Ele arma um cenário encantador para nos atrair. Contudo, o mundo jaz no maligno. James Boyce, corretamente afirma: “Nós vivemos, como Tiago, em uma época caracterizada por imundície moral. O perigo da contaminação pelo mundo por meio de suas diversões, revistas, livros e a vida do dia-a-dia, é algo que nós conhecemos muito bem. Tiago está dizendo que devemos nos manter livres de tudo isso e que não devemos ser contaminados com tais coisas”. Portanto, estamos no mundo não para que ele nos contamine, mas para sermos nele instrumentos de transformação.

CONCLUSÃO
 Quando Tiago diz que há uma religião pura e sem mácula aceitável diante de Deus, significa dizer que há uma religião que não é aceitável para Deus. Qual é ela? É aquela apenas de palavras, de uma fé que não tem obras. Segundo, bênção pessoal (1.25): “... este será bem-aventurado no que fizer”. Você quer que Deus o abençoe? Então, leia a Palavra, descubra o que ela diz e viva de acordo com a Palavra.
A igreja deve enfatizar o conceito de religião conforme elaborado por Tiago e fazer dele um requisito obrigatório para qualquer um que deseja tomar-se membro da igreja? Certamente! A igreja deve ensinar a verdade das Escrituras registradas nesta parte da Epístola de Tiago. O princípio da religião pura e imaculada é amar a Deus e ao próximo.

A RELIGIÃO PURA.
1.27 A RELIGIÃO PURA E IMACULADA. Tiago fala de dois princípios que definem o conteúdo do verdadeiro cristianismo.

(1) O amor genuíno pelos necessitados. Nos dias do NT, os órfãos e as
viúvas tinham poucos meios de auto-sustento; em muitos casos, não tinham ninguém para cuidar deles. Esperava-se da parte dos crentes que lhes demonstrassem o mesmo cuidado e amor que Deus revela aos órfãos e às viúvas (ver Dt 10.18; Sl 146.9; Mt 6.32; Dt 24.17; Sl 68.5 ). Hoje, entre nossos irmãos e irmãs em Cristo, há os que precisam de ajuda e cuidados. Devemos procurar aliviar suas aflições e sofrimentos e, dessa maneira, mostrar-lhes que Deus tem cuidado deles (ver Lc 7.13 nota; cf. Gl 6.10; ).

(2) Conserva-se santo diante de Deus. Tiago diz que o amor ao próximo deve estar acompanhado do amor a Deus, expresso na separação das práticas pecaminosas do
mundo. O amor ao próximo deve estar acompanhado da santidade diante de Deus; doutra forma, não é amor cristão

SOBRE OS POBRES E NECESSITADOS.
Am 5.12-14 “Porque sei que são muitas as vossas transgressões e enormes os vossos pecados; afligis o justo, tomais resgate e rejeitais os necessitados na porta. Portanto, o que for prudente guardará silêncio naquele tempo, porque o tempo será mau. Buscai o bem e não o mal, para que vivais; e assim o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis.”

Neste mundo, onde há tanto ricos quanto pobres, freqüentemente os que têm abastança material tiram proveito dos que nada têm, explorando-os para que os seus lucros aumentem continuamente (ver Sl 10.2, 9,10; Is 3.14,15; Jr 2.34; Am 2.6,7; 5.12,13; Tg 2.6). A Bíblia tem muito a dizer a respeito de como os crentes devem tratar os pobres e necessitados.

O ZELO DE DEUS PELOS POBRES E NECESSITADOS. Deus tem expressado de várias maneiras seu grande zelo pelos pobres, necessitados e oprimidos.

(1) O Senhor Deus é o seu defensor. Ele mesmo revela ser deles o refúgio (Sl 14.6; Is 25.4), o socorro (Sl 40.17; 70.5; Is 41.14), o libertador (1Sm 2.8; Sl 12.5; 34.6; 113.7; 35.10; cf. Lc 1.52,53) e provedor (cf. Sl 10.14; 68.10; 132.15).

(2) Ao revelar a sua Lei aos israelitas, mostrou-lhes também várias maneiras de se eliminar a pobreza do meio do povo (ver Dt 15.7-11 nota). Declarou-lhes, em seguida, o seu alvo global: “Somente para que entre ti não haja pobre; pois o SENHOR abundantemente te abençoará na terra que o SENHOR, teu Deus, te dará por herança, para a possuíres” (Dt 15.4). Por isso Deus, na sua Lei, proibe a cobrança de juros nos empréstimos aos pobres (Êx 22.25; Lv 25.35,36). Se o pobre entregasse algo como “penhor”, ou garantia pelo empréstimo, o credor era obrigado a devolver-lhe o penhor (uma capa ou algo assim) antes do pôr-do-sol. Se o pobre era contratado a prestar serviços ao rico, este era obrigado a pagar-lhe diariamente, para que ele pudesse comprar alimentos a si mesmo e à sua família (Dt 24.14,15). Durante a estação da colheita, os grãos que caíssem deviam ser deixados no chão para que os pobres os recolhessem (Lv 19.10; Dt 24.19-21); e mais: os cantos das searas de trigo, especificamente, deviam ser deixados aos pobres (Lv 19.9). Notável era o mandamento divino de se cancelar, a cada sete anos, todas as dívidas dos pobres (Dt 15.1-6). Além disso, o homem de posses não podia recusar-se a emprestar algo ao necessitado, simplesmente por estar próximo o sétimo ano (Dt 15.7-11). Deus, além de prover o ano para o cancelamento das dívidas, proveu ainda o ano para a devolução de propriedades — o Ano do Jubileu, que ocorria a cada cinqüenta anos. Todas as terras que tivessem mudado de dono desde o Ano do Jubileu anterior teriam de ser devolvidas à família originária (ver Lv 25.8-55). E, mais importante de tudo: a justiça haveria de ser imparcial. Nem os ricos nem os pobres poderiam receber qualquer favoritismo (Êx 23.2,3,6; Dt 1.17; cf. Pv 31.9). Desta maneira, Deus impedia que os pobres fossem explorados pelos ricos, e garantia um tratamento justo aos necessitados (ver Dt 24.14).

(3) Infelizmente, os israelitas nem sempre observavam tais leis. Muitos ricos tiravam vantagens dos pobres, aumentando-lhes a desgraça. Em conseqüência de tais ações, o Senhor proferiu, através dos profetas, palavras severas de juízo contra os ricos (ver Is 1.21-25; Jr 17.11; Am 4.1-3; 5.11-13; Mq 2.1-5; Hc 2.6-8; Zc 7.8-14).

A RESPONSABILIDADE DO CRENTE NEOTESTAMENTÁRIO DIANTE DOS POBRES E NECESSITADOS. No NT, Deus também ordena a seu povo que evidencie profunda solicitude pelos pobres e necessitados, especialmente pelos domésticos na fé.

(1) Boa parte do ministério de Jesus foi dedicado aos pobres e desprivilegiados na sociedade judaica. Dos oprimidos, necessitados, samaritanos, leprosos e viúvas, ninguém mais se importava a não ser Jesus (cf. Lc 4.18,19; 21.1-4; Lc 17.11-19; Jo 4.1-42; Mt 8.2-4; Lc 17.11-19; Lc 7.11-15; 20.45-47). Ele condenava duramente os que seapegavam às possessões terrenas, e desconsideravam os pobres (Mc 10.17-25; Lc 6.24,25; 12.16-20; 16.13-15,19-31).

(2) Jesus espera que seu povo contribua  generosamente com os necessitados (ver Mt 6.1-4). Ele próprio praticava o que ensinava, pois levava uma bolsa da qual tirava dinheiro para dar aos pobres (ver Jo 12.5,6; 13.29). Em mais de uma ocasião, ensinou aos que o queriam seguir a se importarem com os marginalizados econômica e socialmente (Mt 19.21; Lc 12.33; 14.12-14,16-24; 18.22). As contribuições não eram consideradas opcionais. Uma das exigências de Cristo para se entrar no seu reino eterno é mostrar-se generoso para com os irmãos e irmãs que passam fome e sede, e acham-se nus (Mt 25.31-46).

(3) O apóstolo Paulo e a igreja primitiva demonstravam igualmente profunda solicitude pelos necessitados. Bem cedo, Paulo e Barnabé, representando a igreja em Antioquia da Síria, levaram a Jerusalém uma oferta aos irmãos carentes da Judéia (At 11.28-30). Quando o concílio reuniu-se em Jerusalém, os anciãos recusaram-se a declarar a circuncisão como necessária à salvação, mas sugeriram a Paulo e aos seus companheiros “que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência” (Gl 2.10). Um dos alvos de sua terceira viagem missionária foi coletar dinheiro “para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém” (Rm 15.26). Ensinava as igrejas na Galácia e em Corinto a contribuir para esta causa (1Co 16.1-4). Como a igreja em Corinto não contribuisse conforme se esperava, o apóstolo exortou demoradamente aos seus membros a respeito da ajuda aos pobres e necessitados (2Co 8;9). Elogiou as igrejas na Macedônia por lhe terem rogado urgentemente que lhes deixasse participar da coleta (2Co 8.1-4; 9.2). Paulo tinha em grande estima o ato de contribuir. Na epístola aos Romanos, ele arrola, como dom do Espírito Santo, a capacidade de se contribuir com generosidade às necessidades da obra de Deus e de seu povo (ver Rm 12.8 nota; ver 1Tm 6.17-19).


(4) Nossa prioridade máxima, no cuidado aos pobres e necessitados, são os irmãos em Cristo. Jesus equiparou as dádivas repassadas aos irmãos na fé como se fossem a Ele próprio (Mt 25.40, 45). A igreja primitiva estabeleceu uma comunidade que se importava com o próximo, que repartia suas posses a fim de suprir as necessidades uns dos outros (At 2.44,45; 4.34-37). Quando o crescimento da igreja tornou impossível aos apóstolos cuidar dos necessitados de modo justo e equânime, procedeu-se a escolha de sete homens, cheios do Espírito Santo, para executar a tarefa (At 6.1-6). Paulo declara explicitamente qual deve ser o princípio da comunidade cristã: “Então, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.10). Deus quer que os que têm em abundância compartilhem com os que nada têm para que haja igualdade entre o seu povo (2Co 8.14,15; cf. Ef 4.28; Tt 3.14). Resumindo, a Bíblia não nos oferece outra alternativa senão tomarmos consciência das necessidades materiais dos que se acham ao nosso redor, especialmente de nossos irmãos em Cristo.


COMENTÁRIO BÍBLICO TIAGO 1.19-27
1:19 / Tiago deliberadamente faz um paralelo com o estilo de 1:16, ao advertir: Sabei isto, meus amados irmãos. Tiago 1:16-18 discute a sabedoria como uma dádiva da vida que veio de Deus (cf. 1:5-8); vem agora o tópico relacionado — a pessoa sábia controla a língua (cf. 3:1-18), visto que a ética relacionada às
palavras constituía tópico de suma importância tanto na literatura judaica como no mundo em que Tiago vivia. Prossegue Tiago com um provérbio: Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar. Não importa quão chocante esse ditado possa parecer ao homem da era moderna, caracterizada pelo lema: “expresse seus sentimentos”, esse provérbio era considerado sabedoria plenamente aceitável nos tempos bíblicos: “O que guarda a sua boca preserva a sua alma, mas o que muito abre os seus lábios tem perturbação” (Provérbios 13:3). “Tens visto um homem precipitado nas suas palavras? Maior esperança há para o tolo do que para ele” (Provérbios 29:20). “Não te apresses no teu espírito a irar-te, pois a ira abriga-se no seio dos tolos” (Eclesiastes 7:9). A pessoa verdadeiramente sábia e piedosa nas Escrituras não é a que sempre tem algo a dizer, mas é a pessoa que ouve os outros, que considera tudo em espírito de oração e só então fala em termos moderados. Tiago considera esse provérbio não só como uma verdade pessoal para cada crente, mas também parte de seu interesse pela harmonia comunitária. Em 3:1 ele assinala os conflitos entre os mestres que em 3:13-18 podem conduzir ao espírito partidário e ao ciúme. Tais mestres eram bem conhecidos na igreja primitiva, encorajados pelos que estavam embebedados pelo vinho pesado do Espírito recentemente derramado, e preocupados com seu dom ou ministério, e não com o bemestar da igreja. Tiago aconselha que haja prudência e que se ouça bastante, em vez do falatório intempestivo e da denúncia aguda.

1:20 / Mas o que você acha da indignação justa? A ira do homem não opera a justiça de Deus. Tiago não declara suas razões por que fez essa afirmação, mas vários motivos aparecem no Novo Testamento. Primeiramente, os sentimentos de ira, uma vez liberados e expressos, são por natureza imoderados e incontroláveis, o que levou até os escritores pagãos helenísticos a condenar a ira. Em segundo lugar, a ira é incompatível com os ensinos de Jesus, de modo particular seu ensino quanto a amarmos nossos inimigos (Mateus 5:38-48) e sua condenação do ódio entre irmãos (Mateus 5:21-26). Em terceiro lugar, a ira humana usurpa a função exclusiva de Deus como juiz e vingador. Em 5:7-9 Tiago diz que o crente deve
esperar pela vingança de Deus e não pode vingar-se por sua própria conta. Ensino semelhante encontramos em Hebreus 10:30-39, Romanos 12:19 e reiteradamente em 1 Pedro. A reação adequada ao sofrimento é a humildade e a perseverança, visto que Deus é o único Juiz verdadeiro. É por tudo isso que a ira humana não
opera a justiça de Deus, ou no sentido de que não trará a justiça que Deus vai estabelecer no último dia (que é a idéia que Tiago poderia ter em mente aqui; cf. 5:7-11), ou no sentido de não atingir os atuais padrões elevados da justiça de Deus. Basta que reflitamos um pouco no assassinato impulsivo que Moisés cometeu, ao matar o feitor egípcio (Êxodo 2:11-16) para descobrirmos uma bela ilustração desse princípio.

1:21 / Pelo que, despojando-vos de toda impureza e de todo vestígio do mal... Essa é uma frase negativa; a ênfase desse versículo recai claramente em algo positivo (recebei com mansidão a palavra), mas essa parte negativa é um prelúdio necessário. Se a pessoa não reconhecer o pecado pelo que ele é, se não cessar de justificá-lo, se não rejeitá-lo com decisão, o progresso espiritual será impossível. Assim é que, ao dizer despojando-vos, Tiago emprega o termo apropriado à conversão, assemelhando essa à troca de vestes imundas. A expressão toda impureza pode significar qualquer imundícia moral, especialmente a lascívia. Mas o autor focaliza a ira, ou falar mal do próximo, ao mencionar um mal tão prevalecente, que está implícito em todo vestígio do mal. É preciso erradicar do coração sem reservas não só a ira, que se manifesta externamente, mas toda a malícia também. Erradicada a malícia, o crente está apto a receber com mansidão a palavra em vós implantada. Esses crentes já receberam a “palavra” do evangelho, pois são membros da comunidade cristã. Todavia, a palavra já plantada em seus corações deve ser posta em prática, confirmando sua aceitação, para que ela salve tais pessoas. Não é suficiente que a pessoa esteja convencida a respeito de Jesus; a pessoa deve entregar-se a Cristo, aceitar seu ensino, e essa fidelidade é o estilo de nova vida que Tiago está propondo. Ao prometer dedicar tal fidelidade ao Senhor, os crentes demonstram que receberam com mansidão a palavra, pois submetem-se a Deus. Tiago escreveu em grego “com humildade”, indicando a submissão devida a Deus, em contraposição ao auto-engrandecimento, demonstrado pelo palavrório imprudente e pela ira. A mansidão é um gomo do fruto do Espírito (Gálatas 5:23; Tiago 3:13), e a marca de todos quantos recebem o reino (Mateus 5:5). Nesse contexto, a mansidão é uma convocação a que o crente se humilhe diante de Deus e acate a ordem de deixar a vingança em suas mãos, que não rejeite o ensino do evangelho e não se vingue por conta própria. Essa humilde aceitação dos ensinos de Jesus produz um efeito salvífico.

1:22 / O tópico de aceitar a palavra, ou de a ela obedecer, leva Tiago a mudar de assunto; ele deixa o tema da prudência na língua para tratar da ação caritativa. Sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando- vos a vós mesmos — essa exortação diz respeito ao cidadão que se auto congratula pelo elevado conhecimento que tem das Escrituras e pelo domínio das tradições apostólicas concernentes a Jesus. Não é que tal pessoa tenha falhado, deixando de aprender o ensino apostólico. Esse irmão pode ser erudito nas Escrituras, um “escriba” especializado nas palavras de Jesus. Todavia, representa os que são somente ouvintes. Pouco importa a tremenda extensão do conhecimento
escriturístico do crente e quão espantosa sua memória: se isso é tudo que há, não passa de auto-engano.
Sede cumpridores da palavra — este é o ponto crucial. O que vale é o que o crente faz, não o que ele sabe. O verdadeiro conhecimento serve de prelúdio à ação; no fim, o que conta é a obediência à palavra.

1:23-24 / Tendo declarado sua tese no versículo anterior, Tiago agora ilustra a posição dos somente ouvintes com uma metáfora tirada da vida diária. Eles são como a pessoa que pela manhã examina seu rosto ao espelho. Cuidou da barba, o cabelo está bem penteado, ou a maquiagem foi bem aplicada. Nesse momento, contemplar-se a si próprio no espelho é ocupação que lhe toma tempo. Contudo, terminadas as abluções e os cuidados matinais, cessa toda atenção à aparência física; a pessoa esquece-se de imediato de como era. Com freqüência a pessoa trabalha o dia inteiro na base de uma auto-imagem que nem sempre condiz com a realidade. Se no caso do conhecimento das Escrituras ocorrer o mesmo, a erudição
escriturística, ou a teologia da pessoa tem exatamente o mesmo valor para sua vida, que o valor daquele exame facial matutino.

1:25 / Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita... e nela persevera... será bem-aventurado no que realizar. Tiago estabelece um contraste duplo. Primeiramente, o crente bem-aventurado age em função daquilo que conhece, em vez de fazer como se fora um ouvinte esquecido. Tal esquecimento não se deve à perda de memória, mas à falha em não pôr em prática o ensino numa situação
cotidiana. Tiago repete a questão, dizendo que, quando o crente pratica o que sabe, é abençoado no que realizar. É a ação que recebe ênfase. Em segundo lugar, a pessoa abençoada nela persevera, isto é, continua a agir dessa maneira. Esse tema da continuidade, da insistência, da perseverança também
ocorre em Tiago 1:2-4; 1:12; e 5:7-11. Não é a pessoa que observa momentaneamente a ordem de Cristo, e a ela obedece por um pouco, que será abençoada, mas o crente que se caracteriza pela obediência irrestrita aos mandamentos de Cristo: para esse crente eles representam seu modo de viver. Esse é o crente que de fato será bem-aventurado no que realizarO praticante da palavra de Cristo atenta bem para a lei perfeita, a da liberdadeCom isto, Tiago não se refere à regra estóica da razão, tampouco à lei judaica, mas às Escrituras judaicas devidamente interpretadas e complementadas pelos ensinos de Jesus. Noutras palavras, a lei perfeita são os ensinos e as tradições de Jesus conforme corporificadas no sermão do monte (e.g., Mateus 5:17). Paulo e Tiago concordam nesse ponto crucial: os ensinos de Jesus são obrigatórios para o cristão, não existindo outro caminho para a bênção e para a salvação. Liberdade não é libertinagem, mas capacidade para viver e cumprir “a lei de Cristo” (Gálatas 6:2; cf. Gálatas 5:13; 1 Coríntios 9:21; 7:10, 25 — nestes dois últimos versículos, o ensino de Cristo encerra a questão para Paulo). Esta lei é libertadora no sentido de que a pessoa que se submete a Cristo liberta-se da escravidão do pecado e da morte, inclusive de todo o legalismo (ninguém merece a salvação). Assim, Tiago está ensinando que o crente que vive essa liberdade é o que será abençoado por Deus, e não o indivíduo que simplesmente aprende algo sobre essa liberdade.

1:26 / Tiago encerrou sua declaração preliminar, de abertura. Falta resumir tudo de modo que haja uma transição suave para a próxima seção. Os versículos 26-27 constituem o resumo transicional. Se alguém cuida ser religioso... Noutras palavras, será que determinado crente se julga um bom cristão, muito piedoso? A ênfase está no desempenho religioso, e provavelmente inclui atos de culto como a oração, o jejum e o dízimo. Tiago não condena tais atividades, mas acrescenta o seguinte: e não refreia a sua
língua, antes engana o seu coração, a sua religião é vã. Noutras palavras, as práticas religiosas são ótimas, mas, se não vierem acompanhadas de um modo de viver ético, nada valem, são menos do que inúteis, porque se transformam em auto-enganos. O interesse específico de Tiago é o controle da língua, que é sua maneira de referir-se ao controle do palavrório irado, das explosões de raiva, da crítica ferina e das queixas (cf. 1:19; 3:1,13; 4:11-12; e 5:9). O criticismo, o julgamento e o queixume impiedosos revelam corações ainda não submetidos ao mandamento de Cristo. Trata-se de pessoas cujas práticas religiosas exteriores, conquanto cristãs, são tão salvíficas quanto a idolatria (i.e., nulas), recebendo ainda a alcunha de práticas vãs nas Escrituras (Atos 14:15; 1 Coríntios 3:20; 1 Pedro 1:18). Tiago, à semelhança de Jesus (Marcos 12:28-34; João 13:34) e os profetas (Oséias 6:6; Isaías 1:1-10; Jeremias 7:21-28), desmascaram sem piedade esse auto-engano, de modo tal que seus leitores podem reconhecer sua verdadeira condição antes que seja tarde demais.


1:27 / Em contraste com o crente piedoso, cuja língua é todavia afiada, a religião que nosso Deus e Pai considera pura e imaculada não é primordialmente ritualística, feita de hábitos piedosos, mas a que procura visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se incontaminado do mundo. A primeira
característica, a da caridade e do interesse ativo pelos indefesos e fracos, com freqüência é mencionada no Antigo Testamento (Deuteronômio 14:29; 24:17-22), bem como no Novo (Atos 6:1-6; 1 Timóteo 5:3-16). Os órfãos e as viúvas, ao lado dos estrangeiros e dos levitas, constituíam os pobres dentre o antigo Israel. A
verdadeira piedade, portanto, vai ajudar os fracos e os pobres, porque Deus é quem sustenta os oprimidos e indefesos (Deuteronômio 10:16-17). A segunda característica centraliza-se no mundo, designação comum em Paulo e em João para a cultura, os costumes e as instituições humanas (1 Coríntios 1-
3; 5:19; Efésios 2:2; João 12:31; 15:18-17; 16; 1 João 2:15-17). A verdadeira piedade não é conformação à cultura humana, mas a transformação à imagem de Cristo (Romanos 12:1-2). Para Tiago, isso significa especificamente a rejeição dos motivos da concorrência, da ambição pessoal e do acúmulo de riquezas, paixões que jazem na raiz da falta de caridade e da multiplicação de conflitos na comunidade (e.g., 4:1-4). Ao declarar que essa, e nada mais, é a verdadeira religião aos olhos de Deus, declara Tiago que a conversão é coisa vã se não conduzir a uma vida transformada.

Elabora pelo Evangelista; Natalino dos Anjos
Professor da E.B.D e pesquisador
dirigente da Congregação da A.D(missão) no Bairro Novo Horizonte
Campo de Guiratinga - Mato Grosso
Pastor Presidente; Pr Edseu Vieira.

Fonte de pesquisa.
Escriba Digital
Bíblia de Estudo Pentecostal
Comentário Bíblico Contemporaneo N.T. Tiago.





























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