SUBSIDIO ELABORADO PELO EVANGELISTA: NATALINO ALVES DOS ANJOS. PROFESSOR NA E.B.D e PESQUISADOR. MEMBRO DA IGREJA ASSEMBLEIA DE DEUS MISSÃO - CAMPO DE GUIRATINGA - MATO GROSSO
Lições Bíblicas CPAD
- Adultos
3º Trimestre de 2015
Título: A Igreja e o seu Testemunho — As ordenanças de
Cristo nas cartas pastorais
Comentarista: Elinaldo Renovato de Lima
Lição 11: A organização de uma Igreja local
Data: 13 de Setembro de 2015
TEXTO ÁUREO
“Por esta causa te
deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e,
de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei” (Tt 1.5).
VERDADE PRÁTICA
A igreja local deve
subordinar-se à orientação de Deus, através de sua Palavra, que é o “Manual de
Administração Eclesiástica” por excelência.
LEITURA DIÁRIA
Segunda — At 18.11
Um ano e meio ensinando a poderosa Palavra de Deus
Terça — At 18.23
Indo de um lugar para o outro animando os irmãos
Quarta — Ef 5.19
Animando os irmãos com salmos, hinos e canções espirituais
Quinta — Mt 28.19,20
A ordenança do Senhor Jesus para que a Igreja ensine a todos
Sexta — 1Co 4.1,2
A fidelidade dos servidores de Cristo Jesus
Sábado — Rm 16.5; 1Co 16.19
Saudação aos crentes que se reuniam nas casas dos irmãos
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Tito 1.4-14.
4 — a Tito, meu
verdadeiro filho, segundo a fé comum: graça, misericórdia e paz, da parte de
Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador.
5 — Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em
boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses
presbíteros, como já te mandei:
6 — aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que
tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são
desobedientes.
7 — Porque convém que o bispo seja irrepreensível como
despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem
espancador, nem cobiçoso de torpe ganância;
8 — mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo,
santo, temperante,
9 — retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina,
para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina como para
convencer os contradizentes.
10 — Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e
enganadores, principalmente os da circuncisão,
11 — aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam
casas inteiras, ensinando o que não convém, por torpe ganância.
12 — Um deles, seu próprio profeta, disse: Os cretenses são
sempre mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos.
13 — Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os
severamente, para que sejam sãos na fé,
14 — não dando ouvidos às fábulas judaicas, nem aos
mandamentos de homens que se desviam da verdade.
HINOS SUGERIDOS
53, 442 e 448 da
Harpa Cristã
OBJETIVO GERAL
Apresentar os requisitos bíblicos para formar um ministro do
Evangelho.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo, os objetivos
específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo,
o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.
I. Explicar o panorama da epístola a Tito.
II. Conscientizar sobre as qualificações dos pastores
segundo a epístola.
III. Destacar a percepção de pureza que a epístola apresenta.
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
Caro professor, é importante que você compreenda e ressalte
para os alunos o objetivo da epístola de Tito: Aconselhar o jovem pastor sobre
a tarefa de “pôr em ordem” o que Paulo havia deixado inacabado nas igrejas de
Creta. Outro ponto importante é saber que essa epístola tem algumas
características especiais: (1) Ela possui dois resumos sobre a natureza da
salvação em Jesus Cristo (2.11-14; 3.4-7); (2) A igreja e o ministério de Tito
deveriam estar edificados sobre firmes alicerces espirituais e éticos (2.11-15);
(3) Contém uma das duas listas do Novo Testamento sobre as qualificações
necessárias ao ministério de uma igreja (1.5-9; cf. 1Tm 3.1-13). Além dessas
informações, para aprofundá-las, pesquise em bons comentários bíblicos sobre o
panorama dessa epístola.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
Com esta lição estaremos iniciando o estudo da Epístola de
Tito. Timóteo recebeu a incumbência de exortar uma igreja que estava sofrendo
com os ataques dos falsos mestres. A missão de Tito era semelhante a de
Timóteo, mas com um encargo a mais, que foi o de estabelecer presbíteros, “em
cada cidade”, pondo “em ordem” a Igreja. Paulo mostra, na Carta a Tito, que não
era apenas pregador, ensinador e “doutor dos gentios”, mas também um
administrador eclesiástico.
PONTO CENTRAL
A epístola de Paulo a Tito demonstra com vigor as
qualificações honestas para quem se pretende pastor.
I. A EPÍSTOLA ENVIADA A TITO
1. O intento da Epístola. Qual era o principal propósito da
Epístola de Tito? O objetivo de Paulo era dar conselhos ao jovem pastor Tito a
respeito da responsabilidade que ele havia recebido. Tito recebeu a incumbência
de supervisionar e organizar as igrejas na ilha de Creta. Paulo havia visitado
a ilha com Tito e o deixou ali com esta importante incumbência (v.5).
2. Data em que foi escrita. Acredita-se que foi escrita no
ano de 64.d.C., aproximadamente. A carta a Tito foi escrita na mesma época da
Primeira Carta a Timóteo. Provavelmente foi redigida na Macedônia, durante as
viagens que Paulo fez quando esteve sob a custódia dos romanos.
3. Um viver correto. Como ministro do evangelho, Paulo exige
ordem na igreja e que os irmãos vivam de maneira correta, santa. Segundo a
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, a ilha de Creta era conhecida pela
preguiça, glutonaria e maldade de seus habitantes. Ao aceitar a Cristo como
Salvador, o novo convertido torna-se santo pela lavagem da regeneração do
Espírito (Tt 3.5), por meio da Palavra de Deus (Ef 5.26). A santificação é
também um processo gradual e contínuo que conduz ao aperfeiçoamento do caráter
e da vida espiritual do crente, tornando-o participante da natureza divina (2Pe
1.4). Sem a santificação, jamais alguém verá a Deus (Hb 12.14).
SÍNTESE DO TÓPICO (I)
A epístola objetivava dar instruções ao jovem pastor Tito a respeito
da responsabilidade que ele havia recebido de Paulo. A carta foi escrita
aproximadamente em 64 d.C..
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Tito, como 1 e 2
Timóteo, é uma carta pessoal de Paulo a um dos seus auxiliares mais jovens. É
chamada de ‘epístola pastoral’ porque trata de assuntos relacionados com ordem
e o ministério na igreja. Tito, um gentio convertido (Gl 2.3), tornou-se íntimo
companheiro de Paulo no ministério apostólico. Embora não mencionado
nominalmente em Atos (por ser, talvez, irmão de Lucas), o grande relacionamento
entre Tito e o apóstolo Paulo vê-se (1) nas treze referências a Tito nas
epístolas de Paulo, (2) no fato de ele ser um dos convertidos e fruto do
ministério de Paulo (1.4; como Timóteo), e um cooperador de confiança (2Co
8.23), (3) pela sua missão de representante de Paulo em pelo menos uma missão
importante a Corinto durante a terceira viagem missionária do apóstolo (2Co
2.12,13; 7.6-15; 8.6,16-24), e (4) pelo seu trabalho como cooperador de Paulo
em Creta (1.5)” (Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD, 1995, pp.1886-87).
II. O PASTOR PRECISA PROTEGER O REBANHO DE DEUS
1. Qualificação dos
pastores. Em sua carta a Tito, Paulo enfatiza as qualificações do bispo, em
relação a família, como homem casado, fiel à sua esposa e na criação de seus
filhos de forma exemplar (v.6). Paulo diz que os filhos dos ministros,
presbíteros ou pastores, não devem ser “acusados de dissolução”, nem de serem
“desobedientes”. No original, tais adjetivos vêm de anupotaktos, “não sujeito”,
“indisciplinado”, “desobediente”. O exemplo mau dos filhos do sacerdote Eli é
referência negativa para a família dos pastores (1Sm 2.12,31). Paulo mostra que
o bispo deve ser uma pessoa íntegra, irrepreensível, “como despenseiro da casa
de Deus” (v.7). Por outro lado, ensina também que o bispo não pode ser
“soberbo”, “iracundo”, “dado ao vinho”, “não espancador”, “cobiçoso de torpe
ganância” (vide os mercantilistas na atualidade que só trabalham por dinheiro).
Paulo instrui que o obreiro precisa ser “[...] dado à hospitalidade, amigo do
bem, moderado, justo, santo, temperante” (Tt 1.8).
2. Crentes, porém problemáticos. Paulo ressalta o respeito
que o presbítero deve ter à doutrina e a autoridade ministerial para argumentar
com os contradizentes (vv.9,10). Entre os crentes da igreja de Creta, haviam os
“complicados” e “contradizentes”, “faladores”, tipos não raros em igrejas nos
tempos presentes. Mas o apóstolo indicou a maneira de tratá-los. Aos
contradizentes e desobedientes ao ensino da Palavra de Deus, Paulo demonstra
não ter nenhuma afinidade com eles, pois são perigosos, não só para a igreja
local, mas para as famílias cristãs, e devem receber a admoestação e repreensão
à altura: “[...] aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas
inteiras, ensinando o que não convém, por torpe ganância” (v.11). O fato de
tais falsos crentes terem espaço para transtornar “casas inteiras” se devia à
realidade das igrejas cristãs em seus primórdios. Elas funcionavam, em grande
parte, nas residências dos convertidos (Rm 16.5; 1Co 16.19; Cl 4.15). Além de
desordenados, eles são “faladores” e murmuradores.
3. Não dar ouvidos a ensinos falsos. Tito, na condição de
“supervisor”, estabelecendo igrejas, “de cidade em cidade”, tinha que ministrar
a palavra de edificação e advertência contra os falsos cristãos. Deveria
repreendê-los de modo veemente. Na verdade, eles eram desviados da verdade.
Mais adiante, Paulo resume como tratar os desviados e hereges: “Ao homem
herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o” (Tt 3.10).
SÍNTESE DO TÓPICO (II)
A qualificação dos
pastores, segundo a epístola, é fundamental ser observada para que sejam
competentes no relacionamento com os crentes problemáticos.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“As qualificações dos
presbíteros (1.6-9)
As qualificações no verso 6, de acordo com o idioma
original, são condições ou questões indiretas relativas aos candidatos que
estão sendo considerados para o ministério. O grego traduz literalmente:
‘Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis,
que não possam ser acusados de dissolução [desperdício de dinheiro] nem são
desobedientes’ — este pode ser considerado como um candidato ao presbitério.
Paulo parece estar usando as palavras ‘ancião/presbítero’
(presbyteros, v.5) e ‘líder/bispo’ (episkopos, v.7) de modo intercambiável.
Neste primeiro período da história da Igreja, os ofícios ministeriais eram
variáveis e indistintos.
Paulo chama os bispos de ‘despenseiros da casa de Deus’. Os
despenseiros (pessoas encarregadas de administrar os negócios de uma casa) eram
bem conhecidos daqueles que viveram no primeiro século. Uma vez que tais
pessoas tinham perante o dono da casa a responsabilidade de cuidar desta, era
necessário que fossem irrepreensíveis. Note também que os bispos não são
simplesmente responsáveis perante Deus como seus servos, cuidando das coisas de
Deus” (Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD,
2004, p.1509).
III. A PERCEPÇÃO DA PUREZA PARA OS PUROS E PARA OS IMPUROS
1. Tudo é puro para os puros (v.15). Paulo diz que “todas as
coisas são puras para os puros” (Tt 1.15), pois esses procuram viver segundo a
Palavra de Deus. Aqueles que vivem de modo santo não veem mal em tudo, pois
seus olhos são bons, santos. Isso é reflexo de suas mentes e corações bondosos.
Deus nos chamou para sermos santos em todas as esferas e aspectos da nossa vida
(1Pe 1.15). Quem despreza esse ensino não despreza ao homem, mas sim a Deus.
2. Nada é puro para os impuros (v.15). De fato, para os
“contaminados e infiéis”, tudo o que eles pensam e praticam é de má natureza. O
motivo pelo qual “nada é puro para os contaminados” é porque “confessam que
conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes,
e reprovados para toda boa obra” (v.16). Esses são hipócritas e maliciosos,
pois dizem uma coisa e fazem outra.
3. Conhecem a Deus, mas o negam com as atitudes (v.16).
Atualmente muitos dizem conhecer a Deus, porém, se olharmos para suas atitudes
veremos que estes nunca conheceram ao Senhor. A nossa conduta revela a nossa fé
e o nosso relacionamento com Deus. O que as pessoas aprendem com você ao
observar a sua conduta na igreja e fora dela?
SÍNTESE DO TÓPICO (III)
O apóstolo admoesta
que para os puros, tudo é puro; para os impuros, nada é puro. Há quem diga que
conhece a Deus, mas o nega com suas atitudes: isso é perfeitamente possível.
CONCLUSÃO
A administração de
uma igreja requer a observância de preceitos e diretrizes, emanadas da Palavra
de Deus, o maior e melhor “manual de administração eclesiástica”. Por isso,
Paulo escreveu três cartas pastorais, visando o estabelecimento, a organização
e o crescimento sadio da Igreja do Senhor Jesus.
PARA REFLETIR
A respeito das Cartas
Pastorais:
Qual era o propósito da Epístola de Tito?
Dar conselhos ao jovem pastor Tito a respeito da
responsabilidade que ele havia recebido.
Qual era a incumbência de Tito?
Supervisionar e organizar as igrejas na ilha de Creta.
Em que ano a Epístola de Tito foi escrita?
Aproximadamente no ano 64 d.C.
Por que para os puros tudo é puro?
Pois estes procuram viver segundo a Palavra de Deus.
Por que nada é puro para os impuros?
Porque “confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as
obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda boa obra”
(v.16).
SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO
A organização de uma
igreja local
Segundo os
estudiosos, a epístola do apóstolo Paulo a Tito foi escrita aproximadamente no
64 d.C., e provavelmente, foi redigida na Macedônia, uma província que fazia
fronteira com a Grécia. Por certo, a carta foi escrita no tempo em que Paulo
estava sob a custódia dos soldados romanos.
Nesta epístola, podemos dizer que há pelo menos quatro
assuntos principais ensinado pelo apóstolo Paulo:
(1) O ensino sobre o caráter
e as qualificações espirituais necessárias a todos os que são separados para o
ministério na igreja — isto é, “homens piedosos”, “de caráter cristão
comprovado” e “bem sucedidos na direção da sua família” (1.5-9);
(2) estímulo a
Tito para ensinar a “sã doutrina”, repreender e silenciar os falsos mestres
(1.10—2.1);
(3) descrição de Paulo para Tito do devido papel dos anciões
(2.1,2), das mulheres idosas (2.3,4), das mulheres jovens (2.4,5), dos homens
jovens (2.6-8) e dos servos (2.9,10) na comunidade cristã em Creta;
(4) por
último, o apóstolo enfatiza que as boas obras e uma vida de santidade a Deus
são o devido fruto da fé genuína (1.16; 2.7,14).
Mediante essa lista de requisitos, notamos o quanto é
importante que, em primeiro lugar, quem se sente vocacionado para um chamado
ministerial, acima de tudo, seja reconhecido pela Igreja de Cristo. O
ministério na vida de uma pessoa não é algo oculto, ou de conhecimento apenas
para quem o deseja, mas é manifesto, reconhecido pela comunidade local a quem
ele serve. O ministério de Deus na vida de um vocacionado também não é
confirmado por uma só pessoa, mas confirmado e aprovado pela Igreja de Cristo
reunida naquela comunidade local. O ministério vocacional de um escolhido por
Deus, que ama o Senhor acima de todas as coisas, tem de ser reconhecido pelo
Corpo de Cristo, a igreja local.
Mas é preciso a igreja local saber discernir quem é de quem
não é vocacionado para o ministério. Para isso, o nosso Deus manifestou a sua
vontade nas Escrituras por intermédio do apóstolo Paulo sobre as
características de como deve ser uma pessoa vocacionada para o santo
ministério. A Igreja de Cristo não pode se furtar dessa responsabilidade, pois
segundo a herança da tradição da Reforma Protestante: não há um sacerdote como
representante de Deus para o povo; muito pelo contrário, em Cristo, todos somos
sacerdotes, a nação santa e o povo adquirido para propagar o Evangelho.
SUBSIDIOS
UM COLABORADOR FIEL
Tito 1:1-4
(continuação)
Não sabemos muito a respeito de Tito, a quem esta Carta se
dirige, mas por diversas referências a ele, surge a descrição de um dos
ajudantes mais valiosos e em quem Paulo mais confiava. Paulo o chama
"verdadeiro filho", de modo que é muito provável que Paulo mesmo o
tenha convertido, possivelmente em Icônio.
Tito foi o acompanhante de uma época difícil e má. Quando
Paulo visitou Jerusalém, uma Igreja que suspeitava dele e que estava preparada
para desconfiar dele e ter aversão dele, foi Tito a quem levou com ele, junto a
Barnabé (Gálatas 2:1). Um dos amigos de Dundas, o famoso escocês, disse a
respeito dele: "Dundas não é um orador; mas sairá para acompanhar você no
pior dos tempos". Tito era assim. Quando Paulo devia enfrentar algo, Tito
estava a seu lado.
Tito era o homem para qualquer tarefa dura. Quando o
problema em Corinto tinha chegado a seu clímax, Paulo enviou Tito a esta Igreja
com uma das Cartas mais severas que escreveu (2 Coríntios 8:16). Tito
claramente tinha a fortaleza mental e a dureza de fibra que lhe permitia
enfrentar e dirigir uma situação difícil. Há dois tipos de pessoas: as que
podem fazer com que uma situação má piore, e as que conseguem fazer ordem do
caos e paz da contenda. Tito era a pessoa para ser enviada a um lugar onde
houvesse problemas.
Tito tinha o dom da administração prática. Paulo o escolheu
para organizar a coleta para os membros pobres da Igreja de Jerusalém (2
Coríntios 8:6, 10). É claro que Tito não tinha o dom da oratória, mas era um
homem para a administração de tarefas práticas. A Igreja deveria agradecer a
Deus pela gente a qual recorremos quando queremos que se faça bem um trabalho.
Paulo chama Tito com
certos grandes nomes.
Chama-o seu verdadeiro filho. Isso deve significar que Paulo
o tinha convertido, era seu filho na fé (Tito 1:4). Nada neste mundo dá mais prazer a um pregador e a um mestre que
ver alguém a quem ele ensinou e capacitou, convertendo-se numa pessoa útil
dentro da Igreja. Tito era o filho que trazia alegria ao coração de Paulo, seu
pai na fé.
Chama-o seu irmão (2 Coríntios 2:13) e companheiro e
colaborador (2 Coríntios 8:23) O grande dia para um pregador ou um mestre é
aquele em que seu filho na fé se converte em seu irmão na fé, quando aquele que
ensinou, treinado e nutrido está capacitado para tomar seu lugar no trabalho da
Igreja, não já como um menor mas sim como um igual.
Diz que Tito procedia com o mesmo espírito (2 Coríntios
12:18). Paulo sabia que Tito consideraria as coisas da mesma maneira que ele o
teria feito. Feliz é o homem que tem um lugar-tenente a quem pode confiar sua
tarefa, seguro de que estará feita da mesma maneira em que ele teria gostado de
fazê-la.
Paulo dá a Tito uma grande missão. Envia-o a Creta para ser
exemplo para os cristãos que ali havia (Tito 2:7). O maior elogio que Paulo
outorgou a Tito foi o de enviá-lo a Creta, não a falar a respeito do que
deveria ser um cristão, mas sim a mostrá-lo. Não poderia haver uma
responsabilidade nem um carinho maior que esse.
Foi feita uma sugestão muito interessante. 2 Coríntios 8:18
e 2 Coríntios 12:18 diz que quando Tito foi enviado a Corinto outro irmão o
acompanhou. Na passagem anterior esse irmão é descrito como ao "irmão que
todas as Igrejas elogiam". Identifica-se usualmente a esse irmão com
Lucas; e sugeriu-se que Tito era o irmão de Lucas. É um fato estranho que nunca
se mencione a Tito em Atos; mas sabemos que Lucas escreveu Atos, e que muitas
vezes relata a história na primeira pessoa do plural: "Fizemos isto",
ou "Fizemos aquilo, e sugeriu-se que nestas passagens inclui a Tito. Não
podemos dizer como certo se tal sugestão é correta, mas certamente Tito e Lucas
se parecem no fato de que ambos eram homens para o serviço prático.
Na Igreja Ocidental Tito é lembrado em 4 de janeiro, e na
Oriental em 25 de agosto.
O ANCIÃO DA IGREJA
Tito 1:5-7
Já estudamos em detalhe as qualidades de um ancião tal como
estão apresentadas por Paulo em 1 Timóteo 3:1-7. Portanto, não é necessário que
as examinemos em detalhe novamente.
Paulo tinha tido sempre o costume de ordenar anciãos nem bem
se fundava uma igreja (Atos 14:23). Creta era uma ilha em que havia muitas
cidades. Homero a chamava "Creta das cem cidades". A Igreja cristã
necessita uma organização e líderes. Paulo tinha o princípio de que se devia
alentar e treinar a suas pequenas igrejas para que pudessem serem suficientes a
si mesmos o antes possível.
Nesta lista esta lista repetida das qualidades de um ancião,
acentua-se especialmente uma coisa. O ancião deve ser uma pessoa que tenha
ensinado e treinado a sua própria família na fé. O Concílio de Cartago
estabeleceu mais tarde: "Os bispos, os anciãos e os diáconos não serão
ordenados em suas funções antes de ter feito com que todos os de sua casa sejam
membros da Igreja". O cristianismo começa em casa. Não há virtude no homem
nem na mulher que por estar tão ocupados na tarefa pública descuidam seu
próprio lar. Todo o serviço da igreja no mundo não compensará a negligência na
própria família.
Paulo utiliza uma palavra muito vívida. A família de um
ancião deverá ser tal que não se a possa acusar de dissolução. A palavra grega
é asotia. O homem asotos é aquele incapaz de economizar; é o homem gastador e
extravagante, que dedica seu caudal aos prazeres pessoais. É a palavra
utilizada em Lucas 15:13 para referir-se à vida desenfreada do filho pródigo. O
homem que é asotos destrói sua riqueza e finalmente se arruína a si mesmo.
Aristóteles, o maior dos mestres de ética da Grécia, sempre descreveu uma
virtude como o meio entre dois extremos; a virtude para ele era sempre o feliz
termo médio. Por um lado está a avareza, e por outro a asotia, a extravagância
esbanjadora e egoísta. A casa de um
ancião nunca deve ser culpada de dar mau exemplo de esbanjamento descuido e
pródigo nos prazeres pessoais.
Ainda mais, a família de um ancião não deve ser rebelde.
Nada pode compensar a falta de controle paterno. A criação dos filhos, em
última instância, está nas mãos do pai, e não há substitutos para a formação
que só um pai pode dar. Falconer cita um dito a respeito da casa de Tomé Mouro:
"Controla a sua família com facilidade: sem tragédias, sem discussões. Se
for iniciada uma disputa, resolve-a em seguida. Toda sua casa respira
felicidade, e tudo aquele que entra nela os encontra na melhor disposição de
receber seu visita." O verdadeiro campo de formação para o ancião está
tanto no lar como na Igreja.
O QUE O ANCIÃO NÃO
DEVE SER
Tito 1:7
Este é um resumo das qualidades que não deve possuir um
ancião da Igreja; sua vida deverá estar livre delas. Cada uma das palavras
utilizadas aqui é muito descritiva. Consideremos uma a uma.
(1) Não deve ser soberbo. A palavra grega é authades, que
significa literalmente sentir prazer em si mesmo. O homem authades foi descrito
como alguém que está tão contente consigo mesmo que não se agrada de ninguém,
nem se preocupa com agradar a ninguém. R. C. Trench diz que tal pessoa:
"Obstinadamente defende sua própria opinião, ou afirma seus próprios
direitos, enquanto descuida os direitos, as opiniões e os interesses dos
demais."
Os escritores de ética gregos tinham muito a dizer a
respeito desta falta de authadeia. Aristóteles, que definiu sempre a virtude
como o termo médio entre os extremos, pôs num extremo o homem que agrada a
todos (areskos) e no outro aquele que não agrada a ninguém (authades), e entre
ambos o homem que tem na vida uma dignidade verdadeira e própria (semmos).
Disse do authades que é a pessoa que não conversa nem se relaciona com ninguém.
Eudemo disse que o authades era a
pessoa que "não regula sua vida com respeito a outros, mas sim
despreza". Eurípides disse que o authades era brusco com seus concidadãos
porque discriminava segundo a cultura. Filodemo disse que sua personalidade
estava composta por partes iguais de presunção, arrogância e desprezo. Sua
presunção o fazia pensar muito de si mesmo, seu desprezo o fazia pensar que
outros eram pouca coisa; e sua arrogância o fazia agir baseando-se em sua
estimativa de si mesmo e não dos demais.
Claramente a pessoa authades é desagradável. É uma pessoa
intolerante, que condena tudo o que não pode compreender, que pensa que não há
outra forma de fazer as coisas que não seja a sua, que crê que não existe outro
caminho ao céu que não seja o seu, que descuida os sentimentos dos demais e
despreza as crenças dos outros. Tal qualidade, como disse Lock: "É fatal
para os homens livres." Nenhum homem cujo caráter seja depreciativo,
arrogante e intolerante está capacitado para ser funcionário da Igreja.
(2) Não deve ser iracundo. A palavra grega é orgilos. Há
duas palavras gregas que significam irritação. Uma é thumos, que vem de uma
raiz que significa ferver. Thumos é a irritação que estala rapidamente, e se
calma da mesma maneira, como o fogo na palha. Está orge, que é substantivo
conectado com o adjetivo orgilos. Orge significa irritação crônica. Não é a
irritação repentina, mas sim a ira que se alimenta para mantê-la desperta. Um
rapto de irritação é algo desventurado; mas esta ira de longa vida, alimentada
deliberadamente e mantida a propósito é ainda pior. O homem que nutre dentro de
seu coração uma ira de longa vida contra outros não está preparado para ser
funcionário da Igreja.
(3) Não deve ser dado ao vinho. A palavra em grego é paroinos,
que significa literalmente ser indulgente com o vinho. Mas a palavra ampliou
seu significado até que chegou a descrever toda conduta ultrajante. Os judeus,
por exemplo, utilizavam-na para referir-se à conduta dos judeus que se tinham
casado com mulheres midianitas; os
cristãos para referir-se àqueles que tinham crucificado a Cristo. A
palavra descreve o caráter do homem que, até em seus momentos sóbrios age com a
falta de autocontrole e a atrocidade de um homem bêbado.
(4) Não deve ser espancador. A palavra é plektes, que
significa literalmente espancador. Pareceria que na Igreja primitiva havia
bispos muito ciumentos que corrigiam os membros que se desviavam do rebanho,
com violência física, porque o Cânon Apostólico estabelecia: ''Ordenamos que se
deponha o bispo que espanca um crente que tenha errado." Pelágio diz:
"Não se pode espancar aquele que seja discípulo de Cristo, quem, ao ser
golpeado, não respondeu com nenhum golpe." Os gregos mesmos ampliaram o
significado desta palavra para incluir, não só a violência na ação, mas também
a violência na palavra. A palavra chegou a referir-se a uma pessoa que intimida
os seus semelhantes, e esta bem poderia ser a tradução em nossa passagem. O
homem que abandona o amor e recorre à violência na ação ou na palavra não está
preparado para ser um funcionário da Igreja cristã.
(5) Não deve ser ambicioso de lucros desonestos. A palavra é
aischorokerdés, e descreve a pessoa que não se preocupa dos meios que usa para
ganhar dinheiro, enquanto o faça. Acontece que os cretenses eram famosos por
esta falta. Polibio disse: "São tão dados a obter lucros desonestos que
entre os cretenses não se considera desonesto nenhum tipo de lucro."
Plutarco disse referindo-se a eles que se apegavam ao dinheiro como as abelhas
ao mel. Os cretenses consideravam os lucros materiais como muito mais
importantes que a honestidade e a honra; não lhes importava quanto lhes havia
custado seu dinheiro. O cristão sabe que há coisas que custam muito. O homem
cujo único fim na vida é acumular bens materiais, deixando de lado como o faz,
não está preparado para ser funcionário da Igreja cristã.
O QUE O ANCIÃO DEVE
SER
Tito 1:8-9
A passagem anterior estabelece as coisas que um ancião da
Igreja não deve ser, e esta passagem estabelece o que deve ser. Estas
qualidades necessárias se agrupam em três seções.
(1) Em primeiro lugar, estão as qualidades que um ancião da
Igreja deve mostrar perante outras pessoas. Deve ser hospedador. Em grego a
palavra é philoxenos, que significa literalmente amante das pessoas estranhas.
No mundo antigo havia sempre muita gente que viajava. As pousadas antigas eram
famosas por serem caras, sujas e imorais. Era essencial que o cristão que
viajava encontrasse uma porta aberta nos lares da comunidade cristã. Até o dia
de hoje não há ninguém que necessite mais da fraternidade cristã que o estranho
num lugar desconhecido. A segunda palavra que se utiliza é philagathos, que
significa amante das coisas boas, ou da gente boa, e que Aristóteles utiliza no
sentido de altruísta ou seja, amante das boas ações. Não temos que escolher
entre estes três significados, estão todos incluídos nesta palavra. O
funcionário cristão deve ser uma pessoa cujo coração responda ao bem que há em
toda pessoa, em qualquer lugar e em qualquer ação em que a encontre.
(2) Em segundo lugar, vem um grupo de termos que nos
assinalam as qualidades que o funcionário cristão deve ter dentro de si mesmo.
Deve ser sóbrio (sophron). Eurípides chama esta qualidade "o melhor dom
que os deuses deram aos homens". Sócrates a chama "a pedra basal da
virtude". Xenofonte diz que era o espírito que evitava o mal, não só
quando o mal podia ser visto, mas também quando ninguém o podia perceber.
Trench a define como "o domínio completo sobre as paixões e os desejos, de
modo que não lhes seja permitido ir além do que a lei e a razão correta
admitiam e passavam". É o adjetivo que se aplica à pessoa, como diziam os
próprios gregos: "cujos pensamentos salvam". O funcionário cristão
deve ser uma pessoa que utilize e controle
sabiamente cada instinto e cada paixão de seu ser. Deve ser dikaios, que
significa justo. Os gregos definiam o homem justo como aquele que dá aos homens
e aos deuses o que lhes corresponde. O funcionário cristão deve ser tal que
outorgue aos homens o respeito e a Deus a reverência que lhes corresponde. Deve
ser santo (hosios). A palavra grega é difícil de traduzir, porque descreve o
homem que reverencia a decência fundamental da vida, as coisas que vão além de
qualquer lei ou norma feita pelo homem. Deve ser dono de si mesmo. A palavra
grega é egkrates, que descreve a pessoa que obteve o completo autocontrole.
Qualquer pessoa que sirva a outros deve, em primeiro lugar, dominar-se a si
mesmo.
(3) Finalmente, há uma descrição das qualidades do
funcionário cristão dentro da Igreja. Deve poder exortar os membros da Igreja.
A marinha inglesa tem um regulamento que diz que nenhum oficial falará com
desalento a nenhum outro oficial enquanto leva a cabo seus tarefas. Sempre há
algo equivocado na religião, pregação ou ensino que tem o efeito de desalentar
a outros. A função do verdadeiro mestre e pregador cristão não é a de levar o
homem ao desespero mas sim a de alentá-lo na esperança. Deve poder convencer os
que se opõem à fé. A palavra grega é elegchein e tem muito significado. Quer
dizer lhe responder a uma pessoa de tal maneira que se veja obrigada a ver e
admitir seus erros.
Trench diz que significa: "Repreender a outra pessoa,
com um desdobramento tão efetivo das armas vitoriosas da verdade, que o leve
sempre à confissão de fé, ao menos à convicção de seu pecado." Demóstenes
disse que descreveria a situação em que uma pessoa demonstra a verdade
irrefutável das coisas que disse. Aristóteles disse que significa provar que as
coisas não podem ser de outra maneira a que se assinalou. A resposta cristã
significa muito mais que desafiar. Significa muito mais que jogar numa pessoa
palavras irritantes e condenatórias. Significa falar a ela de tal maneira que
veja o erro de seu caminho e aceite a verdade. O fim da reprimenda cristã não é
a de humilhar mas sim a de permitir que
a pessoa veja, reconheça e admita o dever e a verdade às quais foi cego ou
desobediente.
OS FALSOS MESTRES DE
CRETA
Tito 1:10-11
Aqui temos uma descrição dos falsos mestres que estavam
causando problemas em Creta. Os piores eram aparentemente judeus. Estes judeus
tentavam persuadir os conversos cretenses de duas coisas. Uma era a idéia de
que a simples história de Jesus e a Cruz não era suficiente, mas sim para ser
realmente sábios necessitavam todas as histórias sutis, e as longas
genealogias, e as alegorias elaboradas dos rabinos. O que é pior,
ensinavam-lhes que a graça não é suficiente, mas sim para ser realmente bons
teriam que ter em conta todas as normas e regulamentos a respeito das comidas e
as lavagens que eram tão características no judaísmo. O perigo destes falsos
mestres era que buscavam persuadir os homens, dizendo que necessitavam algo
mais que Cristo e a graça para ser salvos. Eram intelectuais para aqueles que a
verdade de Deus era muito simples e muito boa para ser certa.
As características destes falsos mestres se mencionam uma
por uma.
Eram contumazes; eram soldados infiéis que não queriam
obedecer as ordens. Não queriam aceitar a guia da Igreja; não queriam aceitar
seu credo; não queriam aceitar o controle da Igreja. É perfeitamente certo que
a Igreja não busca impor sobre os homens uma uniformidade de crenças, nem pede
aos homens que abandonem suas próprias mentes e deixem que a Igreja pense por
eles; mas há certas coisas em que a pessoa deve crer para ser cristão, e o
maior destas é a suficiência de Cristo. Quando alguém questiona isto, deve ser
silenciado na Igreja. Até dentro da Igreja Protestante não se eliminou a
disciplina.
Eram faladores de vaidades; a palavra é mataiologoi, e o
adjetivo mataios, vão, vazio, inútil, era aplicado à adoração pagã. A
idéia principal é que se refere a um
tipo de adoração que não produz o bem na vida. Esta gente em Creta falava
muito, mas toda sua conversa era ineficaz para levar alguém mais um passo perto
da bondade. Os cínicos estavam acostumados a dizer que todo o conhecimento que
não podia ser aproveitado pela virtude era vazio e vão. O mestre que
simplesmente provê a seus alunos de um fórum para o prazer intelectual e a
discussão especulativa ensina em vão.
Eram enganosos. Em lugar de levar os homens à verdade,
afastavam-nos dela. Em lugar de afirmar as pessoas na fé, lentamente as
desgastavam.
Seu ensino transtornava casas inteiras. Há duas coisas que
devemos notar aqui. Em primeiro lugar, seu ensino era fundamentalmente
trastornador. É certo que a verdade deve muitas vezes fazer com que se
reconsiderem idéias aceitas. É certo que o cristianismo não escapa às dúvidas e
às perguntas, mas sim as enfrenta de maneira justa. É certo que a verdade
muitas vezes sacode o homem mentalmente; mas também é certo que o ensino que
termina em nada mais que dúvida e questionamentos é um mau ensino. No
verdadeiro ensino, da confusão mental deveria surgir no final uma segurança
nova e maior. Em segundo lugar, transtornavam casas inteiras. Isto quer dizer
que tinham uma má influência sobre a vida familiar. Qualquer ensino que tenda a
desbaratar a família é falsa. A Igreja cristã está edificada sobre a base da
família cristã.
Seu ensino tinha como fim o lucro. Importava-lhes mais o que
obteriam das pessoas a quem ensinavam que o que podiam semear nelas. Parry
disse que esta é sem dúvida a tentação que espreita o mestre profissional.
Quando um mestre ou um pregador considera sua função como uma forma de obter
progresso e lucro pessoais, encontra-se numa condição perigosa.
Devemos notar nesta passagem um ponto final. A estes homens
é preciso fazê-los calar. Isto não implica que os deve silenciar pela violência
ou a perseguição. A palavra grega utilizada (epistomizein) significa tampar a boca, mas converteu-se na
palavra corrente para dizer silenciar uma pessoa com a razão. A maneira de
combater o ensino falso é oferecer o verdadeiro e único ensino irrefutável de
uma vida cristã.
UMA MÁ REPUTAÇÃO
Tito 1:12
Ninguém tinha uma reputação pior no mundo antigo que os
cretenses. Os povos de pior fama no mundo antigo eram os cretenses, os
silicianos e os capadocios. Os cretenses eram famosos como bêbados, insolentes,
mentirosos, indignos de confiança alguma e glutões.
Sua avareza era proverbial. Polibio disse: "Os
cretenses devido a sua avareza inata, vivem num estado perpétuo de disputa
privada, contenda pública e luta civil... e em poucos lugares se encontrarão
pessoas mais enganosas e falsas que os cretenses." Escreve a respeito deles:
"O dinheiro é tão valorado entre eles, que não só se pensa que é
necessário possuí-lo, mas sim é altamente recomendado fazê-lo; e em realidade a
cobiça e a avareza são tão nativas em Creta, que são os únicos no mundo entre
os que todas as afrontas têm que ver com lucros."
Polibio nos fala a respeito de um certo pacto que um traidor
chamado Bolis fez com um dirigente chamado Cambilo, que era também cretense.
Bolis aproximou-se de Cambilo "com toda a sutileza de um cretense".
"Este foi então o tema da discussão entre eles, num verdadeiro espírito
cretense. Nunca tomaram em consideração salvar à pessoa em perigo, nem suas
obrigações de honra para com aqueles que lhes tinham confiado a empresa, mas
sim confinaram a discussão totalmente a questões de sua própria segurança e de
sua própria vantagem. Como ambos eram cretenses não demoraram muito em chegar a
um acordo unânime." O desprezo do historiador grego por estes cretenses se
respira através de toda a passagem.
Tão famosos eram os cretenses que os gregos chegaram a criar
um verbo kretizein, ser cretino, que significava mentir e enganar; e
tinham um provérbio: kretizein pros
Kreta, ser cretino contra Creta, que significava contrapor mentira a mentira,
assim como um diamante corta a outro.
A citação que faz Paulo é em realidade do poeta grego
chamado Epimênides. Viveu cerca do ano 600 a.C. e foi considerado como um dos
sete sábios da Grécia. A primeira frase: "Os cretenses são sempre
mentirosos", ficou famosa por meio de outro e igualmente famoso poeta
chamado Calímaco. Em Creta havia um monumento que se chamava A Tumba de Zeus.
Obviamente o maior dos deuses não podia morrer e ser enterrado numa tumba, e
Calímaco citou isto como um exemplo perfeito da mentira cretense. Os cretenses
eram famosos por serem mentirosos, enganadores, glutões e traidores.
Aqui precisamente está o ponto bonito. Sabendo isto, e
havendo-o experimentado, Paulo não diz a Timóteo: "Deixa-os sozinhos, não
há esperança para eles e todos sabem." Diz: "São maus e todos sabem.
Vá lá e converta-os." Há poucas passagens que demonstram desta maneira o
otimismo do evangelista e missionário cristão, que se nega a considerar a
ninguém como irremediável. Quanto maior é o mal, maior é o desafio. Os cristãos
estão convencidos de que não há nenhum pecado demasiado grande para que a graça
de Jesus Cristo o enfrente e o conquiste.
OS PUROS DE CORAÇÃO
Tito 1:13-16
A grande característica da fé judia era suas milhares de
normas e regras. Isto, isso e aquilo era marcado e assinalado como impuro;
esta, essa e aquela comida eram consideradas tabu; quando o judaísmo e o
gnosticismo se uniam, até o corpo chegava a ser impuro, e o casamento e os
instintos naturais do corpo eram considerados malignos. O resultado inevitável
disto era que se criavam constantemente longas listas de pecados. Era pecado
tocar isto ou aquilo; era pecado comer esta ou aquela comida; até chegou a ser
pecado casar-se e ter filhos. As coisas
que eram boas em si mesmos ou naturais se convertiam em corruptas e
contaminadas. Este tipo de mentalidade simplesmente conseguiu converter coisas
inocentes em pecados, porque à medida que se criavam mais normas e regras, mais
longa se fazia a lista dos possíveis pecados.
De modo que Paulo lança este grande princípio: para o puro
todas as coisas são puras. Já havia dito isto ainda mais definidamente em
Romanos 14:20. Àqueles que estavam constantemente envoltos em questões de
comidas puras e impuras disse: "Todas as coisas são puras." Poderia
ser que a frase não fora só um provérbio; poderia ser que se tratasse de uma
afirmação de Jesus. Quando Jesus estava falando a respeito destas inumeráveis
normas e regras judias, disse: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o
possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina” (Marcos 7:15).
A mente interior e o coração do homem são os que fazem a
diferença. Se alguém for puro em seu coração, todas as coisas são puras para
ele. Se for impuro de coração, faz impuro tudo o que pensa, fala ou toca. Este
era sem dúvida um princípio que os grandes clássicos tinham assinalado muitas
vezes. Horácio disse: "Se a vasilha não for pura, tudo o que se entorne
nela virá a ser amargo." Sêneca disse: "Assim como um estômago doente
altera toda a comida que recebe, a mente escura converte tudo o que se possa
fazer em sua carga e sua ruína. Aos homens maus não chega nada .que seja bom,
não lhes chega nada que em realidade não os danifique. Mudam tudo o que tocam
em sua própria natureza. E até coisas que seriam de lucro para outros se
convertem em coisas perniciosas para eles." A pessoa que tem uma mente
suja faz com que todas as coisas sejam sujas. Pode tomar as coisas mais bonitas
e cobri-las de uma impureza indecente. Pode ver brincadeiras sujas onde não as
há. Mas o homem cuja mente é pura encontra que todas as coisas são puras. É
terrível ter na mente essa lente de sujeira e impureza.
Diz-se que tanto a mente como a consciência destes homens
estão corruptas. A pessoa chega a tomar suas decisões e a formar suas
conclusões utilizando duas faculdades. Usa seu intelecto para pensar as coisas; usa sua consciência para escutar a
voz de Deus. Mas se seu intelecto está torcido e desviado de tal maneira que vê
coisas impuras em todas as partes, e se sua consciência está obscurecida e
emudecida por seu consentimento contínuo com o mal, então nunca poderá tomar
uma decisão correta.
A pessoa deve manter a couraça branca de sua inocência sem
mancha. Se deixar que a impureza infecte sua mente, verá todas as coisas
através de uma névoa de sujeira. Sua mente manchará todo pensamento que penetra
nela; sua imaginação converterá em paixões baixas tudo o que passa por ela;
interpretará mal tudo; dará-lhe um duplo significado a cada afirmação; não
poderá ver o mundo exceto através da sujeira de sua própria mente. Para escapar
da impureza devemos caminhar sempre na presença de Jesus Cristo que tudo limpa.
A VIDA FEIA E INÚTIL
Tito 1:13-16
(continuação)
Quando uma pessoa chega a esta estado de impureza, poderá
conhecer a Deus intelectualmente, mas sua vida é uma negação de seu conhecimento
de Deus. Três coisas se destacam aqui a respeito de tal pessoa.
(1) É abominável. A palavra é bdeluktos. É uma palavra que
se utiliza particularmente para referir-se aos ídolos e imagens pagãs. É a
palavra da qual provém o substantivo bdelugma, abominação. Há algo repulsivo na
pessoa com uma mente curiosa, inquisitiva e obscena, o tipo de pessoa que faz
brincadeiras desprezíveis, e que é um mestre em insinuações sugestivas e sujas.
Sempre há uma beleza simples e essencial na pura limpeza; e sempre há desgosto
perante a presença daquilo que está manchado, sujo e impuro.
(2) É rebelde. Tal pessoa não pode obedecer a vontade de
Deus. Sua consciência está obscurecida, converteu-se em tal coisa que com muita
dificuldade pode ouvir a voz de Deus, e menos ainda obedecê-la. Fez-se incapaz para toda tarefa. Uma pessoa
assim não pode ser nada mais que uma influência perniciosa e maligna, e
portanto não está preparado para ser um instrumento na mão e propósito de Deus.
(3) Esta é outra forma de dizer que alguém se converteu num
homem inútil para Deus e para seus semelhantes. A palavra que se utiliza para
reprovado é interessante. É a palavra adokimos. Descreve uma moeda falsificada
que está abaixo de seu peso. É usada para referir-se a um soldado covarde que
reage com covardia na hora de prova da batalha. É usada para referir-se a um
postulante que foi rechaçado, uma pessoa que os cidadãos consideraram como
inútil e sem valor. Refere-se à pedra que os construtores desprezaram. Se uma
pedra tinha uma falha, a assinalava com uma letra A maiúscula, referindo-se a
adokimos, e era deixada a um lado, como imprestável para ocupar um lugar na
construção.
A prova última da vida é a utilidade, e se uma pessoa vive
pensando e agindo de maneira impura, não é útil nem para Deus nem para seus
semelhantes. Em lugar de ajudar na tarefa de Deus no mundo, estorva-a; e a
inutilidade sempre chama o desastre.
TITO 1.1 VERDADE, QUE É SEGUNDO A PIEDADE.
Aqueles que dizem proclamar o evangelho verdadeiro, devem estar dispostos a ver
sua mensagem julgada à luz do seguinte fato: se ela produz ou não piedade na
vida dos que a aceitam. Nenhuma igreja ou denominação tem o direito de alegar
que a sua mensagem ou doutrina é segundo a "sã doutrina" dos apóstolos
(vv. 9; 2 Tm 1.11-14; 2.2; 3.10-12) e "as sãs palavras de nosso Senhor
Jesus Cristo" (1 Tm 6.3) se essa mensagem ou doutrina não leva seus
seguidores a uma vida de piedade (1.16 nota; 1 Tm 6.3; Hb 1.9; ver 1 Co 13.1).
TITO 1.2 DEUS, QUE NÃO PODE MENTIR. Hb 6.18 - 6.18 É IMPOSSÍVEL QUE DEUS MINTA. Porque é "impossível que Deus minta", sua Palavra e promessas a Abraão são infalíveis (v. 14). Essa fidelidade de Deus aplica-se não somente à sua palavra falada a Abraão, mas também à sua palavra na totalidade das Escrituras. Isto é, por serem as Escrituras a inspirada Palavra de Deus, são sumamente verdadeiras e fidedignas. A veracidade da palavra de Deus é inerente nas palavras e frases das Escrituras. Seus escritores foram guiados pelo Espírito Santo para escrever os manuscritos originais de tal maneira que a transmissão da mensagem de Deus à humanidade foi comunicada sem erro.
TITO 1.5 ESTABELECESSES PRESBÍTEROS, COMO JÁ TE
MANDEI. Todos os ministérios pastorais devem ter como base a mensagem de
Jesus Cristo conforme pregada pelos apóstolos; isso quer dizer, devem
fundamentar-se no padrão apostólico dos versículos 5-9 e 3.1-7. O ministério é
autêntico somente à medida que conserva a Palavra fiel de conformidade com o
ensino do NT (v. 9; At 14.23; ver Ef 2.20).
TITO 1.7 BISPO. As palavras
"presbítero" (gr. presbuteros, v. 5) e "bispo" (gr.
episkopos, v. 7) são equivalentes e se referem ao mesmo cargo eclesiástico.
"Presbítero" indica a maturidade e dignidade espirituais necessárias
ao cargo; "bispo" se refere ao trabalho de supervisionar a igreja
como administrador da casa de Deus.
TITO 1.7 CONVÉM QUE O BISPO SEJA IRREPREENSÍVEL.
Deus requer os mais altos padrões morais para os ministros da Igreja. Deus sabe
que se os líderes não forem irrepreensíveis, a igreja se afastará da justiça
por causa da falta de exemplos piedosos que sirvam como modelos de vida para o
crente.
TITO 1.9 RETENDO FIRME A FIEL PALAVRA. O
presbítero não somente deve estar à altura dos padrões morais e espirituais
citados em 1.6-8, como também deve comprometer-se a reter firme o testemunho
apostólico original a respeito da obra salvífica de Jesus Cristo, amá-la,
conhecê-la e dar sua vida por ela. Isso é essencial por duas razões.
(1) Deve saber ensinar, encorajar e exortar com a Palavra de
Deus a fim de levar os corações e mentes do povo de Deus à sincera devoção a
Cristo, à verdade e à justiça (cf. 2 Tm 4.2).
(2) Deve saber corrigir os que ensinam coisas contrárias às
Escrituras, a fim de conduzi-los à verdade (2 Tm 2.24-26). Se recusarem a
correção, deverá convencer os demais crentes da igreja quanto à falsidade
desses ensinos contrários.
TITO 1.15 TODAS AS COISAS SÃO PURAS. É
provável que Paulo esteja falando a respeito da pureza ritual segundo as leis
judaicas sobre alimentos (cf. Mt 15.10,11; Mc 7.15; 1 Tm 4.3-5). Alguns
ensinadores estavam obcecados em fazer distinção entre comidas
"puras" e "impuras" e ensinavam que a devida observância
dessas coisas era essencial à verdadeira justiça. Desconheciam o verdadeiro
caráter moral, a pureza interior e a justiça exterior (v. 16). Paulo ressalta
que se a pessoa é moralmente pura, para ela a distinção entre comidas
"impuras" e "puras" não tem importância moral. Paulo não
está se referindo a coisas ou ações moralmente erradas, mas apenas à pureza
cerimonial dos judeus.
TITO 1.16 CONFESSAM... MAS NEGAM-NO. Uma das
maiores abominações aos olhos de Deus é professar a fé em Cristo e na esperança
da vida eterna (v. 2) e, ao mesmo tempo, viver em desobediência a Ele e à sua
Palavra (cf. Lc 6.46; Jo 14.12; 15.10-14; 1 Jo 2.4).
OS PASTORES E SEUS
DEVERES
At 20.28 “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre
que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de
Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.”
Nenhuma igreja poderá funcionar sem dirigentes para dela
cuidar. Logo, conforme 14.23, a congregação local, cheia do Espírito, buscando
a direção de Deus em oração e jejum, elegiam certos irmãos para o cargo de
presbítero ou bispo de acordo com as qualificações espirituais estabelecidas
pelo Espírito Santo em 1Tm 3.1-7; Tt 1.5-9. Na realidade é o Espírito que
constitui o dirigente de igreja. O discurso de Paulo diante dos presbíteros de
Éfeso (20.17-35) é um trecho básico quanto a princípios bíblicos sobre o
exercício do ministério de pastor de uma igreja local.
PROPAGANDO A FÉ.
(1) Um dos deveres principais do dirigente é alimentar as
ovelhas mediante o ensino da Palavra de Deus. Ele deve ter sempre em mente que
o rebanho que lhe foi entregue é a congregação de Deus, que Ele comprou para si
com o sangue precioso do seu Filho amado (cf. 20.28; 1Co 6.20; 1Pe 1.18,19; Ap
5.9).
(2) Em 20.19-27,
Paulo descreve de que maneira serviu como pastor da igreja de Éfeso; tornou
patente toda a vontade de Deus, advertindo e ensinando fielmente os cristãos
efésios (20.27). Daí, ele poder exclamar: “estou limpo do sangue de todos”
(20.26). Os pastores de nossos dias também devem instruir suas igrejas em todo
o desígnio de Deus. Que “pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo,
redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2)
e nunca ministrar para agradar os ouvintes, dizendo apenas aquilo que estes
desejam ouvir (2Tm 4.3).
GUARDANDO A FÉ. Além de alimentar o rebanho de Deus, o
verdadeiro pastor deve diligentemente resguardá-lo de seus inimigos. Paulo sabe
que no futuro Satanás levantará falsos mestres dentro da própria igreja, e,
também, falsários vindos de fora, infiltrar-se-ão e atingirão o rebanho com
doutrinas antibíblicas, conceitos mundanos e idéias pagãs e humanistas. Os
ensinos e a influência destes dois tipos de elementos arruinarão a fé bíblica
do povo de Deus. Paulo os chama de “lobos cruéis”, indicando que são fortes,
difíceis de subjugar, insaciáveis e perigosos (ver 20.29; cf. Mt 10.16). Tais
indivíduos desviarão as pessoas dos ensinos de Cristo e os atrairão a si mesmos
e ao seu evangelho distorcido. O apelo veemente de Paulo (20.28-31) impõe uma
solene obrigação sobre todos os obreiros da igreja, no sentido de defendê-la e
opôr-se aos que distorcem a revelação original e fundamental da fé, segundo o
NT.
(1) A igreja verdadeira consiste somente daqueles que, pela
graça de Deus e pela comunhão do Espírito Santo, são fiéis ao Senhor Jesus
Cristo e à Palavra de Deus. Por isso, é de grande importância na preservação da
pureza da igreja de Deus que os seus pastores mantenham a disciplina corretiva
com amor (Ef 4.15), e reprovem com firmeza (2Tm 4.1-4; Tt 1.9-11) quem na
igreja fale coisas perversas contrárias à Palavra de Deus e ao testemunho
apostólico (20.30).
(2) Líderes eclesiásticos, pastores de igrejas locais e
dirigentes administrativos da obra devem lembrar-se de que o Senhor Jesus os
têm como responsáveis pelo sangue de todos os que estão sob seus cuidados
(20.26,27; cf. Ez 3.20,21). Se o dirigente deixar de ensinar e pôr em prática
todo o conselho de Deus para a igreja (20.27), principalmente quanto à
vigilância sobre o rebanho (20.28), não estará “limpo do sangue de todos”
(20.26, ver nota; cf. Ez 34.1-10). Deus o terá por culpado do sangue dos que se
perderem, por ter ele deixado de proteger o rebanho contra os falsificadores da
Palavra (ver também 2Tm 1.14 nota; Ap 2.2).
(3) É altamente importante que os responsáveis pela direção
da igreja mantenham a ordem quanto a assuntos teológicos doutrinários e morais
na mesma. A pureza da doutrina bíblica e de vida cristã deve ser zelosamente
mantida nas faculdades evangélicas, institutos bíblicos, seminários, editoras e
demais segmentos administrativos da igreja (2Tm 1.13,14).
(4) A questão principal aqui é nossa atitude para com as
Escrituras divinamente inspiradas, que Paulo chama a “palavra da sua graça” (20.32).
Falsos mestres, pastores e líderes tentarão enfraquecer a autoridade da Bíblia
através de seus ensinos corrompidos e princípios antibíblicos. Ao rejeitarem a
autoridade absoluta da Palavra de Deus, negam que a Bíblia é verdadeira e
fidedigna em tudo que ela ensina (20.28-31; ver Gl 1.6; 1Tm 4.1; 2Tm 3.8). A
bem da igreja de Deus, tais pessoas devem ser excluídas da comunhão (2Jo 9-11;
ver Gl 1.9).
(5) A igreja que perde o zelo ardente do Espírito Santo pela
sua pureza (20.18-35), que se recusa a tomar posição firme em prol da verdade e
que se omite em disciplinar os que minam a autoridade da Palavra de Deus, logo
deixará de existir como igreja neotestamentária (ver 12.5).
QUALIFICAÇÕES MORAIS
DO PASTOR
1Tm 3.1,2 “Esta é uma palavra fiel: Se alguém deseja o
episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja
irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro,
apto para ensinar.”
Se algum homem deseja ser “bispo” (gr. episkopos, i.e.,
aquele que tem sobre si a responsabilidade pastoral, o pastor), deseja um
encargo nobre e importante (3.1). É necessário, porém, que essa aspiração seja
confirmada pela Palavra de Deus (3.1-10; 4.12) e pela igreja (3.10), porque
Deus estabeleceu para a igreja certos requisitos específicos. Quem se disser
chamado por Deus para o trabalho pastoral deve ser aprovado pela igreja segundo
os padrões bíblicos de 3.1-13; 4.12; Tt 1.5-9. Isso significa que a igreja não
deve aceitar pessoa alguma para a obra ministerial tendo por base apenas seu
desejo, sua escolaridade, sua espiritualidade, ou porque essa pessoa acha que tem
visão ou chamada. A igreja da atualidade não tem o direito de reduzir esses
preceitos que Deus estabeleceu mediante o Espírito Santo. Eles estão plenamente
em vigor e devem ser observados por amor ao nome de Deus, ao seu reino e da
honra e credibilidade da elevada posição de ministro.
(1) Os padrões bíblicos do pastor, como vemos aqui, são
principalmente morais e espirituais. O caráter íntegro de quem aspira ser
pastor de uma igreja é mais importante do que personalidade influente, dotes de
pregação, capacidade administrativa ou graus acadêmicos. O enfoque das
qualificações ministerais concentra-se no comportamento daquele que persevera
na sabedoria divina, nas decisões acertadas e na santidade devida. Os que
aspiram ao pastorado sejam primeiro provados quanto à sua trajetória espiritual
(cf. 3.10). Partindo daí, o Espírito Santo estabelece o elevado padrão para o
candidato, i.e., que ele precisa ser um crente que se tenha mantido firme e fiel
a Jesus Cristo e aos seus princípios de retidão, e que por isso pode servir como
exemplo de fidelidade, veracidade, honestidade e pureza. Noutras palavras, seu caráter
deve demonstrar o ensino de Cristo em Mt 25.21 de que ser “fiel sobre o pouco”
conduz à posição de governar “sobre o muito”.
(2) O líder cristão deve ser, antes de mais nada, “exemplo
dos fiéis” (4.12; cf. 1Pe 5.3). Isto é: sua vida cristã e sua perseverança na
fé podem ser mencionadas perante a congregação como dignas de imitação.
(a) Os dirigentes devem manifestar o mais digno exemplo de
perseverança na piedade, fidelidade, pureza em face à tentação, lealdade e amor
a Cristo e ao evangelho (4.12,15).
(b) O povo de Deus deve aprender a ética cristã e a
verdadeira piedade, não somente pela Palavra de Deus, mas também pelo exemplo
dos pastores que vivem conforme os padrões bíblicos. O pastor deve ser alguém
cuja fidelidade a Cristo pode ser tomada como padrão ou exemplo (cf. 1Co 11.1; Fp
3.17; 1Ts 1.6; 2Ts 3.7,9; 2Tm 1.13).
(3) O Espírito Santo acentua grandemente a liderança do crente
no lar, no casamento e na família (3.2,4,5; Tt 1.6). Isto é: o obreiro deve ser
um exemplo para a família de Deus, especialmente na sua fidelidade à esposa e
aos filhos. Se aqui ele falhar, como “terá cuidado da igreja de Deus?” (3.5).
Ele deve ser “marido de uma [só] mulher” (3.2). Esta expressão denota que o
candidato ao ministério pastoral deve ser um crente que foi sempre fiel à sua
esposa. A tradução literal do grego em 3.2 (mias gunaikos, um genitivo atributivo)
é “homem de uma única mulher”, i.e., um marido sempre fiel à sua esposa.
(4) Conseqüentemente, quem na igreja comete graves pecados
morais, desqualifica-se para o exercício pastoral e para qualquer posição de
liderança na igreja local (cf. 3.8-12). Tais pessoas
podem ser plenamente perdoadas pela graça de Deus, mas perderam
a condição de servir como exemplo de perseverança inabalável na fé, no amor e
na pureza (4.11-16; Tt 1.9). Já no AT, Deus expressamente requereu que os
dirigentes do seu povo fossem homens de elevados padrões morais e espirituais.
Se falhassem, seriam substituídos (ver Gn 49.4; Lv 10.2; 21.7,17; Nm 20.12
nota; 1Sm 2.23 nota; Jr 23.14 nota; 29.23 nota).
(5) A Palavra de Deus declara a respeito do crente que venha
a adulterar que “o seu opróbrio nunca se apagará” (Pv 6.32,33). Isto é, sua
vergonha não desaparecerá. Isso não significa que nem Deus nem a igreja perdoará
tal pessoa. Deus realmente perdoa qualquer pecado enumerado em 3.1-13, se houver
tristeza segundo Deus e arrependimento por parte da pessoa que cometeu tal
pecado. O que o Espírito Santo está declarando, porém, é que há certos pecados
que são tão graves que a vergonha e a ignomínia (i.e., o opróbrio) daquele pecado
permanecerão com o indivíduo mesmo depois do perdão (cf. 2Sm 12.9-14).
(6) Mas o que dizer do rei Davi? Sua continuação como rei de
Israel, a despeito do seu pecado de adultério e de homicídio (2Sm 11.1-21;
12.9-15) é vista por alguns como uma justificativa bíblica para a pessoa
continuar à frente da igreja de Deus, mesmo tendo violado os padrões já
mencionados. Essa comparação, no entanto, é falha por vários motivos.
(a) O cargo de rei de Israel do AT, e o cargo de ministro
espiritual da igreja de Jesus Cristo, segundo o NT, são duas coisas
inteiramente diferentes. Deus não somente permitiu a Davi, mas, também a muitos
outros reis que foram extremamente ímpios e perversos, permanecerem como reis
da nação de Israel. A liderança espiritual da igreja do NT, sendo esta comprada
com o sangue de Jesus Cristo, requer padrões espirituais muito mais altos.
(b) Segundo a revelação divina no NT e os padrões do
ministério ali exigidos, Davi não teria as qualificações para o cargo de pastor
de uma igreja do NT. Ele teve diversas esposas, praticou infidelidade conjugal,
falhou grandemente no governo do seu próprio lar, tornou-se homicida e derramou
muito sangue (1Cr 22.8; 28.3).
Observe-se também que por ter Davi, devido ao seu pecado,
dado lugar a que os inimigos de Deus blasfemassem, ele sofreu castigo divino
pelo resto da sua vida (2Sm 12.9-14).
(7) As igrejas atuais não devem, pois, desprezar as
qualificações justas exigidas por Deus para seus pastores e demais obreiros,
conforme está escrito na revelação divina. É dever de toda igreja orar por seus
pastores, assisti-los e sustentá-los na sua missão de servirem como “exemplo
dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza”
(4.12).
SOBRE A CARTA DE PAULO A TITO
Considerações Preliminares
Tito, como 1 e 2 Timóteo, é uma carta pessoal de Paulo a um dos seus auxiliares mais jovens. É chamada de “epístola pastoral” porque trata de assuntos relacionados com a ordem e o ministério na igreja. Tito, um gentio convertido (Gl 2.3), tornou-se íntimo companheiro de Paulo no ministério apostólico. Embora não mencionado nominalmente em Atos (por ser, talvez, irmão de Lucas), o grande relacionamento entre Tito e o apóstolo Paulo vê-se:
(1) nas treze referências a Tito nas epístolas de Paulo,
(2) no fato de ele ser um dos convertidos e fruto do ministério de Paulo (1.4; como Timóteo), e um cooperador de confiança (2 Co 8.23),
(3) pela sua missão de representante de Paulo em pelo menos uma missão importante a Corinto durante a terceira viagem missionária do apóstolo (2 Co 2.12,13; 7.6-15; 8.6, 16-24), e
(4) pelo seu trabalho como cooperador de Paulo em Creta (1.5). Paulo e Tito trabalharam juntos por um breve período na ilha de Creta (a sudoeste da Ásia Menor, no Mar Mediterrâneo), no período entre a primeira e a segunda prisão de Paulo em Roma (ver introdução a 1 Timóteo). Paulo deixou Tito em Creta cuidando da igreja ali (1.5), enquanto ele (Paulo) seguia adiante para a Macedônia (cf. 1 Tm 1.3). Algum tempo depois, Paulo escreveu esta carta a Tito, incumbindo-o de completar a tarefa em Creta que os dois haviam começado juntos. É provável que Paulo tivesse mandado a carta pelas mãos de Zenas e Apolos, que passaram por Creta, em viagem (3.13).
Nesta carta, Paulo informa sobre seus planos para enviar Ártemas ou Tíquico para substituir Tito dentro em breve. E nessa ocasião Tito devia encontrar-se com Paulo em Nicópolis (Grécia), onde o apóstolo planejava passar o inverno (3.12). Sabemos que isto aconteceu, já que na ocasião posterior, Paulo designara Tito para a Dalmácia, no litoral oriental do mar Adriático (na ex-Iugoslávia), em cuja região ficava
Nicópolis, na Grécia (3.12).
Propósito
Paulo escreveu primeiramente para instruir Tito na sua tarefa de:
(1) pôr em ordem o que ele (Paulo) deixara inacabado nas igrejas de Creta, inclusive a instituição de presbíteros nessas igrejas (1.5);
(2) ajudar as igrejas a crescerem na fé, no conhecimento da verdade e em santidade (1.1);
(3) silenciar falsos mestres (1.11); e
(4) vir até Paulo, uma vez substituído por Ártemas ou Tíquico (3.12).
Visão Panorâmica
Nesta epístola, Paulo examina quatro assuntos principais:
(1) Ensina Tito a respeito do caráter e das qualificações espirituais necessárias a todos os que são separados para o ministério na igreja. Os presbíteros devem ser homens piedosos, de caráter cristão comprovado, e bem sucedidos na direção da sua família (1.5-9).
(2) Paulo manda Tito ensinar a sã doutrina, repreender e silenciar falsos mestres (1.10—2.1). No decurso da carta, Paulo apresenta dois breves resumos da sã doutrina (2.11-14; 3.4-7).
(3) Paulo descreve para Tito (cf. 1 Tm 5.1—6.2) o devido papel dos anciãos (2.1, 2), das mulheres idosas (2.3,4), das mulheres jovens (2.4,5), dos homens jovens (2.6-8) e dos servos (2.9,10).
(4) Finalmente, Paulo enfatiza que as boas obras e uma vida de retidão são o devido fruto da fé genuína (1.16; 2.7,14; 3.1, 8, 14; cf. Tg
2.14-26).
Características Especiais
Três características principais temos nesta epístola:
(1) Dois breves resumos da verdadeira natureza da salvação em Jesus Cristo (2.11-14; 3.4-7).
(2) A igreja e o seu ministério devem estar edificados sobre firmes alicerces espirituais, teológicos e éticos.
(3) Contém uma das duas listas no NT enumerando as qualificações necessárias à direção da igreja (1.5-9; cf. 1 Tm 3.1-13).
FONTE DE PESQUISA:
Comentário Bíblico Popular - Novo Testamento
Comentário Bíblico Esperança Novo Testamento
Comentário Bíblico Willian Barclay Novo Testamento
Biblia de Estudo Pentecostal
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