Lições Bíblicas CPAD
- Jovens e Adultos
3º Trimestre de 2014
Título: Fé e Obras —
Ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica
Comentarista: Eliezer de Lira e Silva
Lição 7: A Fé se manifesta em obras
Data: 17 de Agosto de 2014
TEXTO ÁUREO
“Assim resplandeça a
vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem
o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16).
VERDADE PRÁTICA
Uma vez salvos em
Cristo, o amor, materializado por meio das boas obras, torna-se a nossa identidade
cristã.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - 1Ts 1.3 A
fé e as obras são inseparáveis
Terça - 2Ts 1.11 A
oração precede a ação
Quarta - Hb 11.17 As
obras da fé abrangem a ação
Quinta - Ap 2.19 O
Senhor conhece as nossas obras
Sexta - 2Tm 4.6-8 A
esperança fortalecida pelas obras
Sábado - At 7.60 Uma
fé a toda prova
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Tiago 2.14-26.
14 - Meus irmãos, que
aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé
pode salvá-lo?
15 - E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta
de mantimento cotidiano,
16 - e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentar-vos e
fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito
virá dai?
17 - Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si
mesma.
18 - Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras;
mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas
obras.
19 - Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também os
demônios o creem e estremecem.
20 - Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras
é morta?
21 - Porventura Abraão, o nosso pai, não foi justificado
pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho lsaque?
22 - Bem vês que a fé cooperou com as suas obras e que,
pelas obras, a fé foi aperfeiçoada,
23 - e cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em
Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.
24 - Vedes, então, que o homem é justificado pelas obras e
não somente pela fé.
25 - Ede igual modo Raabe, a meretriz, não foi também
justificada pelas obras, quando recolheu os emissários e os despediu por outro
caminho?
26 - Porque, assim como o corpo sem o espirito está morto,
assim também a fé sem obras é morta.
INTERAÇÃO
Imagine um presidente
que não governa? Um juiz que não julga? Um advogado que não advoga? Um médico
que não clinica? Um policial que não protege? Um professor que não ensina? Um
cientista que não pesquisa? Um arquiteto que não desenha? Um filósofo que não
filosofa? Imaginou? Assim é o crente que não produz boas obras. Que não ama! E
como estudamos na epístola de Tiago, as boas obras são obras de misericórdia,
isto é, ações encharcadas no amor. A carta de Paulo aos Romanos nos diz que
“quem ama aos outros cumpriu a lei”, pois “o amor não faz mal ao próximo; de
sorte que o cumprimento da lei é o amor” (13.8,10).
OBJETIVOS
Após esta aula, o
aluno deverá estar apto a:
Destacar que a fé e as obras são relacionais.
Apontar os exemplos de fé com obras no Antigo Testamento.
Compreender a metáfora do corpo sem espírito proposta por
Tiago.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Prezado professor,
para concluir a aula desta semana sugerimos que você reproduza o esquema abaixo
de acordo com as suas possibilidades. Peça aos alunos que dê exemplos de
atitudes que retratam a “Fé sem as obras” e a “Fé com as obras”, de acordo com
a coluna sugerida. Em seguida releia com a classe Tiago 2.14-17; leia também
Romanos 13.8-10 e Marcos 12.30,31. Então, afirme que o ensino de Tiago está em
harmonia com o de Paulo em Romanos e no Evangelho de Marcos. Nas Escrituras,
subentende-se que amar é agir pelo bem do próximo. Conclua a lição dizendo que
a fé sem as obras demonstram que o crente não conhece o Evangelho. Tal fé é
morta!
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Palavra Chave
Manifestação: Ato de dar a conhecer; revelação, expressão.
A lição de hoje trata
da fé manifestada através das obras (Tg 2.14-26). Além de tal assunto ser
imprescindível à vida cristã —, pois, sem fé é impossível agradar a Deus (Hb
11.6) —, é preciso reafirmar que o crente é salvo pela graça, por meio da fé
(Ef 2.8,9). Devendo o cristão andar por ela (2Co 5.7), tendo em vista de que
tudo aquilo que não é de fé, culmina em pecado (Rm 14.23). Entretanto, a fé não
é uma fuga da realidade. Por isso, Jesus ensinou que a fé deve ser praticada
(Mt 5.22-48). Nesta lição, igualmente, Tiago mostra que uma fé viva é
autenticada pela produção de boas obras, pois não há antagonismo algum entre
ambas — fé e obras. Conforme aprenderemos, na vida cristã, fé e obras não são
distintas, mas complementares.
I. DIANTE DO NECESSITADO, A NOSSA FÉ SEM OBRAS É MORTA (Tg
2.14-17)
1. Fé e obras. Ao ler
desavisadamente a Epístola de Tiago o leitor pode afirmar que ela contradiz os
ensinamentos do apóstolo Paulo quanto à doutrina da salvação pela fé (Rm
4.1-6). Todavia, ao estudarmos cuidadosamente o tema em questão, veremos que os
ensinos paulinos e os de Tiago em hipótese alguma se contradizem. Quando Paulo
escreve sobre as obras, ele se refere à Lei — o orgulho nos rituais judaicos e
na obediência a um sistema de regras religiosas — equanto que Tiago, às obras
de misericórdia ao próximo necessitado. O meio-irmão do Senhor não se opôs ao
apóstolo dos gentios. Enquanto Paulo anunciava ao pecador a salvação pela graça
mediante a fé (Ef. 2.8), Tiago doutrinava os crentes sobre a impossibilidade de
vivermos a fé de Cristo sem manifestar os frutos de arrependimento (Mt 3.8). O
primeiro preocupou-se com a causa da salvação e o segundo, com o efeito dela.
2. O cristão e a caridade. “A fé não acompanhada de ação é
morta”, declara Tiago. “Fazer”, “realizar” e “agir” são atitudes que integram a
religião pura e imaculada: ajudar os necessitados nas suas necessidades. A fé,
quando não produz tais frutos, é morta. A fim de ilustrar tal verdade, Tiago
inquire retoricamente os servos de Deus dizendo que se oferecermos, a um irmão
ou a uma irmã, que estejam padecendo necessidade, apenas uma palavra de
“incentivo” e não lhes dermos as coisas de que eles necessitam, isso não
resolverá o problema. Diante de alguém necessitado, o que precisa ser feito?
Orar e despedi-lo sem nada? Se assim procedermos, nossa oração não servirá para
nada. Aliás, como ensina João, a pessoa que não se compadece dos necessitados
não tem o amor de Deus em sua vida (1Jo 3.17,18). Tal aspecto já havia sido
ensinado por Jesus ao dizer que, no socorro àqueles que precisam de ajuda,
acolhemos o próprio Senhor (Mt 25.40).
3. A “morte” da fé. A concepção de fé apresentada na
Epístola de Tiago é a confiança em Deus: “Tu crês que há um só Deus?” (v.19). Logo,
as obras de que Tiago fala, consistem na expressão da vontade de Deus, ou seja,
amar o próximo, visitar os enfermos, defender os direitos dos pobres, praticar
a justiça, etc. Esta é a fé viva em Deus! A epístola nos ensina que se amamos o
outro, não amamos segundo as nossas concupiscências, mas segundo o amor de Deus
por nós. Este amor nos estimula a amar o ser humano independentemente de quem
ele seja. Ame o próximo e mostrará uma fé viva. Não ame, e se confirmará: a tua
é fé está morta.
SINOPSE DO TÓPICO (I)
Tiago nos mostra que
diante de uma necessidade do próximo, o crente não pode espiritualizar a sua
necessidade material, antes deve supri-la. Do contrário, não há fé.
II. EXEMPLOS VETEROTESTAMENTÁRIOS DE FÉ COM OBRAS (Tg
2.18-25)
1. Não basta “crer”.
Tiago afirma que a crença teórica em Deus não significa muita coisa. Os
demônios, igualmente, creem e estremecem diante do Altíssimo (Lc 8.26-33; Mc
5.1-10). Em outras palavras, eles “creem”, ou sabem, que Jesus é o Filho de
Deus. Entretanto, a confissão dos demônios não implica um compromisso de
obediência a Deus. A verdadeira fé, porém, manifesta-se na prática coerente do
servo de Deus com tudo aquilo em que ele diz crer. O autor da epístola
demonstra que a fé não consiste em um discurso, mas em convicção autêntica,
seguida da prática de obras de amor, pois é justamente isso que Jesus fez e
ainda faz (At 10.38; Hb 13.8). Exemplificando esse ensino da fé compromissada
com a ação, Tiago utiliza dois ricos exemplos do Antigo Testamento.
2. Abraão. O patriarca Abraão, conhecido como “pai da fé”,
obedeceu a Deus quando o Senhor lhe pediu seu amado filho, Isaque. O patriarca
de Israel já havia demonstrado confiança em Deus quando decidiu, por um ato de
fé e obediência, partir para uma terra desconhecida (Hb 11.8,9). Agora, Abraão
estava diante de uma prova de fé ainda mais dura: imolar o seu filho amado e
oferecê-lo em sacrifício a Deus. Uma fé levada até as últimas consequências! A
obra de Abraão demonstrou a sua confiança em Deus independente das circunstâncias.
E nós, como estamos diante de Deus? Cremos quando vai tudo bem, e está tudo
certo ou cremos apesar das circunstâncias?
3. Raabe. Outro exemplo apresentado por Tiago é o de Raabe,
uma mulher gentia e prostituta que vivia em Jericó durante a conquista da terra
de Canaã pelos judeus. Quando Josué enviou os espias para olharem a terra,
Raabe os escondeu e, mais tarde, os ajudou a escapar dos guardas de Jericó. A
atitude de Raabe levou os espias a prometerem que nenhum mal aconteceria a ela
quando os israelitas tomassem a cidade (Js 2.1-24). Raabe teve fé no Deus de
Israel! Na certeza de que Deus daria aquela cidade ao seu povo, ela agiu para
proteger os espias enviados por Josué. Por isso, Raabe, a prostituta de Jericó,
foi justificada e constituída na linhagem do nosso Salvador, Jesus Cristo (Mt
1.5). É uma grande mulher que consta como a heroína da fé (Hb 11.31).
SINOPSE DO TÓPICO (II)
As ações de Abraão e
Raabe são dois grandes exemplos do Antigo Testamento quanto à fé compromissada
com as obras.
III. A METÁFORA DO CORPO SEM O ESPÍRITO PARA EXEMPLIFICAR A
FÉ SEM OBRAS (Tg 2.26)
1. Uma analogia do
corpo sem espírito. Para os que conhecem a Palavra de Deus, é inconcebível a
ideia de um corpo vivo sem o espírito e a alma (At 20.9,10; 1Ts 5.23). O teólogo
britânico, John Stott, escreveu: “O nosso próximo é uma pessoa, um ser humano,
criado por Deus. E Deus não o criou como uma alma sem corpo (para que
pudéssemos amar somente sua alma), nem como um corpo sem alma (para que
pudéssemos preocupar-nos exclusivamente com seu bem-estar físico), nem tampouco
um corpo-alma em isolamento (para que pudéssemos preocupar-nos com ele somente
como um indivíduo, sem nos preocupar com a sociedade em que ele vive). Não!
Deus fez o homem um ser espiritual, físico e social. Como ser humano, o nosso
próximo pode ser definido como ‘um corpo-alma em sociedade’” (Cristianismo
Equilibrado, CPAD). Sem o espírito, o fôlego de vida, o ser humano não é nada.
Só podemos ser considerados humanos quando as esferas espiritual, física e
social estão inseparáveis. Qual a relação desse assunto com a fé?
2. Da mesma maneira: fé sem obras é morta. “Assim como o
corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (v.26).
Tiago nos ensina que não faz sentido expressarmos uma fé verbalmente se ela não
tem ação concreta. Como as pessoas constatarão que eu creio de todo coração em
Deus? À medida que os meus atos em relação a elas revelarem o amor do Criador.
Se não houver obras de misericórdia, amor, honestidade e carinho ao próximo, a
nossa fé estará morta, sepultada. Podemos citar de cor e salteado o Credo
Apostólico, o credo da nossa demominação e milhares de versículos da Bíblia.
Mas se não houver ação, tudo não passará de argumentos sem vida. Deus nos livre
dessa ignomínia!
SINOPSE DO TÓPICO (III)
Assim como o corpo
sem o espírito não tem vida, a fé sem as obras é morta.
CONCLUSÃO
Sabemos que o ser
humano está vivo porque ele tem atividade cerebral intacta, os pulmões
funcionam rotineiramente, o coração bombeia o sangue, irrigando todo o corpo.
Isto é, o corpo humano está se movimentando naturalmente. Da mesma forma é a
fé. Uma fé viva em Deus através do seu Filho, Jesus Cristo, justifica o homem
de todo o pecado (Rm 5.1; Tg 2.18-25). Mas uma fé sem obras está morta! É como
um corpo humano que não tem vida. Não respira mais. Que possamos viver todas as
implicações reais de nossa crença em Deus.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
STRONSTAD, Roger; ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário
Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2ª Edição. RJ: CPAD, 2004.
STOTT, John. Cristianismo Equilibrado. RJ: CPAD, 2009.
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I
Subsídio Teológico
“Somos ensinados a
considerar a fé constituída de mera especulação e conhecimento como sendo de
demônios: ‘Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também os demônios o creem e
estremecem’ (v.19). O exemplo de fé que o apóstolo aqui escolhe mencionar é o
primeiro princípio de toda religião: ‘Tu crês que há um só Deus, contra os
ateus; e que há somente um Deus, contra os idólatras; fazes bem: até aqui está
tudo bem. Mas se descansares aqui, e assumires uma boa opinião de ti mesmo, ou
do teu estado diante de Deus, meramente por conta do teu crer nele, isso vai te
tornar miserável no final: os demônios o creem e estremecem. Se tu te contentas
com um mero consentimento com os artigos de fé, e algumas especulações sobre
eles, até esse ponto os demônios vão. E como a fé e o conhecimento que eles têm
só serve para excitar o horror, assim em pouco tempo o fará a tua fé’. A
palavra estremecer é geralmente considerada como tendo um bom efeito sobre a
fé; mas aqui deve ser entendida como um efeito negativo, quando é aplicada à fé
dos demônios. Eles estremecem, não por reverência, mas por ódio e oposição
àquele Deus em quem eles creem. Recitar aquele artigo da confissão de fé: Creio
no Deus Pai e Todo-Poderoso não vai nos distinguir dos demônios no final, a não
ser que nos entreguemos a Deus agora como o evangelho nos orienta, e o amemos,
e tenhamos prazer nele, e o sirvamos, o que os demônios não fazem e não podem
fazer” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento: Atos a Apocalipse.
2ª Edição. RJ: CPAD, 2010, p.836).
AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO II
Subsídio Bibliológico
“Neste sermão [do Monte] — que Lord Acton definiu como a
verdadeira revelação de uma sociedade moralmente nova — o Senhor Jesus
contrasta ideias espirituais que sustentam a conduta moral adequada, com as
exigências meramente exteriores da lei. Ele ensina que a ira que traz como
fruto o assassinato é errada; que a reconciliação com um irmão é mais essencial
do que o desempenho de atos exteriores de adoração; que o cultivo de
pensamentos lascivos tornam as pessoas tão culpadas quanto à prática do próprio
adultério; que seus seguidores devem ser extremamente comprometidos com a
verdade, a ponto de os juramentos tornarem-se desnecessários; que a vingança é
maligna; que os inimigos, assim como os amigos e benfeitores, devem receber
nosso amor; que destacar os defeitos da vida dos outros, e tentar remodelar a
vida destes de forma intrometida, e tudo isto através de uma atitude de
censura, são repreensíveis; que o exercício da piedade como a doação de
esmolas, as orações, e o jejum devem ser destituídos de ostentação; que o
cristão só pode ter um Senhor.
Muitas passagens notáveis podem ser destacadas neste sermão.
Existem as parábolas que falam da luz interior (Mt 6.22,23), e das duas casas
(Mt 7.24-27). A oração do Senhor, citada por Mateus, em sua primeira seção
trata dos deveres para com Deus, e, na sua segunda, trata dos deveres para com
o próximo. O Senhor Jesus preparou este modelo a partir de um contexto judaico,
dando um exemplo de como a alma, mesmo com poucas palavras, pode falar com Deus
[...].
A ‘regra áurea’ (Mt 7.12) foi assim chamada no século XVIII
por Richard Godfrey e Isaac Watts. Willian Dean Howells em seu romance Silas
Lapham (1985) usou esta frase que agora nos é familiar. Este princípio de reciprocidade,
que de acordo com Wesley é recomendado pela própria consciência humana,
tornou-se a base do sistema ético de John Stuart Mill. Este princípio também é
refletido na afirmação de Kant de que a pessoa deve agir como se sua regra de
conduta estivesse destinada — pela força de sua vontade — a se tornar uma lei
universal da natureza. A diferença entre a ordem categórica de Kant e a ‘regra
áurea’ de Cristo é que a ordem de Kant não tem conteúdo, enquanto Cristo resume
o conteúdo da segunda tábua da lei moral de Deus. O Senhor Jesus Cristo
exemplificou a ‘regra áurea’na parábola do Bom Samaritano (Lc 10.25ss.)”
(PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard, F. Dicionário Bíblico Wycliffe. 1ª Edição.
RJ: CPAD, 2009, p.1803-04).
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
A Fé se manifesta em
obras
Como chegar ao lar de
uma pessoa que se encontra em necessidades materiais e apenas orarmos por ela
dizendo “Deus está no controle de tudo”? Tal atitude é a que Tiago chama de fé
sem obras. A fé vivida apenas no campo da mera especularização espiritual é uma
fé sem vida, encanto e compromisso com o outro. A verdadeira fé consiste em
amar a Deus acima de todas as coisas, com toda a nossa força, de todo o nosso
entendimento, de toda a nossa alma e de todo o nosso coração (Mc 12.30,31). Uma
fé simples, entretanto, de uma implicação inimaginável.
A fé do Evangelho está diametralmente entrelaçada ao amor.
Não a toa ela aparece como uma das três virtudes teologais, juntamente com o
amor (1Co 13.13). Deste, o apóstolo Paulo diz: “porque quem ama aos outros
cumpriu a lei [...] e, se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se
resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo;
de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13.8-10). Contra o amor não há
lei. A vontade de Deus é que o ser humano viva a vida sem que a determine, pois
quem ama não pode fazer outra coisa senão o bem (Jr 31.33).
Quando Tiago fala de boas obras sabemos que ele se refere às
ações concretas de misericórdias. Então, remetemo-nos logo ao tema da salvação
pelas boas obras. Talvez pelo medo de relacionar boas obras à salvação, muitos
em nossas igrejas vêm ignorando o mandamento de Jesus para fazermos alguma
coisa em favor dos pobres. Além disso, precisamos ponderar com os nossos alunos
que não são as obras que salvam, mas, por outro lado, são elas que revelam se
de fato somos salvos ou não (Ef. 2.8-10). E um dia, todos seremos julgados,
pelas obras que realizamos em relação a outro ser humano cujo Senhor, Jesus,
pode ser encontrado em cada estado de necessidade (Mt 25.31-46).
Use o espaço desta lição, professor, para ensinar que não se
pode fazer dicotomia entre a fé e a ação. Do contrário, a fé se mostrará morta
como um corpo que sem o fôlego de vida. Dê uma olhada em volta da sua igreja
local. Talvez ela se situe em meio a uma comunidade carente. Uma pergunta pode
ser feita à sua classe: o que podemos fazer de ação social pela nossa
comunidade?
AUXÍLIOS COMPLEMENTARES
Elaboração: Escriba Digital
http://www.estudantesdabiblia.com.br/
INTRODUÇÃO
PRIMEIRA PARTE
Palavra Chave
Manifestação: Ação de tornar público; evidência, exibição,
exposição, revelação, prova.
Você acreditaria em alguém que diz ser cozinheiro, mas não
sabe fazer nenhuma comida? Você creria em alguém que diz ser mecânico, no
entanto não sabe mexer em carros? Você confiaria em um matemático que não sabe
fazer uma conta de multiplicar? O apóstolo também quer saber como pode alguém
dizer que tem fé, porém isso não pode ser demonstrada através de suas obras?
Os religiosos de um modo geral tomam o efeito pela causa ou
a causa pelo efeito no tocante à prática das boas obras. O que quero dizer é
alguns acreditam que ao praticarem boas obras podem assim alcançar graça e
perdão diante do Eterno. Enquanto que outros acreditam que depois de salvos não
há necessidade de praticarem boas obras, pois a sua fé em Deus é suficiente
para salvá-los. Afinal de contas quem está certo? Estes ou aqueles? Esta lição
nos trará valiosos esclarecimentos sobre o assunto.
I. DIANTE DO NECESSITADO, A NOSSA FÉ SEM OBRAS É MORTA (Tg
2.14-17)
1. Fé e obras. Tiago
inicia o assunto de forma questionativa: “... que aproveita se alguém disser
que tem fé, e não tiver as obras?”. Ele usa em sua epístola o termo “fé” em
três sentidos em sua carta:
(1) fé pessoal no
Senhor Jesus Cristo, que é provada pelas tribulações (Ver 1.3);
(2) confiança na
revelação de Deus e de Jesus Cristo, suas promessas, poder e disposição para
atender o crente (Ver 1.6);
(3) aderência às
doutrinas do Cristianismo, uma profissão de fé em Deus e em Jesus Cristo (Ver
2.1). Parece que esse último sentido é o usado aqui.
Se a sua profissão de fé não é acompanhada de obras,
revela-se como meras palavras (veja o contraste entre o ouvinte negligente e o
operoso praticante em 1.15; veja ainda Jr 7.8). Lembramo-nos das palavras de
Paulo em 1 Coríntios 13.1-3, texto no qual o apóstolo declara, em termos
fortes, que manifestações espirituais, sacrifícios, conhecimento e revelações
são inúteis se não forem acompanhados de amor. Aqui temos mais um ponto que
Tiago aprendeu com o Senhor Jesus (Mt 5.20; 7.21-26, etc.).
“Obras” ocorre em Tiago quase exclusivamente em 2.14-26 (a
exceção é 3.13). O termo deve ser entendido além dos atos de obediência à vontade
de Deus , mas também, como atos de misericórdia para com os necessitados
(2.15,16).
Desde o princípio da Igreja, no capítulo 6 de Atos, está
registrado que havia necessidade de cuidar das viúvas da igreja de Jerusalém.
Compreendemos, assim, que esse princípio de partilha de bens era bastante comum
nos primórdios da igreja (At. 2.44,45, 4.34,35). Essa, entretanto, não era uma
prática apenas dos crentes de Jerusalém. Os cristãos de Antioquia
compartilharam suas bênçãos materiais com os de Jerusalém (At; 11.27-30). Por
causa da perseguição romana, os crentes judeus ficaram em situação de pobreza
extrema. Isso mostra que nem sempre a prosperidade é resultante de pecado ou
desobediência à Palavra de Deus. A contribuição aos necessitados era,
sobretudo, um ato de amor e prova de genuína espiritualidade.
Uma profissão de fé cristã que não for acompanhada das obras
correspondentes que atestam sua genuinidade não é de proveito algum: Porventura
a fé pode salvá-lo? A pergunta de Tiago foi elaborada gramaticalmente para
obter uma resposta negativa. O “proveito” da fé é a salvação. Uma fé sem obras
não tem proveito algum porque é falsa. Portanto, não pode salvar. A lógica de
Tiago é esta: a salvação é mediante a fé; a fé produz obras; onde não há obras,
a fé não existe; logo, profissão de fé sem obras que a acompanham não tem
qualquer proveito. A fé é a seiva que corre invisivelmente dentro da árvore e a
mantém viva; o fruto é a manifestação externa, a prova incontestável de que a
árvore está viva. Fé e obras são dois lados da mesma moeda. Onde está uma, está
a outra. E, onde falta uma, certamente também falta a outra.
O Concílio de Jerusalém, presidido por Tiago, e realizado em
torno de 49 d.C., reuniu-se para tratar da inclusão dos gentios na Igreja (At
15). Na ocasião, Tiago, junto com os apóstolos e presbíteros, foi confrontado
com a questão da salvação pela fé sem as obras da lei. A decisão do concílio,
após reconhecer que o coração é purificado pela fé (At 15.9), foi de não exigir
obras da lei para a salvação. Conforme vimos na Introdução, Tiago pode ter
escrito esta carta em meados da década de 40. De qualquer forma, fica claro que
Tiago nunca defendeu salvação por obras, mas sim salvação pela fé em Jesus
Cristo, a qual se manifesta mediante obras de amor e obediência.
2. O cristão e a caridade. O que Tiago não pode tolerar é a
profissão de fé sem a prática, as palavras sem obras. E para esclarecer seu
pensamento escolhe uma vívida ilustração. Suponhamos que alguém não tem nem
roupas para cobrir-se nem comida para alimentar-se; suponhamos também que um
assim chamado amigo expressa-lhe sua mais sincera simpatia pela triste condição
em que se acha; e suponhamos, além disso, que tal simpatia não vai além das
palavras e que não faz esforço algum para aliviar a situação do desafortunado.
Do que serve isso? Que valor tem a simpatia se não for acompanhada de algum
intento de traduzi-la em efeitos práticos? Por isso — assinala Tiago — a fé sem
obras é morta.
Se formos analisar, veremos que Tiago ao enfocar este
assunto está perfeitamente correto. Nada há tão perigoso como experimentar
repetidamente uma bela emoção sem fazer intento algum de transformá-lo em ação.
É um fato comprovado que cada vez que alguém experimenta um elevado sentimento
sem transformá-lo em ação, é menos provável que algum dia o faça. Num sentido é
justo dizer que ninguém tem direito de sentir piedade e simpatia a não ser que
ao menos busque transformar essa piedade e essa simpatia em ação. Uma emoção
não é algo em que gloriar-se; é algo que, à custa de esforços, lutas,
disciplina e sacrifício, a pessoa precisa converter em substância da vida.
3. A “morte” da fé. É preciso estar claro que a fé a que
Tiago se refere é a profissão de fé ao Cristianismo, o ato de declarar-se
cristão, crente em Jesus Cristo. Qualquer pessoa pode declarar-se cristã, e na
verdade muitas o fazem. Contudo, dada à natureza do Cristianismo —
especialmente seu poder regenerador e renovador mediante o Espírito Santo —,
adeptos verdadeiros não somente professarão a coisa certa, mas agirão da forma
certa. Fé e obras andam juntas. Não podemos, em reação ao erro do Espiritismo e
do Catolicismo romano, negligenciar ou menosprezar as obras como parte
integrante da fé salvadora.
As principais características da morte da fé são apontadas
por Tiago:
(1) É uma fé que não
desemboca em vida santa. A fé morta está divorciada da prática da piedade. Há
um hiato, um abismo entre o que a pessoa professa e o que a pessoa vive. Ela
crê na verdade, mas não é transformada por essa verdade.
(2) É uma fé meramente
intelectual. A pessoa consente com certas verdades, mas não é transformada por
elas.
(3) É uma fé que não
produz frutos dignos de arrependimento. Essa fé é ineficiente, inoperante e não
produz nenhum resultado. Ela tem sentimento, mas não ação.
(4) É uma fé sem
nenhum valor. Ela é inútil. A fé sem obras é inoperante (2.20). Se, de forma
geral a fé é inútil, ela também o é no caso da salvação.
(5) É uma fé
incompleta. Tiago diz que a fé sem as obras está incompleta (2.22), visto que
são as obras que consumam a fé. As obras são a evidência da fé. Somos salvos
pela fé para as obras (Ef 2.8-10). Se não tem obras, não tem fé!
(6) É uma fé morta.
Tiago é claro em afirmar que a fé sem as obras está morta (2.17; 2.26), e uma
fé morta não salva ninguém. Essa fé intelectual, inútil, incompleta e morta não
salva ninguém. Ortodoxia sem piedade produz morte.
II. EXEMPLOS VETEROTESTAMENTÁRIOS DE FÉ COM OBRAS (Tg
2.18-25)
1. Não basta “crer”.
Como já vimos, a fé morta é uma fé que atinge apenas o intelecto. A fé dos
demônios atinge o intelecto e também as emoções. Os demônios têm um estágio
mais avançado de fé que muitos crentes. A fé dos demônios não é apenas
intelectual, mas também emocional. Eles creem e tremem!
Crer e tremer não é uma experiência salvadora. Você não
conhece uma pessoa salva pelo conhecimento que adquire nem pelas emoções que
demonstra, mas pela vida que vive (Tg 2.18).
No que os demônios creem? Warren Wiersbe responde a essa
pergunta, dizendo: em primeiro lugar, os demônios creem que Deus é um só. Os
demônios creem na existência de Deus. Eles não são nem ateístas nem agnósticos.
Eles creem na “shemma” judaica: “Ouve ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor”. Mas essa crença dos demônios não pode salvá-los.
Em segundo lugar, os demônios creem na divindade de Cristo.
Os demônios corriam para ajoelhar-se diante de Cristo para adorá-lo (Mc
3.11,12). Eles sabiam quem era Jesus. Eles se prostravam aos pés do Senhor
Jesus.
Em terceiro lugar, os demônios creem na existência de um
lugar de penalidades eternas. Eles sabem que o inferno foi criado para o diabo
e seus anjos. Eles sabem que o inferno é destinado para todos aqueles cujos
nomes não forem encontrados no Livro da Vida. Eles não negam a existência do
inferno (Lc 8.31). Eles creem nas penalidades eternas.
Em quarto lugar, os demônios creem que Cristo é o supremo
Juiz que os julgará. Os demônios sabem que terão de comparecer diante de
Cristo, o supremo juiz. Eles creem no julgamento final. Eles creem que todo
joelho se dobrará diante de Cristo. Entretanto, os demônios estão perdidos,
eternamente perdidos. Uma fé meramente intelectual e emocional coloca-nos
apenas no patamar dos demônios.
2. Abraão. Deus o chamou por liberdade e graça, e não porque
Abraão tivesse sido uma “categoria especial” em termos morais ou religiosos.
Abraão creu nessa escolha misericordiosa de Deus para um serviço especial,
também por meio do povo que descenderia dele (a despeito de todas as
evidências). Em virtude dessa fé Deus justificou Abraão (Gn 15.6; Rm 4.3; Gl 3.6).
Contudo, ao mesmo tempo a fé de Abraão também foi ação. Isso
se evidencia particularmente no começo e no final de sua trajetória de fé: na
partida (Gn 12.4) e ao se dirigir ao monte Moriá, onde deveria sacrificar o
filho (Gn 22). Do contrário Deus não o teria usado para seus objetivos, e sua
fé não teria sido aprovada. A fé de Abraão, portanto, foi também um renovado
ato de fé. Não teria bastado se Abraão tivesse permanecido em sua tenda, imerso
em reflexões devotas. Constantemente tinha de pôr-se a caminho. Também hoje a
fé, para ser genuína, precisa pôr-se a caminho regularmente, rumo à terra
desconhecida, a tarefas complexas e a sacrifícios.
Abraão não retornou do Monte Moriá da forma como foi para
lá: experimentara um grande fortalecimento e incremento em sua fé. Não os teria
obtido se tivesse permanecido em casa e se negado a obedecer. Atualmente é
frequente a busca por fórmulas para estimular as pessoas na fé, e chega-se às
mais exóticas respostas. Aqui nos é dito singelamente: viva a obediência da fé,
dê passos de fé, sirva com fé, sofra pela fé, e ela se fortalecerá e será
aperfeiçoada! Obediência e conhecimento estão interligados.
3. Raabe. Raabe, uma mulher de má fama, acolheu em sua casa
os espiões de Israel e os ajudou a fugir da Jericó vigiada. A Bíblia diz que
ela “creu” (Hb 11.31). Declarou aos homens de Israel: “Eu sei que o Senhor vos
deu a terra. O Senhor, vosso Deus, é Deus no alto dos céus e aqui sobre a
terra” (Js 2.9,11). Mais tarde veio até mesmo a ser a matriarca da dinastia de
Davi e, consequentemente, também de Jesus (Mt 1.5s). Não teria obtido nem sua
preservação quando a cidade foi tomada, nem sua posição na história da salvação
se não tivesse aceitado as consequências práticas dessa sua percepção de sua
fé, comportando-se em conformidade com ela diante dos espiões de Israel.
Fé e obras são proeminentes na vida de Raabe, e são de
natureza tal que Tiago pergunta: “Não foi também justificada pelas suas
obras?”. Sim, é permitido a Raabe ter um lugar ao lado de Abraão, pois ela também
demonstrou sua fé no Deus de Israel e agiu pela fé. Por essa razão, ela é
considerada justificada. Assim como Abraão, Raabe colocou sua fé em prática no
cotidiano e sob condições precárias. Deus a justificou por causa de sua fé, que
é demonstrada por meio de suas obras.
III. A METÁFORA DO CORPO SEM O ESPÍRITO PARA EXEMPLIFICAR A
FÉ SEM OBRAS (Tg 2.26)
1. Uma analogia do
corpo sem espírito. Agora Tiago usa a ilustração do corpo (v.26) que sem
espírito está morto, para mostrar a conclusão que deseja confirmar. Um corpo
sem sua parte espiritual (alma e espírito) não passa de um cadáver, inerte, sem
possibilidade de se movimentar, pensar agir ou mostrar qualquer sinal de vida.
Boas obras não podem ser realizadas por pedras; nem um corpo morto pode produzir
ações. Igualmente impossível seria que a fé transformadora deixasse de produzir
manifestações dessa fé. A fé como a própria vida mostra que existe por suas
ações.
O corpo precisa da parte espiritual para permanecer vivo,
pois ela é a depositária da vida; ela figura em tudo que pertence ao sustento,
ao risco, e à perda da vida. A vida é o entrosamento do corpo com a sua parte
espiritual. Quando o espiritual e o corpo se separam, o corpo não existe mais;
o que resta é apenas um grupo de partículas materiais num estado de rápida
decomposição. Desta forma podemos entender o porquê de Tiago ter feito esta
analogia.
2. Da mesma maneira: fé sem obras é morta. “Assim como o
corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (v.26). O
que Tiago faz questão de mostrar é que uma ortodoxia morta não tem valor. A
“fé”, e não o que “fazemos”, estabelece o nosso relacionamento com Deus. No
entanto, essa fé precisa de conteúdo, ou seja, uma fé genuína sempre produz uma
vida justa na prática. Uma fé bíblica não existe separada da obediência a Deus.
Isso é um corretivo para aqueles que acham que fé significa simplesmente
concordar intelectualmente com algumas afirmações sobre Deus.
Muitos mencionam Tiago simplesmente pela sua aparente
contradição com os ensinos de Paulo da justificação pela fé somente. O que
precisamos entender é que Paulo e Tiago falam para audiências em situações
diferentes e utilizam alguns termos de maneiras levemente distintos. Estes
precisam ser entendidos, para que não entendamos de maneira errada o que estão
querendo ensinar. Em Paulo, o termo justificação é usado tanto para o início da
vida cristã, no qual Deus nos aceita com base na obra de Cristo, como também
para a nossa absolvição da ira de Deus no julgamento. Por havermos sido
justificados, (no passado) isso antevê a nossa absolvição no julgamento final.
Tiago está falando para pessoas que já se consideravam cristãs e que estavam se
desviando do caminho certo. Ele as lembra de que a fé delas precisa ser
evidenciada por obras [o que Paulo também afirma (Gl 5.2-23; 6.7-10)]. É
possível que Tiago estivesse escrevendo para pessoas que haviam interpretado
Paulo erroneamente, dizendo que a graça de Deus nos salva e que não há
implicações éticas. Isso é totalmente contrário ao que Paulo fala, pois ele
insiste que as pessoas precisam viver de modo digno do evangelho (Fp 1.27).
Nesse caso, Tiago não está indo contra Paulo, todavia contra uma interpretação
errada de Paulo. Tiago está falando para pessoas que achavam que concordar
intelectualmente com o evangelho era suficiente. Mas até os demônios fazem
isso. Para Tiago, a pessoa depende da graça para se tornar um cristão, o que
exige uma fé que envolve a pessoa toda (não apenas o intelecto). A prova dessa
fé são as obras. Quem não tem obras, não tem perseverança e tem a mente
dividida [joga nos dois times] — logo não tem fé. Tiago luta contra as pessoas
que achavam que estavam justas diante de Deus por causa de sua ortodoxia,
enquanto que Paulo está falando que os gentios não precisavam se tornar judeus
para serem aceitos por Deus.
CONCLUSÃO
Se a Igreja, hoje,
pode crer que “tudo que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito...
para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a
boa obra” (Rm 15.4; 2Tm 3.17), ela não pode desprezar o ensino de Tiago quanto
à fé e às obras. A Igreja não deve olvidar que Jesus é o melhor modelo da
prática das boas obras. Jesus tinha a consciência de que o Espírito do Senhor o
havia ungido para evangelizar os pobres, curar os de corações dilacerados,
soltar as algemas aos cativos, restaurar a visão aos cegos, libertar os
oprimidos e anunciar aos homens que a oportunidade da salvação já havia chegado
(Lc 4.18,19). Anos depois Lucas registra que “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com
o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo o bem, e curando a todos
os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (At 10.38). Neste, assim como
nos demais aspectos, o ideal divino é que tal qual foi Jesus, sejamos nós
também neste mundo (1Jo 4.17).
A Igreja não deve esperar que o governo cuide das viúvas,
órfãos e demais necessitados que a compõem, tampouco deve depender de verbas do
Município, do Estado ou da Federação para levar a efeito uma obra de
assistência aos seus pobres. Esta obra tem que ser uma obra de fé, e a obra do
cristão que não é resultante da fé, é pecado (Rm 14.23).
A Igreja precisa mais do que ortodoxia, ela precisa de
ortopraxia. Ortodoxia significa “doutrina correta”. Ter doutrina correta é
muito importante e necessária. Mas, a palavra que expressa a necessidade da
Igreja hoje é ortopracia, que significa “conduta correta”. A conduta condizente
com a fé, eis o de que a Igreja necessita hoje. A eficácia do discurso da
Igreja só alcança até onde vai a sua ação. O ensino do Espírito Santo através
de Tiago é: “Assim falai, e assim procedei...” (Tg 2.12).
O cristão que tem fé, mas não age demonstrando essa fé,
dificilmente está em melhor situação que o espírita, que crê no aperfeiçoamento
através das obras independente da fé.
BIBLIOGRAFIA
• Barclay, William. Comentário do Novo
testamento - Tradução: Carlos Biagini;
• de Oliveira, Raimundo. Lições Bíblicas
Maturidade Cristã. 1º Trimestre de 1989. CPAD;
• Dück, Arthur Wesley - Epístola de Tiago -
Apostila;
• Grünzweig, Fritz - Cartas de Tiago, Pedro,
João e Judas - Comentário Esperança - Editora Evangélica Esperança;
• Lopes, Hernandes Dias. Tiago: Transformando
provas em triunfo. Hagnos;
• Nicodemus, Augustus. Interpretando a Carta
de Tiago. Editora Cultura Cristã;
• Wiersbe, Warren W.. Comentário Bíblico
expositivo - Novo Testamento. Vol.2. Geográfica Editora.
SEGUNDA PARTE
Elaboração
http://pastorgeraldocarneirofilho.blogspot.com.br/
I - INTRODUÇÃO
Há quem veja, nas Escrituras, um provável conflito entre os
escritos de Paulo e os de Tiago, com relação à justificação - se somente pela
fé ou também pelas obras. Como veremos no estudo desta lição, a Bíblia não tem
discrepâncias. As possíveis divergências são aparentes, e se desfazem sob o
estudo cuidadoso dos textos.
II - CONCEITOS DE FÉ E OBRAS:
(1) - A fé - A palavra fé ocorre 244 vezes no Novo
Testamento. Pode ser vista com diversos significados:
(1.1) - Fé comum aos que creem (Mc 16.17-18);
(1.2) – Fé como fruto do Espírito (Gl 5.22);
(1.3) – Fé como dom, outorgada pelo Espírito Santo (I Cor
12.9a).
(1.4) – Fé como meio para salvação (também denominada: Fé
savífica), conforme Rm 5.1, que é o sentido pelo qual o termo é estudado na
epístola de Tiago.
(2) – As obras – No sentido comum, as obras são realizações,
execuções, ações, procedimentos, atuações humanas.
No sentido bíblico, temos acepções como:
(2.1) – As obras de Deus, que indicam aquilo que foi e
continua sendo feito por Deus – Jo 1.3; 5.17; Cl 1.16; Hb 1.2.
(2.2) – Obras da carne – Gl 5.19-21.
(2.3) – Obras da Lei, as quais, no sentido da lição em
estudo, tratam-se de obras humanas como meio de salvação, como práticas
religiosas, orações, penitências, sacrifícios, flagelações, privações,
enclausuramento, filantropia, doações, etc.
III – O RELACIONAMENTO ENTRE A FÉ E AS OBRAS:
(1) - No Antigo Testamento – Na velha aliança, as obras
exteriores tinham um valor fundamental.
(1.1) – O tropeço na lei – Tiago diz que “qualquer que
guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos"
(Tg 2.10).
(1.2) – Os sacrifícios - O livro de levítico dá-nos uma
ideia de como Jeová queria que Seu povo se relacionasse com Ele. Deus exigia
santidade do Seu povo (Lv 20.26). Por isso, dele eram exigidos sacrifícios os
mais diversos, os quais eram obras que apontavam para Cristo, como “sombra dos
bens futuros” – Hb 10.1
(2) – No Novo Testamento – Para entendermos melhor o
assunto, precisamos lembrar que a justificação não é element isolado na
salvação. Ela se integra com a regeneração,
a santificação e, no future, à glorificação.
(2.1) – A abordagem de Paulo:
(A) – Paulo não aceita o valor das obras da lei para
justificação do homem. Em Rm 4.1-5, ele diz que mesmo Abraão foi justificado
pela fé, sendo-lhe isso imputado como justiça – Gl 3.7-8.
(B) – O desvalor das obras da lei – O apóstolo Paulo,
considerando que todos estão debaixo do pecado (Rm 3.9), ressalta que não há quem
faça o bem – Rm 3.12, 20).
(C) – A maldição da lei - Paulo afirma claramente que,
quanto à salvação pela fé em Cristo, "aqueles, pois, que são das obras da
lei estão debaixo da maldição" (Gl 3.10a), visto que a lei considera
maldito todos os que não permanecem "em todas as coisas que estão escritas
no livro da lei, para fazê-las" – II Cor 3.6.
(D) – A lei serviu de aio - O apóstolo diz que a lei serviu
para "nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados"
(Gl 3.24), e conclui: "Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo
de aio" (Gl 3.25).
(E) - A justificação é somente pela fé - A Palavra afirma
ainda como doutrina que "o homem não é justificado pelas obras da lei, mas
pela fé em Jesus Cristo", "para sermos justificados pela fé de
Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne
será justificada" - Gl 2.16 cf Gl
5.3,4 e Rm 5.1.
(2.2) - A abordagem de Tiago.
(A) - A fé sem as obras pode salvar? - Tiago faz uma pergunta incisiva: “Meus
irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura,
a fé pode salvá-lo?" – Tg 2.14
(B) – A fé sem as obras é morta - Após exemplificar o caso
de mu n mão ou irmã necessitados, e despedidos por um crente, que os manda ir
em paz, sem, contudo, dar-lhes as coisas necessárias, Tiago afirma
categoricamente que "a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma”.
(C) – A fé demonstrada pelas obras – Tg 2.18 – Tiago desafia
alguém a mostrar a fé sem as obras e garante que pode mostrar a fé pelas obras.
Ele, como Paulo, toma o exemplo de Abraão, destacando o aspecto visível da fé
do patriarca, quando ofereceu seu filho para ser imolado (Tg 2.21), acentuando
que a fé cooperou com as obras e estas aperfeiçoaram a fé, concluindo que
"o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé" (Tg 2.24).
(D) - O exemplo de Raabe - Tiago diz que Raabe, a meretriz,
que acolheu os espias enviados por Josué, creu em Deus e foi justificada pelas
obras. Ou seja: pelo seu ato consciente de que estava acolhendo servos do Deus
Altíssimo (Tg 2.25).
IV - A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ E TAMBÉM PELAS OBRAS:
(1) - A aparente discordância entre os Livros de Romanos e
Tiago - Não há contradição sobre os ensinos da justificação pela fé e também
pelas obras, nos livros acima. Romanos trata da justificação do pecador, do
ponto de vista de Deus, e como um ato perante Ele; ao passo que Tiago trata do
mesmo assunto, do ponto de vista humano, e como um processo contínuo na vida
cristã, aqui no mundo. O salvo é cidadão do céu, mas também da Terra.
(2) - A aparente discordância explanada por Paulo e Tiago –
O apóstolo Paulo no cap. 4 de Romanos (e noutras partes desse livro) trata da
doutrina fundamental da justificação pela fé; justificação esta perante Deus,
cuja lei o pecador, agora arrependido e penitente, violara continuamente. Na
salvação do pecador a evocação de obras humanas é um ultraje a Deus. Tiago,
porém, no cap. 2 do seu livro, trata da mesma doutrina, mas de outro ângulo: o
pecador perante o mundo, isto é, o lado visível da justificação; aquilo que o
próximo pode ver no crente. O mundo não pode ver a fé, mas vê as obras, isto é,
a nova vida do crente em Cristo. Portanto, o pecador é justificado pela fé
somente, em Cristo, na presença de Deus; mas perante os homens, o pecador é
justificado pelas obras da luz vista, nele.
(A) - Paulo vê a justificação inicial - Esta é ato meritório
de Deus e não da justiça obtida pelas obras da lei ou das obras humanas, quando
o homem aceita, pela fé, Jesus Cristo como Salvador.
(B) – Tiago vê a justificação progressiva – É a justificação
sob o ponto de vista das evidências através das obras da fé, ou seja, as
consequências da fé. O que, em última análise, irmana-se à santificação, que é
o aspecto da salvação em processo. Isso porque uma fé sem evidências é uma fé
morta. Não é a fé salvífica, pois esta não pode ser estéril.
(C) - As causas da justificação. Não é a fé inconsequente
nem as obras da lei que justificam o homem. Este é justificado, da parte de
Deus:
(C.1) - Pela graça - Rm 3.23,24;
(C.2) - Pelo sangue de Cristo - Rm 5.9; e
(C.3) - Pela ressurreição de Cristo - Rm 4.25.
(D) - O meio da justificação - Aqui, sim, entra o papel da
fé. Ela não é causa nem é fim. É meio entre a graça e a justificação. E a
Bíblia nos dá luz sobre isso, quando diz – Ef 2.8.
(E) – O resultado precípuo da fé – Rm 5.1 – É o mesmo que
dizer justificados por meio da fé. A justificação faz parte da salvação. Esta
vem da graça, mediante a fé, resultando na “paz com Deus” por intermédio de
Jesus Cristo.
(F) – As evidências da justificação – Tg 2.17 – Isto não é
uma contradição entre os escritos de Paulo e Tiago, pois ambos foram inspirados
pelo mesmo Espírito. É que Tiago aborda a justificação sob o ângulo dos
efeitos, das evidências, na vida do crente fiel, enquanto Paulo vê o assunto
sob o ângulo das causas da justificação como ato perante Deus.
(G) – Paulo também salienta as obras dos salvos - Sim! Após
dizer que a salvação não vem das obras (como causa), ele assevera que Deus nos
fez "criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou
para que andássemos nelas" (Ef 2.10). As obras dos salvos são tão
importantes que Paulo diz que Deus "recompensará cada um segundo as suas
obras". Ele dará "vida eterna, aos que, com perseverança em fazer
bem, procuram glória, honra e incorrupção" (Rm 2.6,7), mas "indignação
e ira" aos desobedientes, e "tribulação e angústia sobre toda alma do
homem que faz o mal" (Rm 2.8,9).
V – CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Uma síntese entre a fé e as obras:
(1) - A fé puramente intelectual não é a fé salvífica;
(2) - A fé salvadora é, também, fé servidora;
(3) - As obras aperfeiçoam a fé (Tg 2.22);
(4) - As obras justificam a fé (Tg l .21);
(5) - A fé sem as obras (do salvo) é morta (Tg 2.17) e as
obras (da lei, dos atos humanos, da carne - Gl 5.19; II Tm l.9) sem a fé, são
mortas; e
(6) - A fé salvífica tem que andar juntamente com as obras
do salvo, demonstradas pela obediência em "santificação, sem a qual
ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
FONTE DE PESQUISA E CONSULTA:
Lições Bíblicas CPAD – 1º Trimestre de 1999 – Comentarista:
Elinaldo Renovato de Lima.
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